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Recibos podem ter sido forjados na prefeitura

Recibos podem ter sido forjados na prefeitura

Publicado em: 17 de junho de 2007 às 23:59
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 04:08

documento01 documento02O gandula da Associação Esportiva Santacruzense, que ganhou fama nacional ao “marcar”, no ano passado, um gol validado pela arbitragem, nunca atuou como técnico da categoria de base do time — que, aliás, nunca existiu. A informação é da própria mulher de Vieira, a comerciante Maria Ivone Michele Vieira. Ela afirma que o marido foi chamado na prefeitura para assinar recibos no último dia 1º de junho, cinco dias após reportagem do DEBATE sobre a “farra” com dinheiro público envolvendo repasses ilegais do prefeito Adilson Donizeti (PSDB) ao time profissional de futebol.

Maria Ivone também garante que Vieira nunca recebeu qualquer centavo dos valores discriminados nos recibos em que o gandula assina como “técnico da categoria de base”. O técnico do time profissional da Esportiva, Aldo Cavalari Ricardo, também admitiu há semanas que assinou recibos “a pedido”, sem receber nenhum dinheiro.

Mesmo diante das irregularidades e de um pedido de abertura de Comissão Processante, a Câmara de Vereadores ainda titubeia sobre a possibilidade de aceitar as denúncias formalizadas pelo casal Celso Prado e Junko Sato Prado. Na segunda-feira, os vereadores fizeram uma homenagem ao Dia dos Namoradores e, depois, resolveram marcar uma reunião na quarta-feira para discutir o assunto (leia nesta página).

Há três semanas, o DEBATE tornou públicas notas fiscais e recibos de pagamentos enviados à Câmara pelo prefeito, como “prestação de contas” da verba destinada à categoria de base da Esportiva. Na verdade, há anos o dinheiro vem sendo remetido pelo prefeito ao time profissional de futebol, pois a Santacruzense nunca possuiu categoria de base — cuja citação seria apenas um meio de dar legalidade ao repasse. No entanto, a série de documentos publicada pelo jornal apontam para desvio de dinheiro público, pois há recibos duvidosos e documentos fiscais de compras suspeitas. Algumas notas apontam para aquisição, em apenas um único dia, de mais de meia tonelada de carnes. Em poucos meses a Santacruzense teria consumido, por exemplo, quase meia tonelada de lingüiça.

A prestação de contas era pré-requisito legal para a liberação mensal de R$ 12 mil de verbas municipais para a inexistente categoria de base da Esportiva. Os repasses ilegais vêm sendo feitos pelo prefeito Adilson Donizeti há três anos e somente em 2006 a prefeitura liberou quase R$ 50 mil para o clube. Além disso, o prefeito gastou cerca de R$ 500 mil na compra e aluguel de arquibancadas.

Algumas notas e recibos enviados à Câmara, referentes aos repasses de 2006, não traziam sequer assinaturas dos supostos beneficiários. Dentre eles, estão recibos em nome de Aldo Cavalari e José Carlos Vieira sem assinaturas. Dias depois, entretanto, o secretário de Finanças do município, Armando Cunha, garantiu ao vereador Rui Reis (PV) que os mesmos recibos na prefeitura tinham assinaturas. Na época, em uma rádio da cidade, o prefeito também disse que todos os documentos estavam regulares. Em nota oficial, Donizeti também garantiu que os alimentos constantes nas notas fiscais — entre centenas de quilos de carnes e lingüiças, caixas de leite e óleo e outros — foram destinados e consumidos pelo time de futebol.

Na quinta-feira, a pedido do DEBATE, a prefeitura enviou ao jornal cópias dos recibos devidamente assinados por Cavalari e Vieira. Confrontando-se com as cópias que o próprio prefeito havia encaminhado semanas antes à Câmara, percebe-se que os documentos são exatamente idênticos, excetuando-se pelas assinaturas (veja quadro). As dúvidas e a semelhança entre as cópias dos documentos aumentam ainda mais as suspeitas de irregularidades na prestação de contas da Esportiva. Em nenhum momento o prefeito explicou por que foram enviadas cópias de documentos sem as assinaturas à Câmara.

Convocados — De acordo com a mulher do gandula José Carlos Vieira, Maria Ivone Ribeiro, seu marido e Aldo Cavalari teriam sido chamados na prefeitura para assinar alguns recibos logo após o DEBATE publicar as primeiras reportagens sobre o caso. De acordo com ela, uma mulher chamada Telma teria ligado para Cavalari pedindo a presença dos dois na prefeitura. “Na sexta feira retrasada (1º/06), a Telma da prefeitura ligou para ele assinar [recibos na prefeitura]. Eu falei para meu marido: vai dar problema isso daí”, conta.

Maria Ivone não soube informar se a mulher era Telma de Castro Leite Basseto, concunhada do prefeito Donizeti que ocupa altos cargos na administração — é a atual secretária de Cultura. Ivone disse, inclusive, que gostaria que o marido contasse tudo à imprensa. Procurado por telefone nesta semana, Vieira demonstrou nervosismo e não quis dar entrevista.

Para Maria Ivone, as pessoas se aproveitam de seu marido. “Ele não sabe dizer não a ninguém”. Ela garante que Vieira não recebeu absolutamente nada referente aos valores que assinou — cada recibo equivale a R$ 1 mil — e teme que ele possa se complicar. “Ele está sendo prejudicado, está sendo um joão-bobo nas mãos deles”, disse a mulher. De acordo com informações da comerciante, o gandula teria se dirigido à prefeitura durante quatro ou cinco meses “para assinar papéis”.

Maria Ivone revela que sua família está passando por necessidades. Ela conta que Vieira atuava como gandula gratuitamente para a Santacruzense e que ele trabalhava para uma fábrica de sapatos até ser convidado para trabalhar como técnico da escolinha do São Caetano, em Santa Cruz — onde permaneceu cinco meses sem receber salários. Porém, ela garante que Vieira “nunca foi” treinador da categoria de base da Esportiva. “Agora ele está desempregado e nós estamos comendo o pão que o diabo amassou”, lamenta.

Outro recibo enviado à Câmara sem assinatura e que, após a publicação, surgiu uma cópia assinada na prefeitura, pertence ao técnico do time profissional da Esportiva, Aldo Cavalari Ricardo — a quem são atribuídos outros recibos como técnico da categoria de base que não existe. Os valores, nesse caso, são de R$ 1,2 mil.

Quando o caso foi divulgado, Cavalari informou ao DEBATE que também não recebeu dinheiro pelos recibos que assinou. Cavalari admitiu que teria assinado “dois ou três recibos” para a prestação de contas. “Eles pediram que eu assinasse como se fosse da categoria de base”, recordou. Aldo admitiu que o pedido foi feito para legitimar a prestação de contas da Esportiva sobre gastos com dinheiro público.

Cavalari admitiu saber que a prestação de contas era necessária para a liberação das verbas para a Esportiva. “Mas como não tinha a base, [a verba] era usada no profissional”, admitiu. Ele acredita que foi solicitada a assinatura dele, de Vieira e do roupeiro da Esportiva — Jefferson Carlos Barrios — por estarem ligados à escolinha do São Caetano. “A gente faz para ajudar e acaba sendo envolvido”, lamentou Cavalari.
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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