Criada no início dos anos 2000, por intermédio de um convênio na administração de Clóvis Guimarães, o Senai de Santa Cruz funcionou num prédio público na Estação
Publicado em: 24 de dezembro de 2022 às 10:06
Atualizado em: 26 de dezembro de 2022 às 15:05
Sérgio Fleury Moraes
Criada através de um convênio firmado no governo de Clóvis Guimarães Teixeira Coelho, em 2000, e implantada na administração de Adilson Mira, em 2004, o Centro de Treinamento do Senai em Santa Cruz do Rio Pardo está fechando suas portas. Desde outubro, o Senai já não anunciava novos cursos profissionalizantes para a cidade.
Toda a estrutura já está sendo desmontada e até agora não houve nenhum comunicado oficial do Senai. Aparentemente, tudo está sendo feito de forma sigilosa e até a imprensa não pode sequer fotografar o interior das instalações da escola de Santa Cruz, localizada no bairro da Estação.
A instituição ocupa um prédio pertencente ao município que foi cedido por duas décadas. O vencimento do contrato de comodato acontece neste final de ano e não será renovado por parte do Senai.
A reportagem apurou que o imóvel vem apresentando problemas, especialmente no telhado, cuja reforma ficaria em mais de R$ 300 mil. O Senai, então, defendia que o município bancasse as obras, mas o prefeito Diego Singolani (PSD) alegou que haveria obstáculo legais.
Em entrevista à rádio 104 FM, o prefeito não citou o problema da reforma como sendo crucial para o fechamento da escola. Há outro dilema: o declínio da indústria calçadista em Santa Cruz, o setor responsável pela instalação do Senai no início dos anos 2000.
Assim como o Sesi, o Senai é uma escola privada financiada pela indústria brasileira, através de contribuições compulsórias que incidem sobre a folha de pagamento das empresas. A criação data de 1942, por meio de um decreto do presidente Getúlio Vargas.
Entre as entidades gestoras estão a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O Sesi e o Senai são consideradas escolas de excelência na educação brasileira.
A história do Senai em Santa Cruz do Rio Pardo começou no governo de Clóvis Guimarães Teixeira Coelho. Após uma negociação, o então prefeito assinou um convênio e criou a unidade da escola no município. Na minuta, o município concordava em reformar e ceder um dos pavilhões da antiga fábrica de óleo Erisoja, adquirida pela prefeitura nos anos 1980.
Como na época Santa Cruz do Rio Pardo era o quarto polo calçadista do Estado de São Paulo, com as empresas em pleno desenvolvimento, o convênio teve a participação do sindicato da indústria calçadista. Foi o próprio sindicato que adquiriu máquinas novas para a implantação dos cursos, cujos instrutores foram treinados em Franca, um dos principais polos calçadistas do País.
A unidade começou a funcionar em 2004 e recebeu o nome de “Centro de Treinamento Senai Geraldo Vieira Martins”. O batismo foi uma homenagem ao pai do então secretário de Desenvolvimento Geraldo Vieira Martins Júnior, que também era proprietário de uma cartonagem, indústria ligada ao setor calçadista de Santa Cruz.
O terreno onde foi instalado o Senai possui mais de 14 mil metros quadrados, sendo 1,6 mil de área construída.
O problema é que a indústria calçadista de Santa Cruz do Rio Pardo entrou em crise nos anos seguintes e os alunos formados em cursos profissionalizantes no Senai não conseguiam vagas no mercado em que várias fábricas estavam fechando.
Nos últimos anos, o Senai tentou mudar sua vocação, abrindo alguns cursos voltados para o setor de alimentação. No entanto, a instituição perdeu alunos e agora tomou a decisão de fechar suas portas.
Segundo o prefeito Diego Singolani, na verdade a escola-sede do Senai é em Ourinhos, sendo Santa Cruz apenas um CT — Centro de Treinamento — que no início era voltado para a indústria calçadista.
O vereador Fernando Bitencourt (Podemos) admite que o prefeito Diego Singolani e alguns empresários “fizeram de tudo” para evitar o fechamento do Senai. No entanto, ele não concorda que a unidade sempre foi uma espécie de “extensão” de Ourinhos. Ele lembra, por exemplo, que a escola de Santa Cruz começou a funcionar em 2004, muito antes da inauguração da unidade de Ourinhos.
“Pode ser que hoje isto realmente exista, mas no início o Senai foi uma unidade totalmente independente. Com certeza podemos dizer que o fechamento significa uma enorme perda para Santa Cruz”, afirmou.
Bitencourt trabalhou no Senai durante cerca de 17 anos e veio para Santa Cruz do Rio Pardo exatamente para montar a escola. “Até 2015 o Senai da cidade caminhava muito bem. No ano anterior, se não me engano, foi considerada uma das melhores escolas da gerência regional”, lembrou.
Com a crise nas indústrias calçadistas, Fernando Bitencourt disse que o Senai de Santa Cruz buscou todas as alternativas possíveis, como implantação de cursos de mecânica para caminhões ou motocicletas. Aos poucos, porém, o número de funcionários foi sendo reduzido e Santa Cruz foi sendo desprezado no orçamento geral.
“Não posso dizer o que aconteceu, pois depois daquele período eu deixei o Senai. Também não creio que haja culpados”, disse. “Estas unidades móveis, que vão continuar atendendo Santa Cruz, servem para qualificar. Porém, não há nada como uma escola física. Na verdade, não vamos mais formar jovens aprendizes”, avaliou.
“Durante o período em que estive no Senai, em 17 anos nunca vi uma unidade do Senai fechar”, garantiu Fernando.
O prefeito Diego Singolani anunciou que o Senai continuará atendendo Santa Cruz do Rio Pardo através dos cursos móveis oferecidos por carretas da entidade. Uma delas já estaria em Santa Cruz nesta semana e o objetivo é ampliar a oferta de cursos para diferentes setores da indústria.
A prefeitura ainda vai estudar como ocupar o prédio que abrigou o Senai durante quase vinte anos. A hipótese mais provável é usar a estrutura no complexo “Parque Ecológico Orlando Villas Bôas”, que será inaugurado numa área localizado a poucos metros do já antigo Senai.
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