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Caporanga sofre com abandono de obras

Empreiteira da Sabesp abandona obras e deixa o caos nas ruas do distrito de Santa Cruz, com sujeira, buracos e poeira

Caporanga sofre com abandono de obras

Esburacadas, ruas acumulam lama e pedregulhos

Publicado em: 29 de janeiro de 2022 às 02:42
Atualizado em: 01 de fevereiro de 2022 às 20:26

Sérgio Fleury Moraes

Lugar bucólico e tranquilo, Caporanga hoje parece ter saído de uma guerra. Suas ruas estão esfareladas, há buracos por todo canto e os moradores sofrem com poeira e, quando chove, lama espalhada pelos logradouros. O problema foi provocado por uma empreiteira contratada pela Sabesp para realizar os serviços de implantação da rede de esgoto no distrito de Santa Cruz do Rio Pardo.

A empresa praticamente abandonou os serviços e o caso virou assunto nas redes sociais, com a revolta dos moradores. Na quinta-feira, um grupo de vereadores foi ao distrito para ver com os próprios olhos o descalabro do abandono. A reportagem encontrou dois funcionários da empresa, sentados num dos buracos perto da subprefeitura do distrito. O dono havia saído minutos antes.

Os moradores de Caporanga sabem que o problema é da Sabesp, mas não poupam os vereadores e nem o prefeito Diego Singolani (PSD). Para eles, falta um posicionamento mais enérgico do prefeito para exigir da Sabesp uma solução para imediata para o problema.

“CENA DE GUERRA” — Ruas do distrito de Caporanga foram todas “rasgadas” para a implantação da rede de esgoto, mas empreiteira não consegue concluir os serviços e deixou o asfalto em situação deplorável

Enquanto isto não acontece, as ruas de Caporanga, que eram motivo de orgulho até pouco tempo, se transformaram em armadilhas para carros, pedestres e motocicletas. O asfalto, segundo os moradores, havia sido feito há mais de 20 anos, no governo de Onofre Rosa de Oliveira, e quase não precisava de reparos. “Era uma maravilha, mas agora as ruas estão repletas de buracos, todas esfarelando”, diz o produtor rural Raul Ramos Júnior, 60.

Raul enfrenta outros problemas. Há muitos anos, por exemplo, ele doou gratuitamente ao município um terreno para abertura de uma rua, sob a promessa de um asfaltamento que nunca foi realizado. Além disso, concordou em ceder outra área, já em sua propriedade rural, para a construção da estação elevatória de esgoto, um sistema que deve levar os dejetos, através de recalque, até o local para tratamento.

O acordo foi amigável e Raul concordou com o preço, mas até agora não viu a cor do dinheiro. “Isto foi em 2018, quando um bezerro desmamado custava R$ 1 mil. Hoje, o mesmo animal custa R$ 3,5 mil. A Sabesp diz que depositou em juízo, mas eu fui obrigado a contratar um advogado e até agora não recebi nada”, disse.

Além de não ver a cor do dinheiro pela desapropriação, Raul ganhou um enorme buraco e um monte de ferros enferrujados no pequeno espaço em que exerce a pecuária. “Se um boi cair, quem vai me pagar o prejuízo?”, questiona.

 

Propriedade de Raul, desapropriada amigavelmente em 2018, virou um canteiro de cimento e ferro retorcido e dinheiro não foi pago
Raul Ramos Júnior, que ainda nem recebeu pela área desapropriada

Sobre a situação de abandono, Raul Ramos diz que a população já está no limite. “Os protestos vão continuar, pois não é possível a gente sofrer com tudo isto há mais de ano. Sabemos que a obra é do Estado, mas o vereador e o prefeito deveriam olhar mais para Caporanga. É uma situação muito complicada e os políticos só enxergam isto na época das eleições”, disse.

O pior é que já começa a faltar água no distrito e os moradores dizem que o problema é causado pela quebra constante dos encanamentos das ruas, provavelmente devido a erros da empresa. “Quando as obras estavam andando, faltava água praticamente todo dia. Mas a gente tinha paciência porque o esgoto é necessário. Mas agora a empresa sumiu e a falta de água virou um problema sério”, diz Cássia Regina Maximiano Salles, 54.

A dona de casa viveu “a vida toda” em Caporanga e mora na rua Manoel Francisco Pereira, talvez a mais movimentada do distrito porque dá acesso à zona rural, ao município de Ubirajara e às plantações de laranja, uma das culturas que movimentam a região. “Teve uma vez que um cano estourou e a Sabesp veio três vezes para fazer o conserto”, disse.

Cássia conta que precisa fazer duas ou três faxinas na casa por semana. “Não é nem poeira. É terra mesmo. Nós estamos pedindo socorro”, reclamou.

