Acima, Otacílio durante as eleições de 2012, quando foi candidato pelo PT; hoje, quer liderar um grupo de direita em Santa Cruz
Publicado em: 16 de janeiro de 2024 às 18:44
O PL de Santa Cruz do Rio Pardo decidiu apoiar o ex-prefeito Otacílio Parras (PSB) como candidato a prefeito nas eleições de outubro. O partido já sinalizava esta possibilidade quando o próprio Otacílio lançou o vereador Milton de Lima (PL) como candidato a vice em sua chapa, num anúncio feito em abril do ano passado. A antecipação provocou uma crise no PL, uma vez que o partido não havia sido consultado pelo ex-prefeito.
Agora, coube ao deputado Ricardo Madalena informar ao prefeito Diego Singolani (PSD), adversário de Otacílio nas eleições de outubro, a decisão definitiva do partido. A conversa entre os dois aconteceu na semana passada e, segundo consta, foi amistosa. Diego sempre deu visibilidade ao apoio que a administração atual recebe do deputado e esperava o apoio de Madalena, mesmo sem muita convicção.
O fato de o PL decidir apoiar Otacílio provocou um “racha” na legenda, que deve provocar a saída de vários filiados. Um deles é o líder do governo na Câmara, o vereador Adilson Simão, que já anunciou que vai buscar um novo partido a partir de abril, quando haverá a “janela partidária” que autoriza a troca de legenda para quem detém mandato eletivo.
O secretário das Pessoas com Deficiência, Domingos do Carmo, também vai deixar o PL. Outros filiados devem seguir o mesmo caminho, uma vez que apoiam Diego Singolani como candidato nas eleições deste ano.
Apesar do assunto estar praticamente decidido, o deputado Ricardo Madalena afirmou no início da semana que o acordo com Otacílio não está totalmente fechado. “É ainda uma construção e não está confirmada. Ainda vamos discutir com os filiados e uma decisão definitiva só deve sair em abril”, disse.
O deputado, porém, não escondeu que a decisão mais provável é o apoio ao ex-prefeito, inclusive de sua parte. “Não posso ser ingrato pelo fato de o Otacílio ter me apoiado maciçamente na minha primeira eleição em 2014, quando fui eleito deputado estadual. Além disso, pesa muito o fato de ele ser meu primo, meu parente”, afirmou Madalena.
“Estas coisas devem ser ponderadas e colocadas na balança. Mas é óbvio que respeito, sou amigo e muito grato ao prefeito Diego. Portanto, vamos aguardar mais algumas conversas”, afirmou o deputado. Ele admite, entretanto, que o ex-prefeito Otacílio não se empenhou tanto na campanha de Ricardo para a reeleição em 2022. “O fato é que não posso menosprezar que nas outras duas ele vestiu minha camisa”, avaliou.
Ricardo confirmou, aliás, que Otacílio Parras teria “disposição e vontade” de se filiar ao PL para disputar as eleições de outubro.
Na realidade, Otacílio procura construir um grupo ideologicamente à direita, depois de navegar muitos anos pelo espectro da esquerda. Vereador por um único mandato nos anos 1980 pelo PMDB, Otacílio nunca deixou a política mesmo sem um cargo eletivo. Foi coordenador e tesoureiro de várias campanhas eleitorais e, anos depois, se filiou ao PT de Lula e se tornou um dos principais expoentes do partido em Santa Cruz do Rio Pardo.
Disputou duas eleições pelo Partido dos Trabalhadores. Perdeu em 2004 para o então prefeito Adilson Mira e depois foi derrotado pela ex-prefeita Maura Macieirinha em 2008. Mas em 2012, ainda pelo PT, derrotou Maura que tentava a reeleição e finalmente foi eleito prefeito da cidade. Aproveitou os governos petistas para alavancar sua administração com verbas federais.
Quando o PT se enfraqueceu, no bojo dos escândalos do “mensalão” e “petrolão”, que culminaram com o impeachment de a presidente Dilma Rousseff, Otacílio Parras deixou o partido e se filiou ao PSB do então vice-governador Márcio França, a quem apoiou ostensivamente a partir de então. Foi reeleito prefeito em 2016 pelo PSB.
Otacílio, enfim, se manteve no espectro político da esquerda, situação que começou a mudar em 2018, quando não conseguiu mais esconder uma simpatia pela candidatura presidencial de Jair Bolsonaro. Mesmo fora da prefeitura, ele apoiou publicamente a reeleição de Bolsonaro em 2022.
Esta guinada ideológica não surpreende quem conhece Otacílio de perto. Afinal, o ex-prefeito sempre esteve ao lado da “onda” política mais forte entre todas aquelas que surgiram no País nos últimos anos. Foi do poderoso PMDB e surfou nos anos do PT para, na véspera de disputar sua sexta eleição, se posicionar como um dos líderes da direita em Santa Cruz do Rio Pardo.
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