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Poços diminuem, e açudes e nascentes secam na pior crise hídrica da região

Bairros rurais de Santa Cruz já sofrem com escassez de água, e São Pedro edita lei que incentiva Meio Ambiente

Poços diminuem, e açudes e nascentes secam na pior crise hídrica da região

COLAPSO | Açude na fazenda ‘Palmeiras’, em São Pedro do Turvo, perdeu mais de 90% de seu volume de água; local já foi diversão para moradores e fonte de vida para animais

Publicado em: 08 de janeiro de 2022 às 02:01

André Fleury Moraes

Um açude da fazenda Palmeiras, em São Pedro do Turvo, já foi motivo de orgulho para a família Scudeler, proprietária do local há cerca de cinco décadas.

O local era rico em peixes, pujante em recursos hídricos e fonte de vida para animais que habitam uma área que supera 250 alqueires de terra — 50 dos quais preservados com mata nativa.

Não à toa, a fazenda ficou conhecida em toda a região como referência não só em preservação ambiental, mas também quando o assunto é riqueza aquática.

Dali, afinal, sobem à superfície as primeiras águas que dão origem ao rio Turvo, principal fonte de recurso hídrico para São Pedro do Turvo. São minas mais do que centenárias.

Hoje, porém, a situação é muito mais do que delicada. O principal açude da fazenda, que fica a alguns quilômetros do perímetro urbano são-pedrense, definhou. Mais de 90% do que um dia foi água desapareceu. E parte das minas d’água que se transformavam no rio Turvo simplesmente secou.

O cenário, desolador, preocupa o produtor rural Alziro Scudeler Júnior, 60. “Em 50 anos ocorreram alguns períodos de seca. Mas nunca chegou a esse ponto”, garante.

O açude da Palmeiras está entre duas grandes áreas verdes — uma acima e outra mais abaixo —, dentro das quais há várias nascentes. Na primeira, que em parte abastecia o lago artificial, as nascentes se tornaram apenas uma lembrança.

A reportagem visitou a Palmeiras e outras propriedades rurais na quarta-feira, 5, pouco depois de a região enfrentar tempestades de chuva. As quedas d’água, no entanto, não foram suficientes para que o volume de água dos açudes ou poços voltasse a subir.

Alziro acima das nascentes que secaram

A seca foi tão intensa que o cenário se assemelha à crise na Cantareira, na região de São Paulo, quando o reservatório entrou em crise no ano de 2014. O problema é que agora o quadro é comum ao País todo — e não há perspectiva de melhora.

“O pior é que nós não sabemos por que isso acontece. E enquanto não encontrarmos uma solução ficaremos assim”, avalia Alziro — que admite manter a esperança de que as águas voltarão a aparecer. “É difícil, mas não podemos desistir”, diz.

José Galdino, 66, é morador da Palmeiras há pouco mais de 10 anos. Quando chegou, o cenário era de pouca mudança se comparado com os últimos 50 anos. Mas os problemas se intensificaram, e hoje Galdino anda a passos tristes quando visita o açude ou as nascentes.

As rachaduras no lago artificial, causadas por uma seca interminável, já são visíveis. Galdino acredita que ainda há peixes no local, mas só aqueles que se adaptaram à baixa oxigenação da água, que há muito não é renovada.

Alziro Scudeler e José Galdino em frente ao açude que perdeu enorme volume d’água

Quando o DEBATE visitou a mata nativa de onde saem as primeiras águas do rio Turvo, a constatação foi óbvia: os caminhos por onde a água passava desapareceram. Sobraram as plantas típicas às margens de leitos — que, por alguma razão, ainda sobrevivem.

Para Marquinho Pinheiro (PSDB), prefeito de São Pedro do Turvo, a situação é a pior da história. “A crise hídrica é real e grave. Há mais de um ano venho acompanhando o problema”, disse.

Há pouco mais de 10 dias, aliás, ele implementou a lei que cria o programa “A Nascente Precisa da Gente”, medida que busca incentivar a população a preservar áreas verdes e mananciais. Entre outras coisas, a lei permite que o município remunere produtores ou proprietários de terras na zona rural que promovam ações de preservação ao Meio Ambiente.

O governo do tucano mapeou, nos últimos dias, a maioria das nascentes que existem em São Pedro do Turvo. O nome do programa foi escolhido por alunos das escolas do município.

“É uma ação conjunta entre as secretarias da Educação e do Meio Ambiente. A primeira visa conscientizar as crianças, enquanto a segunda executa ações efetivamente”, explica.

A partir de fevereiro, avalia, o trabalho de campo será mais intenso. “Ajudaremos os munícipes a fazer trabalho de proteção das nascentes, com cerca viva e reflorestamento”, diz.

Morador do bairro da Figueirinha, na zona rural de Santa Cruz do Rio Pardo, Maurício Santos Pilato vive em uma propriedade familiar desde que nasceu. A área, grande, abriga também outras pessoas de sua família, como tios ou primos.

O morador da Figueirinha Maurício Pilato

Quando criança, lembra, água era um recurso pujante na propriedade — e não vinha necessariamente dos rios. Pelo contrário: havia uma nascente apenas, e ela dava conta de suprir toda a demanda da família. Mais de dez pessoas eram abastecidas de uma única fonte.

E a mina não abastecia apenas a propriedade dos Pilato. Na verdade, praticamente todo o bairro da Figueirinha, da escola à capela, recebia o recurso. Hoje a situação já não é a mesma. “A coisa começou a piorar faz mais ou menos três anos. E se intensificou nos últimos meses”, afirma.

Se um dia uma única nascente atendia toda a Figueirinha, atualmente nem mesmo a casa de Maurício consegue sobreviver dessa fonte. Cada familiar teve de recorrer aos poços artesianos para que não faltasse água.

Irmão de Maurício, Laércio Pilato carrega boas lembranças de um tempo que já não volta mais. A pedido da reportagem, ele visitou a mina que abastecia o bairro rural na quinta-feira, 6, e mostrou o que chamou de “pingo d’água”.

A nascente fica em meio a uma grande árvore que, no passado, servia de diversão às crianças da família. “Eu sentava nas raízes e via minha mãe lavar roupa na tábua”, lembra Laércio. Hoje, seus filhos e netos já não podem fazer o mesmo.

Laércio Pilato com o filho

No final de novembro do ano passado, o professor da Unesp e ativista ambiental Edson Piroli, de Ourinhos, disse em palestra na Câmara de Santa Cruz do Rio Pardo que a situação é de calamidade.

“As pessoas estão perdendo a noção de onde vem a água. Imaginam apenas que é da torneira, como já acontece nos grandes centros”, disse. Segundo Piroli, a falta de infiltração da água, provocada pela impermeabilização do solo urbano, está reduzindo substancialmente as reservas do aquífero no Brasil.

O uso irregular de pivôs de irrigação na Agricultura é outro fator a ser levado em consideração. “Muitos se deixam levar por promessas de desenvolvimento econômico, mas se esquecem que precisamos de água e um solo produtivo”, disse Piroli. 

SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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