Delsio e a mulher Ignês, durante cerimônia de renovação de bodas celebrada há anos pelo frei Estevão
Publicado em: 27 de novembro de 2021 às 02:57
Sérgio Fleury Moraes
Delsio Cassita viveu pelo menos 60 anos dentro de um fórum ou de um cartório. O mais antigo tabelião de cartório de notas de Santa Cruz do Rio Pardo morreu na quinta-feira, 25, depois de uma longa enfermidade. Ele tinha 89 anos e sempre foi conhecido na cidade como “Delsio do Cartório”.
Mas nem todos conheceram a história real deste homem nascido em Marília que há muitos anos adotou Santa Cruz do Rio Pardo como sua verdadeira cidade. Na verdade, filho de família muito pobre, Delsio se mudou para Presidente Bernardes ainda criança. Foi engraxate e começou a trabalhar na frente do Fórum da cidade e, de quebra, deixava a calçada limpa.
Um dia, o juiz da comarca de Presidente Bernardes ficou comovido com a cena daquele garoto varrendo a frente do Fórum e o chamou para trabalhar na limpeza do prédio. Com os anos, Delsio passou a integrar as equipes dos cartórios e iniciou seus estudos. “Meu pai começou a estudar depois de adulto”, conta o filho Delsinho.
Aliás, Delsio nunca reclamou da situação de pobreza. Morou em orfanatos, cresceu e conheceu Ignês, o amor de sua vida, em Presidente Bernardes. Os dois se casaram, tiveram filhos e Delsio se tornou escrivão do Fórum. Em meados dos anos 1970, ele foi aprovado em concurso público e veio para Santa Cruz do Rio Pardo, numa época em que os cartórios ainda não eram oficializados e funcionavam dentro do Fórum.
Quando houve uma reforma do Judiciário e os cartórios passaram a ser autônomos, Delsio Cassita se tornou tabelião do Cartório de Notas da cidade, que funcionou durante muitos anos na rua Catarina Umezu.
O tabelião gostava de orientar as pessoas e dar conselhos. “Ele adorava conversar, mas sobretudo gostava de viver”, conta o filho Delsinho. Na verdade, Delsio tinha um humor muito aguçado e vivia fazendo brincadeiras. Sua simpatia o tornou amigo de todos e era difícil alguém perceber, por exemplo, o grupo político de sua preferência.
Ele se aposentou compulsoriamente aos 70 anos, como a lei obriga. Nos últimos meses, mesmo doente, Delsio ainda era o “palhaço” da família, brincando com a mulher, filhos e sobretudo com os netos. Morreu na quinta-feira, 25, cercado pelo amor da família.
O antigo tabelião deixou a viúva Ignês Áurea Gomes Cassita e os filhos Cristina, Márcia, Delsio e Fernanda. Seu corpo foi sepultado no cemitério da Saudade.
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