CEO da Special Dog Company, Erik Manfrim após entrevista
Publicado em: 22 de janeiro de 2022 às 03:29
André Fleury Moraes
Antes mesmo de se tornar a gigante que é hoje, a marca Special Dog já soava bem aos ouvidos dos santa-cruzenses há muito tempo. Conhecida por ser uma empresa que valoriza o trabalhador, é cobiçada quando abre processos seletivos e, é claro, se tornou um símbolo de Santa Cruz do Rio Pardo. No ano passado, faturou nada menos que R$ 1,5 bilhão — provavelmente a maior receita de uma empresa da cidade — e jamais deixou de lado os compromissos que assumiu desde que nasceu no papel.
Os mentores por trás dessa história de sucesso, que dura apenas 20 anos, são os irmãos Erik e Mário Manfrim. Os dois herdaram da família o espírito empreendedor, mas sempre souberam que o caminho não seria nada fácil. Enfrentaram crises, deram a volta por cima e, depois de tentar a vida em outros setores, acertaram em cheio ao apostar em ração animal. Deu no que deu: a Special Dog hoje ocupa posições que muitos do setor cobiçam e está longe de ser uma empresa regional. Não é raro abrir grandes jornalões, especializados ou não, e ver o nome construído pelos irmãos Manfrim grafado em suas páginas.
A Special Dog Company completou seu vigésimo aniversário no ano passado, mesmo ano em que viu seu faturamente crescer exponencialmente. Ao todo, R$ 1,5 bilhão entrou no caixa da empresa. Os índices, no entanto, são reflexo direto da pandemia, garante Erik, CEO da empresa. “A projeção para este ano já está menor”, avalia.
Fature ou não o bilhão, o fato é que nenhuma conquista veio de graça. O patriarca Natale Manfrim Filho — pai de Erik, Mário e Denis —, mantinha em sociedade com os irmãos uma pequena fábrica que moía café. Quando houve a geada de 1975, perdeu boa parte da produção e passou a beneficiar arroz. Um dos irmãos morreu, e outro resolveu trilhar outros caminhos. “Zinho”, como era conhecido Natale, ficou sozinho no negócio. Os filhos, então, toparam o desafio.
“O Denis estudava Direito e eu, Administração. Optei por cursar a faculdade à noite para que pudesse ajudar na empresa durante o dia”, lembra Erik. Na época, o irmão Mário já era formado em Odontologia e trabalhava em Ibaiti, no Paraná. Ele voltaria a Santa Cruz no final de 1985, não como dentista.
Cientes de que o negócio do pai se restringia a uma empresa familiar, os irmãos resolveram alçar novos ares. Começaram a trabalhar com quebrado de arroz. “Comprávamos o produto e enviávamos para a fábrica da Brahma de Agudos”, explica Erik, que recebeu o DEBATE na tarde de quarta-feira, 19.
Na sequência, eles apostaram também em farinha de arroz. Conseguiram um contato com a Nestlé e encaminharam uma amostra à multinacional. Como os irmãos ainda estavam instalados no antigo barracão, próximo à praça Antônio Aloe (antiga Rui Barbosa), receberam a informação de que não havia espaço para produção em escala do produto. Não restou outra opção que não fosse ir a um lugar maior.
Foi aí que veio a ideia de montar a fábrica no que ainda era uma chácara dos Manfrim. O acesso ainda era precário, não havia asfalto e o terreno tinha quase nenhuma construção. “Montamos um barracão e um escritório. Compramos equipamentos e montamos”, lembra. Deu certo: eles se tornaram fornecedores da Nestlé e expandiram a cartela de clientes em pouco tempo. “Foi quando aumentamos o faturamento”, lembra.
O impasse viria três anos depois, quando a Antartica e Brahma, ambos clientes dos irmãos, resolveram parar de comprar farinha de arroz para usar um xarope de milho. Temerosos de que perdessem tudo aquilo que construíram, eles até tentaram criar uma fórmula de xarope a partir do arroz. Ficaram meses a finco buscando a solução, mas desistiram porque era impossível ficar tanto tempo sem renda.
Foi quando passaram a fornecer quirela de arroz para a indústria de ração animal. Na mesma época, eles conheceram um distribuidor de uma fábrica do ramo de Minas Gerais. Morador de Espírito Santo do Turvo, “ele propôs que, depois de levarmos os caminhões carregados com nosso produto, trouxéssemos o dele para a região”, explica Erik.
No Paraná, enquanto isso, pipocavam fábricas de ração animal feita a partir de matéria-prima barata. Como a concorrência se tornou mais acirrada, o rapaz propôs aos irmãos que montassem a própria indústria de pet food. “Ficamos dois anos montando até que, em 2001, ficou pronta”, lembra. Em 7 de fevereiro daquele ano saía o primeiro carregamento da Special Dog. Eram sete toneladas. “Entramos no momento certo, o mercado crescia e seguimos”, diz.
Hoje referência nacional em pet food, a Special Dog também se destaca quando o assunto é qualidade de vida aos colaboradores. “Sempre carregamos uma filosofia de que temos de crescer juntos”, afirma. E o compromisso se estende também à agenda sustentável: a gigante ingressou na Rede Brasil do Pacto Global, iniciativa que reúne o setor empresarial em ações voltadas ao desenvolvimento sustentável.
Engajada na construção de uma comunidade melhor, o grupo também mantém o Centro Cultural Special Dog, iniciativa que leva cultura a centenas de santa-cruzenses, e se engaja em campanhas socioambientais todos os anos.
Internamente, mantém uma comunicação ativa com os colaboradores. Um dos benefícios que a empresa oferece é o estímulo à previdência privada: se o trabalhador deposita 5% do salário no fundo, a Special Dog destina outros 5% ao mesmo fundo.
Com projeções evidentes de expansão, a empresa de Santa Cruz do Rio Pardo superou o crescimento do mercado pet no ano passado. Enquanto o setor avançou 14%, a Special Dog cresceu 16%. Bem avaliada e com crédito suficiente no mercado, Erik não nega que a empresa seja cobiçada por investidores. “Perdi a conta de quantas ofertas recebi”, brinca. Até hoje não aceitou nenhuma.
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