AUTOESTRADA — A Castello Branco liga São Paulo a Santa Cruz do Rio Pardo, com 315 quilômetros de extensão, e deve ganhar mais 91 até Echaporã (Divina Imagem / SP Vias)
Publicado em: 29 de janeiro de 2022 às 02:58
Sérgio Fleury Moraes
Uma obra adiada por vários governos agora finalmente deve sair do papel. O governo do Estado começou a licitar o projeto do prolongamento da rodovia Castello Branco (SP-280 ou BR-374), que hoje termina no município de Santa Cruz do Rio Pardo.
Serão mais 91 quilômetros, de acordo com a secretaria dos Transportes, até o município de Echaporã, na região de Marília.
Desde a década de 1980, os sucessivos governos estaduais anunciaram planos para o prolongamento da rodovia até Quatá, na região de Assis. Isso aconteceu na gestão de Orestes Quércia (1987-1990), mas o projeto do governador João Doria (PSDB) reduz o trajeto, pelo menos nesta primeira etapa, até Echaporã, com Marília tendo acesso à rodovia.
O edital para as empresas interessadas na elaboração do projeto foi lançado há uma semana e as propostas serão avaliadas no dia 14 de março. O prazo de entrega dos projetos vencedores será de 14 meses, uma vez que, no caso da Castello Branco, possui um nível de detalhamento maior do que projetos básicos ou anteprojetos.
Os projetos incluem levantamento topográfico do traçado da obra e até de análises geotécnicas sobre a qualidade do solo.
No total, o “pacote” de projetos envolve 1.774 quilômetros de rodovias, cujas obras terão o aval para ser iniciadas a partir de 2024. São 56 projetos no total, divididos em 15 lotes, com investimentos de até R$ 242 milhões.
Em entrevista ao jornal “Valor Econômico” na quinta-feira, 27, o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), que em abril vai assumir o Governo do Estado com o afastamento do titular João Doria (PSDB) — candidato a presidente da República —, explicou que o pacote de projetos é uma espécie de “recomposição de prateleira” de grandes empreendimentos. “Queremos evitar uma limitação logística para o crescimento da economia paulista lá na frente”, afirmou.
Segundo Garcia, o Estado viveu um “choque de infraestrutura” nos anos 1990, que coincidiu com as primeiras concessões rodoviárias a concessionárias — entre elas a Anhanguera-Bandeirantes, Anchieta-Imigrantes, Castello Branco e Raposo Tavares.
Todas essas concessões estão entre as mais bem avaliadas do País. “Só que a prateleira diminuiu com o esgotamento gradual dos projetos disponíveis e precisamos fazer a reposição”, disse o vice-governador ao “Valor”.
O governo de São Paulo avalia que a maior parte das futuras obras precisará ser feita com investimentos públicos, principalmente para não onerar as tarifas de pedágio em eventuais concessões ao setor privado.
Entretanto, não se descarta a possibilidade de o governo aproveitar o vencimento de alguns contratos de rodovias privatizadas para negociar obrigações de investimentos e viabilizar parte das obras.
O projeto para prolongar a Castello Branco em mais 91 quilômetros é a maior obra prevista no pacote que está em licitação pelo governo paulista. A execução do projeto tem um custo estimado entre 2% e 4% do valor total do empreendimento.
Ainda sem previsão para o início das obras, o fato é que o prolongamento da Castello Branco deverá beneficiar diretamente Santa Cruz do Rio Pardo, município em expansão imobiliária, agrícola e industrial. O leque de escoamento de produtos produzidos em Santa Cruz será ampliado para outras regiões do Estado em direção ao Mato Grosso do Sul.
O prefeito Diego Singolani (PSD) disse que ficou sabendo da licitação para os projetos através de políticos amigos. Ele disse que “torce” para que, desta vez, a obra de prolongamento não fique apenas na promessa. “Tem tudo para sair, já que o governo está elaborando os projetos”, disse. Ele aposta na localização estratégica de Santa Cruz, no meio de uma rodovia importante, o que pode significar novos investimentos industriais.
Em 2015, o Dnit — Departamento Nacional de Infraestrutura — realizou um levantamento sobre a viabilidade do prolongamento. Hoje deputado, o ex-superindentente do órgão, Ricardo Madalena, disse que a obra foi considerada viável.
A título de exemplo, Santa Cruz do Rio Pardo fica a 80 quilômetros de Echaporã, se considerarmos em linha reta. Porém, na verdade são 124 quilômetros, ou uma hora e meia de viagem, trafegando por rodovias.
A Castello Branco é uma das principais rodovias do País, ligando São Paulo a Santa Cruz do Rio Pardo, uma extensão total de 315 quilômetros. Ela começa no complexo do “Cebolão”, na capital, e termina em Santa Cruz do Rio Pardo, quase na divisa com Espírito Santo do Turvo.
O projeto de construção da pista dupla, que inicialmente recebeu o nome de “Rodovia do Oeste”, é de 1961 e a obra começou durante o governo de Ademar de Barros.
O primeiro trecho, entre São Paulo e Torre de Pedra, foi inaugurado em novembro de 1968 pelo então governador Roberto de Abreu Sodré — filho do segundo prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo.
No mesmo ano, foram iniciadas as obras do trecho seguinte, até Avaré. Em janeiro de 1971, o novo trecho foi aberto ao tráfego. A Castello Branco, então, era a mais moderna autoestrada do País, comparada a outras dos Estados Unidos ou Europa, com pistas amplas, curvas suares, rampas com baixa inclinação e canteiro central largo.
A distância entre as duas pistas é explicada pela necessidade de evitar o ofuscamento dos faróis de quem viaja no sentido oposto.
Em 1982, o último trecho entre Avaré e Santa Cruz do Rio Pardo foi inaugurado e, desde então, a rodovia termina no município.
O plano inicial previa que a Castello deveria ser estendida até as proximidades de Presidente Epitácio, na divisa com o Mato Grosso do Sul e, depois, rumo ao Paraguai.
O nome “Castello Branco” foi dado pelo governador Roberto Costa de Abreu Sodré em 1967, antes mesmo da inauguração da autoestrada, numa homenagem ao primeiro ditador do regime militar, o marechal Humberto de Alencar Castello Branco.
Porém, há várias propostas para retirar a homenagem a um dos líderes da ditadura militar e do golpe que derrubou o presidente João Goulart em 1964.
O deputado Carlos Giannazi (PSOL-SP), por exemplo, é autor do projeto, em tramitação da Assembleia Legislativa, para mudar o nome da rodovia para “Carlos Marighella”, em homenagem ao deputado guerrilheiro que foi assassinado no regime militar. Outro deputado já tentou, há alguns anos, trocar o nome da Castello Branco para “rodovia Presidente João Goulart”.
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