O produtor e feirante Antônio Ezídio Estevão ao lado de sua esposa
Publicado em: 28 de maio de 2022 às 02:24
Atualizado em: 29 de maio de 2022 às 20:57
André Fleury Moraes
O litro do diesel custava R$ 3,50, e o preço do saco de adubo saía por R$ 100 em média quando o produtor Antônio Ezídio Estevão, de Santa Cruz do Rio Pardo, decidiu que venderia um maço de alface por R$ 4.
Era este o valor a partir do qual, vendendo maço por maço, conseguiria bancar os custos envolvendo a produção e transporte da folha. E, é claro, garantiria seu lucro. O cálculo feito pelo agricultor, porém, está mais do que defasado.
Hoje o litro do diesel beira os R$ 7, enquanto o preço do saco de adubo triplicou — custa nada menos do que R$ 300. O preço da alface, entretanto, segue estagnado nos R$ 4.
Aumentar o preço do produto ao consumidor final pode parecer o caminho natural a Antônio. Mas não necessariamente o ideal.
Num cenário em que o poder de compra do brasileiro derrete dia após dia, o produtor teme ver suas vendas despencarem caso tome alguma medida para reduzir o prejuízo com o preço defasado. “Está difícil para todo mundo”, lamenta.
Antônio admite que a margem de lucro diminuiu substancialmente nos últimos tempos, especialmente após a crise causada pela pandemia, mas diz que vai segurar os preços até onde conseguir para evitar a perda de clientes.
Feirante há 30 anos, Antônio é figura carimbada na “Feira da Lua”, que acontece às quartas-feiras durante a tarde, e também na feira de domingo, tradicional evento matinal em Santa Cruz do Rio Pardo.
Apesar do grande movimento que passava por sua barraca na “Feira da Lua” enquanto conversava com a reportagem, o produtor explica que a feira matinal de domingo é mais rentável a ele.
Morador da zona rural, ele é proprietário de um pequeno sítio de onde tira seu sustento. Não nega que sente saudades de uma época em que o dinheiro valia mais — em 2012, lembra Antônio, conseguiu um bom financiamento no banco e pôde comprar um trator zero quilômetro.
O impacto causado pela inflação é grande, admite, mas o produtor consegue contornar parte do prejuízo porque mantém uma boa cartela de clientes. “O movimento é ótimo e ajuda a equilibrar as contas”, diz.
Como o cenário não é dos melhores, o produtor tem evitado gastos desnecessários. “O jeito é segurar o bolso. Mas não posso reclamar”, diz.
O mesmo sentimento tem Ricardo Morgueti Neto, 36, que há dois meses resolveu instalar uma barraca na “Feira da Lua” para vender espetinhos e chope gelado. Ele já trabalhava com assados antes e viu, nos últimos anos, um aumento exponencial no preço do produto.
Diferentemente do hortifruti comercializado por Antônio Ezídio, Ricardo se viu obrigado a repassar o aumento do preço da carne ao consumidor final. Nos últimos dois anos, o preço da carne bovina subiu nada menos do que 133%, segundo um estudo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT).
Apesar do aumento, Morgueti diz não ter percebido grande impacto em suas vendas. Segundo ele, um dos aspectos que beneficia a “Feira da Lua” é o fato de que o evento semanal atende pelo menos três públicos ao longo do dia.
“Por aqui passam os estudantes, que saem da escola e vêm direto à feira, depois o pessoal que sai do trabalho e também os jovens que gostam de passear à noite”, explica.
O fato de não ter um ponto fixo e também não pagar aluguel — para se trabalhar na feira basta uma tenda e outros equipamentos móveis, afinal — ajuda Ricardo a manter o preço estável. Não fosse o bom movimento que recebe, porém, o comerciante talvez tivesse de repensar os valores do cardápio, admite.
Ele acredita, porém, que a “Feira da Lua” possa ter um público ainda melhor caso a prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo viabilize a apresentação de artistas com música ao vivo no local. Foi, aliás, uma das solicitações que enviou à secretária de Cultura recém-nomeada, Renata Sartori.
A disparada da inflação no Brasil atingiu em cheio o preço dos alimentos, principal comércio da feira, e impactou também a barraca “Pastéis e Cia”, da comerciante Alessandra Pappalardo.
Um dos problemas está na escalada do preço do trigo, ingrediente fundamental para a massa de pastel. Mas ele não está isolado: o tomate, por exemplo, aumentou nada menos do que 103% no último ano. “E ninguém nega um vinagrete para complementar o pastel”, diz a comerciante, em cuja barraca trabalham o marido Fábio e também a filha Izabella.
A família sente no bolso o impacto da crise ao não conseguir repassar o aumento integral das matérias-primas com as quais trabalham. “O queijo, por exemplo, subiu mais do que a carne”, afirmou Fábio, marido de Alessandra, enquanto terminava de fritar um pastel, que custa de R$ 8 a R$ 16 naquele ponto.
A crise prejudica os negócios, mas a feirante diz que os clientes não reclamam de eventuais aumentos. “Eles compreendem a situação. Está tudo muito caro e com R$ 100 você não enche duas sacolas”, lamenta Alessandra.
Previsão do tempo para: Sábado
Durante a primeira metade do dia Períodos nublados com tendência na segunda metade do dia para Céu limpo
COMPRA
R$ 5,41VENDA
R$ 5,42MÁXIMO
R$ 5,43MÍNIMO
R$ 5,39COMPRA
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