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Violeiro constrói a sua própria sepultura

Violeiro constrói a sua  própria sepultura

Publicado em: 16 de setembro de 2001 às 14:10
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 15:12

violeiroO conhecido violeiro e agricultor de São Pedro do Turvo, Pedro Ozório de Lima, 73, — o “Pedro Peão” — iniciou há três meses uma obra inusitada: a construção de seu próprio jazigo.

Sem medir esforços (nem gastos), Pedro Peão cobriu a sepultura com granito e colocou uma escultura de violão, feita do mesmo material, sobre o túmulo. Como ornamentos, o violeiro ainda colocou dentro de uma caixa de vidro três imagens dos santos de sua devoção — São Sebastião, Nossa Senhora Aparecida e São Pedro —, e uma foto dele tocando viola.

O jazigo com a foto de uma pessoa viva chamou a atenção dos visitantes do cemitério da cidade. “Muitos vêem a foto e acham que trata-se de alguém que morreu. Os que me conhecem chegam a assustar-se. Outros brincam comigo e dizem que o meu túmulo ficou muito bonito”, conta Pedro Peão.

A mulher do violeiro, entretanto, não aprovou a atitude do marido. “Ela achou normal eu fazer o túmulo, principalmente porque eu já tinha uma filha enterrada há muitos anos no local. Mas só não aprovou a colocação da minha foto”, conta. “Eu só quis adiantar o serviço, pois a foto vai ficar lá mesmo”, justifica o violeiro mostrando o local onde colocou a foto.

Fazer o túmulo de uma pessoa viva não é novidade para Pedro Peão. “Eu já fiz o da minha mãe antes mesmo dela morrer”, lembra o violeiro. Para ele, construir a sepultura é algo normal. Pedro não acredita que isso possa atrair nenhum tipo de azar. “Eu não tenho esse preconceito. Acho que é até muito bom se a gente puder fazer o túmulo com calma. Quando meu pai morreu foi um sufoco pra correr atrás de tudo. Então eu não quero deixar essa preocupação pra ninguém”, disse.

O jazigo de Pedro fica logo na entrada do cemitério de São Pedro do Turvo e, até com esse fato, o bem-humorado violeiro faz brincadeira. “Eu fiz o túmulo bem na entrada para quando eu morrer os amigos e os conhecidos lembrarem-se de mim logo que entrarem no cemitério da cidade. Então eu peço a eles que sempre parem e rezem um pouquinho por mim”, brinca o violeiro.

“Na verdade, eu já deixei tudo pronto, mas não estou com nenhuma pressa de vir pra cá”, diz mostrando a sepultura.

O violão — Pedro Peão decidiu colocar um violão sobre sua sepultura como um homenagem ao instrumento que sempre o acompanhou. Ele mesmo fez o molde de um violão e entregou a uma marmoaria para fazer o serviço. Depois, acrescentou as tarrachas e um crucifixo para conferir mais “respeito” à escultura de granito. “Achei justo colocar o violão no meu túmulo, já que ele me ajudou a ganhar dinheiro em boa parte de minha vida”, justificou o violeiro.

Pedro Peão aprendeu a tocar ainda criança, depois se aprimorou e passou a dar aulas do instrumento. Se orgulha de ter tido cerca de 100 alunos em anos anteriores. “Hoje o interesse diminuiu muito. Tenho apenas 25 alunos”, conta.

O violeiro tornou-se conhecido pelas apresentações que faz em São Pedro do Turvo, nas cidades da região e até em outros estados. Ele se apresenta sozinho, em duplas e em conjuntos.

Há mais de 25 anos toca no grupo de cânticos da Igreja matriz da cidade, e há mais de 20 anos toca no grupo folclórico de catira e de folia de reis.

Pedro Peão tem muitas músicas compostas, a maioria de fundo humorístico, como as que fez para o outro folclórico grupo, “Os indinhos” — formado por 20 crianças caracterizadas de índios. O grupo conseguiu notoriedade com as apresentações de músicas esdrúxulas, pronunciadas de maneira errada. “Eles só falam besteira, nada que se aproveite, mas o público ri muito”, conta.

Pedro procura levar “Os indinhos” para se apresentar nos locais onde também leva os grupos de folia de reis e o de catira. Entre as regiões onde o grupo fez mais sucesso, estão as cidades mineiras da região de Três Corações — Cordislândia, Monte Bom Senhor Paulo e Turvolândia. “Nos tornamos presença tradicional nos eventos dessas cidades mineiras. Já temos shows agendados para julho de 2001”, anuncia. Para melhor compor os “Indinhos”, o violeiro chegou a visitar uma aldeia em Dourado. “A aldeia era muito pobre. Tudo era muito rústico e simples”, lembra o sãopedrense.
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