Cássia Salls: “Está um horror”

Na rua onde Cássia reside, há diversas casas com as paredes manchadas de barro, sujeira provocada pelos caminhões trafegando em dias de chuva.

A situação de abandono de Caporanga já afeta o comércio do distrito. A comerciante Angélica Letícia de Andrade Buzolin, 37, comanda uma loja de roupas femininas há 25 anos e não consegue manter seu estabelecimento limpo. “Isto começou há quase dois anos e está muito difícil”, disse.

“Na verdade, a gente esperava uma melhoria, mas tudo piorou com estas obras que nunca terminam”, disse. Angélica disse que sua sorte é ter uma loja fechada com vidros e portas. “Mesmo assim, é complicado manter tudo limpo. E quando chove, a lama invade as ruas”, contou.

A comerciante alerta que a situação das ruas passou a ser perigosa. “É fácil uma moto ou bicicleta derrapar neste asfalto esfarelado. Além disso, é um risco para idosos e crianças”, alertou Angélica.

Ela lembrou que a falta de água, quando acontece, demora horas para o abastecimento voltar. “Neste calor, não se toma banho, lava roupa ou as louças. Não tem cabimento e estamos no nosso limite”, afirmou.

A comerciante Angélica em frente à sua loja

A mesma situação aflige proprietários e clientes do supermercado Almark, um dos mais tradicionais de Caporanga. A empresária Sandra Cristina Ferrari comanda o estabelecimento desde 2015, mas nunca viu uma situação de tamanho descalabro. Ela é casada com Alex Alves Marquezin, 39, um dos filhos do pioneiro da rede Almark, que também possui um supermercado em Santa Cruz.

“A empresa alega que alguns equipamentos foram furtados e, por isso, não consegue terminar a obra. Enquanto isso, nós estamos nesta situação de barro, buraco e poeira há dois anos”, reclamou. “Estamos com as mãos atadas e ninguém percebe a gravidade do problema”, desabafou Sandra.

Segundo ela, a maioria da população ainda não providenciou a ligação das residências na rede de esgoto porque não sabe quando ela será concluída. “Como é que contratam uma empresa sem capacidade para realizar uma obra deste tamanho?”, questionou.

A empresária Sandra Cristina Ferrari

Sandra disse que o supermercado já contabiliza prejuízos. “A gente trabalha com produtos alimentícios, que não pode ter poeira. É toda semana jogando água no chão e torcendo para um cliente não escorregar”, lembrou.

Alex aponta outros problemas no distrito, como a falta de lombadas e sinalização, principalmente perto da escola estadual de Caporanga.

Alex Marquezin, do Almark, mostra vazamento antigo na rua

Na tarde de quinta-feira, os vereadores Cristiano Miranda (PSB), Niltinho Fernandes (PSD), Tio Carlinhos (PSL) e Cristiano Tavares (PSD) verificaram os estragos nas ruas de Caporanga. “Nós estamos notando falhas supostamente de engenharia”, disse Niltinho, que já foi diretor de Obras da prefeitura na gestão de Otacílio Parras (PSB).

O vereador apontou um certo desnível nas caixas de coleta de esgoto. “Os canos estão fora de sintonia e isto pode provocar problemas no futuro”, disse. Segundo ele, os moradores contaram que a empresa abandonou os serviços e os poucos funcionários estão realizando trabalhos manuais em obras que deveriam ser mecanizadas.

O presidente da Câmara, Cristiano Miranda, disse que alguns moradores solicitaram a ajuda da Câmara. “E realmente constatamos que o problema é grave. A partir de agora, vamos conversar com o prefeito, com a Sabesp e com os deputados que têm ligações com Santa Cruz. O asfalto foi todo destruído”, disse o vereador. “A gente sabe que a culpa não é da prefeitura, mas algo precisa ser feito”, afirmou. “É uma situação lamentável um abandono sem que a obra fosse concluída”, disse Carlos Alberto Silva. “O povo reclama com razão”.

Quatro vereadores de Santa Cruz foram verificar as reclamações de perto. E ficaram espantados

Cristiano Tavares concorda com os colegas. “É uma situação muito séria e preocupante. A gente andou pelo distrito e viu um quadro lamentável, com buracos, sujeira e falta de água. Isto precisa ser resolvido”, disse Cristiano, que não descarta uma audiência com o superintendente regional da Sabesp.

O gerente da empresa em Santa Cruz, Marcos Ramos, disse que a obra é de responsabilidade da direção da Sabesp, mas já está levando o problema aos seus superiores.  

Trânsito de veículos espalha lama e suja as fachadas das residências do distrito de Caporanga

 

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