POLÍTICA

Entrevista: 'Eu vim para provocar'

Entrevista: 'Eu vim para provocar'

Publicado em: 09 de fevereiro de 2021 às 09:59
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 20:54

Vereador eleito pelo Podemos, Bitencourt diz que não pertence a blocos, reafirma compromisso com a vereança e admite que a bancada do governo é fechada quando o assunto é a tomada de decisões

André Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Único vereador eleito pelo grupo de Murilo Sala (Podemos) na Câmara de Santa Cruz do Rio Pardo, o advogado Fernando Bitencourt já ditou as primeiras regras do jogo que pretende disputar no Legislativo. “Não sou oposição e nem situação. Sou população”, afirma.

Ex-secretário de Educação da gestão Otacílio Parras (PSB), Bitencourt deixou a administração em 2018 para investir na carreira advocatícia.

Foi o chefe da pasta mais bem avaliado nos últimos anos, o que, segundo ele, causou ciúmes em algumas pessoas. Sua saída do governo chegou a gerar dúvidas, mas Bitencourt garante que não houve atritos.

Nascido e criado em São Carlos, ele está em Santa Cruz há quase duas décadas. Diz que o município o acolheu e que foi na cidade banhada pelo Pardo que conseguiu melhorar de vida. “Tenho uma dívida com Santa Cruz”.

Em entrevista ao DEBATE concedida na quinta-feira, 28, o vereador confirma que o candidato à sucessão de Otacílio era de fato Luciano Severo antes do rompimento entre os dois e diz que, na Câmara, o diálogo com os colegas da Casa tem sido democrático — característica que não prevalece, no entanto, quando é preciso tomar decisões. “É um grupo muito fechado”, diz sobre os governistas.

*

Foi a primeira eleição da qual você participou e, apesar disso, foi eleito. Caiu a ficha?

Sim, a ficha já caiu. Em dezembro começamos a nos reunir na Câmara para estudar a Lei Orgânica e o Regimento Interno. Algumas coisas foram facilitadas pelo fato de eu ser advogado. Mas ainda é o começo de tudo.

Você foi eleito pelo Podemos, partido de oposição a Diego, e já fez a primeira crítica ao grupo do governo. Disse que a escolha das comissões foi “carta marcada”, já que ficou fora das pastas com as quais tem afinidade. Como você avalia seu papel enquanto vereador eleito pela oposição?

Com relação às comissões, foi isso mesmo. Fiquei bem chateado e falei na hora para os demais colegas. Não podemos levar descontentamento para casa. Mas me tiraram das comissões. De qualquer maneira, vou ajudar em todas as comissões mesmo não fazendo parte delas. Já quanto à base governista, fica claro que é um grupo fechado.

Os quatro vereadores eleitos fora da base são considerados oposição. Mas não sou oposição e nem situação, sou população. Em meu partido, somente eu fui eleito. Se eu não pensar desta maneira não consigo fazer nada. Mas vou ser propositivo, e isso mexe com o Executivo. Se a prefeitura não acatar uma indicação porque quem propôs não é da base, tudo bem. Tomara que não seja assim. Mas eu vou propor. Propondo, você provoca. Mesmo que o projeto não saia em meu nome. Mas espero que as coisas estejam mais abertas.

Você falou sobre projetos que não passam por causa do autor. Vimos isso em praticamente todas as legislaturas passadas. Mas a crítica é, muitas vezes, salutar. Qual é sua posição sobre isso?

Toda unanimidade é burra. Se todos estiverem de acordo com a mesma coisa, tem problema aí. É preciso criticar, mostrar o outro lado. Qualquer projeto tem o lado bom e o lado ruim. E os meus projetos sempre estarão de acordo com os anseios da sociedade, mesmo que ela não veja. Um dos meus projetos é mudar a rotatória do trevo de acesso à rodovia Cabral Rennó, na avenida Pedro Catalano. Ali é perigoso, pois quem está na rodovia muitas vezes não para. Liguei no DER [Departamento de Estradas e Rodagens] procurando soluções. O responsável me disse que o ideal é que todos façam a rotatória, não importa de onde venham. Precisamos prevenir o pior. Um outro é o elevador para a Santa Casa, minha bandeira desde 2015, quando era presidente da maçonaria. A falta de um elevador atrapalha os pacientes, que precisam subir a rampa mesmo em caso de urgência.

Muita gente ainda acha que a maçonaria é repleta de segredos. Isso te atrapalhou durante a campanha?

Na verdade, a população santa-cruzense é muito tradicional. Ainda tem essas lendas sobre a maçonaria. A maçonaria só faz o bem. Em 2015 vendemos 2.020 pizzas e fizemos o quarto de isolamento da Santa Casa. A maçonaria não é secreta, mas discreta.

