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Santa-cruzense é submetido a cirurgia de células-tronco para tratar do coração

Publicado em: 26 de junho de 2005 às 00:38
Atualizado em: 24 de março de 2021 às 04:51

O santa-cruzense Valdemar Augusto Gomes, 55, está entre os três primeiros brasileiros a serem submetidos a uma cirurgia envolvendo células-tronco. Ele sofria de isquemia aguda cardíaca, um problema de bombeamento do sangue, causado pela hipertensão. Após um enfarto em maio do ano passado, passou a se tratar no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo.

O contador foi selecionado para a cirurgia entre milhares de pessoas, em setembro do ano passado, após um longo período de tratamento com medicação e depois de vários testes. A escolha se deu pelo fato de que o problema de Gomes era inédito e que, embora sofresse de um problema coronário, possui uma saúde boa quanto aos demais órgãos do corpo. Por ser um novo procedimento, Gomes assinou um documento de responsabilidade, autorizando a cirurgia.

A operação foi realizada simultaneamente nos três pacientes escolhidos, todos do sexo masculino, e ocorreu no último dia 10, conforme autorização do Ministério da Saúde, que custeou as despesas. Cada paciente foi operado em seu estado, sendo Gomes o único no Estado de São Paulo. A operação durou oito horas porque também foi feita uma ponte safena e duas mamárias, além da incisão para retirada de células-tronco da bacia. Elas foram implantadas no coração com a função de regenerar todo o músculo cardíaco. Depois de um período, as safenas e as mamárias serão retiradas. Neste período, o contador terá de passar por exames periódicos no Incor. Os médicos vão acompanhar a sua recuperação.

O paciente passou 17 dias no Incor, na capital, e retornou à sua casa na última terça-feira, 21. Ele se recupera bem da operação. “Segundo os médicos, minha recuperação está sendo fantástica. Não sinto nenhum tipo de mal-estar, tudo isso em função das células-tronco”, diz Gomes.

Ele acredita que esse novo método é uma revolução na medicina “Se eu só fizesse a cirurgia coronária convencional, teria a minha vida barrada e não poderia fazer tantas coisas quanto os médicos disseram que vou poder fazer. Vou ter uma vida normal, com um coração 100%”, comemora Gomes.

Devido ao novo procedimento cirúrgico, Gomes não dependerá de medicações. Segundo ele, apenas foi indicado um medicamento para controlar a hipertensão e outro para o colesterol. O contador já foi fumante por um curto período, mas ele acredita que seu problema não se deu por isso, mas sim devido à herança hereditária de doenças cardícas detectadas em sua família. Dois de seus irmãos, já falecidos, sofriam de problemas semelhantes e outro mais velho também tem problemas cardíacos.

A equipe que realizou a operação de Gomes foi coordenada pelo cirurgião Sérgio Almeida de Oliveira. O responsável pelo trabalho com as células-tronco foi o cientista Luiz Henrique W. Gowdak. “O tratamento no Incor foi fantástico, coisa de primeiro mundo”, avalia Gomes. Em outros países já se realizam cirurgias como essa, mas no Brasil esses três casos foram pioneiros.

Em relação à polêmica que envolve a utilização das células-tronco embrionárias em cirurgias, Gomes é categórico: “Na minha opinião, é preciso permitir procedimentos como esse, pois a coisa mais valiosa que uma pessoa tem é a sua vida. Só quem passa por uma situação como essa é que entende. Graças a Deus, tive o apoio do Incor e também dos médicos”. Segundo os especialistas do Incor, Gomes poderá levar uma vida normal, sem restrição de atividades. Ele vai precisar apenas de uma alimentação saudável. O contador ainda está em repouso, mas poderá voltar ao trabalho assim que completar um mês da cirurgia.