Ex-governador de São Paulo, Luiz Antônio Fleury Filho morreu no feriado de 15 de novembro, aos 73 anos
Publicado em: 19 de novembro de 2022 às 10:59
Sérgio Fleury Moraes
O ex-governador Luiz Antônio Fleury Filho morreu na terça-feira, 15, depois de lutar durante anos contra problemas cardíacos. Ele tinha 73 anos e foi promotor de Justiça, secretário da Segurança Pública, governador de São Paulo e deputado federal por dois mandatos consecutivos.
É curiosa a ligação entre Fleury e Santa Cruz do Rio Pardo. O pai, Luiz Antônio Fleury, nasceu na cidade, onde ficou pouco tempo. Comerciante, mudou-se para a região de São José do Rio Preto, onde o filho nasceu. De 1952 a 1956 foi eleito prefeito de Nova Aliança pelo antigo PSP de Ademar de Barros.
No início da década de 1990, o pai do ex-governador foi homenageado em Santa Cruz do Rio Pardo com seu nome na antiga “Calçada da Fama”. O espaço ainda existe na frente do “Palácio da Cultura Umberto Magnani Netto”, com as marcas das mãos de personalidades do município ou que tiveram ligações com a cidade. O patriarca Fleury compareceu à cerimônia juntamente com a mulher e filhos, irmãos do ex-governador paulista. Ele morreu em 1999, aos 81 anos, vítima de câncer.
Nos anos 1960, Luiz Antônio Fleury Filho era aluno da Academia de Polícia Militar de São Paulo, sendo que posteriormente alcançou o posto de tenente. Foi na condição de cadete, ainda adolescente, que Fleury veio a Santa Cruz do Rio Pardo participar de um baile de debutantes.
O evento foi no antigo Clube dos Vinte e Fleury integrava num grupo de cadetes convidado especialmente para o baile de gala. Somente muitos anos depois, quando ele se tornou governador, é que pesquisadores da cidade perceberam que as fotos do baile de debutantes mostravam um jovem que iria comandar o governo paulista muitos anos depois.
Após de uma carreira como professor universitário de Direito Penal e promotor público, Luiz Antônio foi nomeado secretário de Segurança Pública em 1987, no governo de Orestes Quércia. Já era uma liderança em ascensão quando teve seu nome lançado para disputar o Palácio dos Bandeirantes em 1990.
Para muitos, era uma loucura do governador Quércia, uma vez que os adversários eram eleitoralmente fortes — Paulo Maluf, Mário Covas, Plínio de Arruda Sampaio e outros. Nas primeiras pesquisas, Fleury tinha menos de 5% das intenções de voto.
No entanto, impulsionado por Quércia, Luiz Antônio Fleury Filho ficou atrás somente de Maluf (43% dos votos) no primeiro turno, obtendo 28%. No segundo turno, numa campanha muito acirrada, Fleury fez campanha em Santa Cruz do Rio Pardo, quando uniu forças antagônicas da política. Além do prefeito Clóvis Guimarães Teixeira Coelho, de quem se tornou amigo, ele teve o apoio do vereador Pedro Renófio e outros nomes da oposição.
Paulo Maluf tinha certeza da vitória e chegou a afirmar que “quem apanhou no primeiro turno, vai apanhar de novo”. Seu vice era o deputado José Egreja, filho do ex-deputado federal Sylvestre Ferraz Egreja, de Ipaussu.
O PSDB, derrotado com o candidato Mário Covas no primeiro turno, assim como o PT, passaram a pregar voto nulo no segundo turno. As pesquisas indicavam uma disputa acirrada quando, no dia das eleições, o então governador Orestes Quércia fez uma jogada considerada de mestre. Ao votar, logo pela manhã, ele lamentou o provável fato de o Estado voltar a ser governado por Maluf. A declaração, embora pessimista, foi transmitida ao vivo por emissoras de televisão. Foi o bastante para alertar eleitores do PT e do PSDB, que descarregaram votos no candidato do PMDB.
Luiz Antônio Fleury Filho venceu com 7,3 milhões de votos (51,77%), contra 6,8 milhões de Paulo Maluf (48,23%).
No governo paulista, Fleury se notabilizou por investir na despoluição do rio Tietê, no transporte ferroviário metropolitano e por ações de fortalecimento do interior. Fleury conseguiu reduzir a mortalidade infantil no Estado a níveis históricos e se empenhou na cobertura vacinal, que atingiu quase 100%. Foi ele quem construiu a rodovia Carvalho Pinto, uma de suas últimas obras.
No entanto, Fleury Filho também ficou marcado pela falência do Banespa, banco estadual que sofreu intervenção federal no último dia de seu governo, e da invasão do presídio do Carandiru, que culminou com a morte de 111 presos. A entrada da PM no presídio foi autorizada pelo então secretário de Segurança Pública do governo. A violenta ação foi comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, que chegou a ser condenado a 632 anos de prisão — posteriormente absolvido.
Fleury Filho não foi denunciado como réu no episódio. Segundo declarou à imprensa na época, ele não deu a ordem para a invasão. “Eu voltava de helicóptero para São Paulo e não existia celular na época. Quando cheguei no Palácio dos Bandeirantes, a invasão já tinha ocorrido”, afirmou em entrevista à imprensa.
O ex-governador deixou o governo rompido com seu antigo aliado Orestes Quércia. Ele ainda foi deputado federal por dois mandatos consecutivos a partir de 1995.
O corpo de Luiz Antônio Fleury Filho foi cremado na cidade de Taboão da Serra, na Grande São Paulo.
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