Alguns vereadores já disseram ser contrários a projetos que onerem o município. Como advogado, você tem posição sobre isso?

Acho que esta frase não é de vereadores. Se o Executivo não gastar com o povo, vai gastar com quem? Logo que eu cheguei à Câmara já ouvi esta frase sobre os projetos. Constatei e disse que se o custo e benefício for positivo podemos propor, sim.

Você foi candidato a deputado estadual pelo PHS em 2018. Muita gente disse que era uma preparação para disputar 2020. Foi isso mesmo?

Quem me convidou foi João Cury, que na época era presidente da Fundação para Desenvolvimento da Educação. Era para ser uma dobradinha em que eu saísse para estadual e ele, para federal. Mas o Fernando foi nomeado secretário de Educação do Estado e decidiu não sair candidato. Aí fiquei sozinho. Se a parceria se efetivasse, acho que haveria possibilidade, sim.

Você foi secretário de Educação nas gestões Otacílio e saiu em 2018. A saída foi um tanto conturbada, pois você disse que passou na OAB, mas o ex-prefeito passou a criticá-lo posteriormente. No entanto, foi o mais bem avaliado secretário de Educação dos últimos anos. Como foi a saída da administração?

Eu fui bem avaliado, mesmo. E falo isso porque eu fiz coisas que nunca haviam sido feitas. Não é demagogia. Se fez, tem que falar. Reformamos e melhoramos escolas, trouxemos a Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) e outras coisas boas. A saída foi porque eu passei na OAB, mesmo, e precisava investir na minha carreira advocatícia.

Mas havia muitos comentários positivos sobre mim na imprensa, e até algumas cogitações sobre eu ser o candidato à sucessão de Otacílio. Isso incomodou o governo. Até então, o candidato de Otacílio era Luciano Severo. A partir do momento que Otacílio e o Severo brigaram, senti um acolhimento grande. Mas não aconteceu mais nada.

Depois, ouvi falar que Otacílio disse que se arrependeu de ter me contratado. Isso não foi passional. Inclusive, quando saí candidato a deputado, foi a primeira pessoa para quem liguei. Ele sugeriu que eu me candidatasse a deputado federal para me apoiar junto com o deputado Ricardo Madalena. Disse que não dava. Depois, nunca mais nos falamos. Mas sou grato a ele, de qualquer maneira.

Como foi a transição para que você entrasse no grupo de Murilo Sala nas eleições?

Eu cheguei a ser procurado pelo grupo de Diego antes mesmo do pessoal do Murilo. Mas foi só, e depois nada mais aconteceu, ninguém mais me procurou. E o Murilo estava todo dia em meu escritório, insistiu para que eu entrasse. Eu gosto de quem gosta de mim. E acertei ao entrar com Murilo.

Você concorreu pelo Podemos, mas viu seu partido se envolver num escândalo sobre o fundo partidário. O dinheiro todo foi repassado a pessoas particulares e nenhuma declaração foi feita à Justiça. Isso atrapalhou?

A mim não. Mas atrapalhou em muito a campanha do Murilo, já que ele é presidente do Podemos. Realmente, a atual direção do partido nada tem a ver com isso. Estamos cobrando o Podemos para que esclareçam tudo isso. Tivemos uma reunião com o coordenador regional do partido e eu exigi para que emitam nota a respeito. Prejudicou muito o Murilo. E se o partido for assim, estou fora.

Como está seu relacionamento com a base do governo na Câmara? E a oposição, há um bloco unido?

O diálogo está excelente. Todos têm a palavra. O presidente Cristiano Miranda está dando abertura para todos. Então é assim, o relacionamento é bom. Mas tenho dúvidas sobre a hora de tomar decisões que envolvam discussões mais acaloradas. A oposição em si não tem um bloco, e eu prefiro que nem tenha. Nós conversamos quando nos vemos.

O ex-vereador Murilo Sala já sinalizou que pretende voltar a se candidatar em 2024. Como está o relacionamento entre o grupo de vocês? Você pode disputar para prefeito?

Eu tenho a intenção de ser prefeito, sim. Mas minha carreira como advogado ainda é recente. Preciso estruturar meu escritório ainda, até porque prefeito não pode advogar. Mas nada mudou dentro do grupo. Até existe a especulação para troca, mesmo que eu saia de vice. De qualquer modo, o Murilo ainda é nosso candidato. Acredito, porém, que ainda não é o momento de discutir nomes. Preciso focar nos meus anos no Legislativo. 



  • Publicado na edição impressa de 31 de janeiro de 2021


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