SOCIEDADE

Filho incentivou aposentado de Santa Cruz a realizar sonho de consumo: um Puma

Geralmente são os pais que realizam sonhos dos filhos. Mas o ex-bancário Miguel Mazzante quebrou essa regra

Filho incentivou aposentado de Santa Cruz a realizar sonho de consumo: um Puma

PAIXÃO: Miguel Mazzante e seu ‘Puma’, cuja fábrica foi fundada por um ourinhense entusiasta do automobilismo brasileiro

Publicado em: 13 de agosto de 2022 às 06:59
Atualizado em: 13 de agosto de 2022 às 07:08

Sérgio Fleury Moraes

É perfeitamente normal um pai fazer de tudo para realizar o sonho do filho. No entanto, o bancário aposentado Miguel Mazzante, 73, conseguiu quebrar a regra e realizar seu “sonho de consumo” por insistência dos filhos. Pai de um casal — Bruno e Natália —, foi o filho homem quem deu o empurrão final: “Pai, vai atrás do Puma”.

Mazzante começou a trabalhar no antigo Banespa (hoje Santander) em 1974 e já na época era obcecado pelo modelo Puma. O automóvel esportivo começou a ser fabricado em 1964 em chassis inicialmente DKW e depois Volkswagen, se tornando um ícone da categoria até a fábrica falir em 1985.

“Era carro de rico. Eu adorava e era meu sonho, mas jamais imaginava comprar um Puma”, admitiu. “Na verdade, posso dizer que eu era um verdadeiro apaixonado pelo carro”, lembrou Mazzante, que também sempre gostou de carros antigos.

Miguel passou sua carreira toda no banco apenas sonhando. Quando se aposentou, teve uma “folguinha” financeira com o saque do FGTS — e sua ideia, então, era comprar um Fusca. Mazzante, por sinal, é o atual proprietário de um Fusca ano 1977 que pertenceu à sua professora do primário, irmã do saudoso frei José Maria Lorenzetti.

Rodas originais são toque de requinte do Puma de Miguel Mazzante

Foi aí que o filho Bruno interveio, quando o pai pesquisava o preço de fuscas. “Pai, vai atrás do Puma”. Os olhos de Miguel brilharam. O sobrinho Tiago deu o toque que faltava, pesquisando na internet todos os modelos Puma à venda.

A “garimpagem” não foi fácil, pois muitos dos veículos eram mais caros do que o imaginado. Foi quando apareceu num dos anúncios a mensagem “relíquia de família”. Mazzante, que até hoje é “desplugado” do mundo digital, teve receio de clicar na mensagem. “As pessoas falavam tanto em vírus que eu fiquei com medo”, contou.

Coube ao filho Bruno novamente ajudar o pai e mostrar que o link não era nocivo. A explicação, porém, veio somente dias depois. Os dois voltaram à internet para acessar o anúncio.

E veio a surpresa: pai e filho se depararam com um carro aparentemente bem conservado, modelo 1977, mas com pintura escura. “Achei estranho, pois era marrom e preto”, conta Miguel.

Interior do veículo: impecável

Na verdade, a pintura era vermelha, mas estava queimada pelo sol e pela poluição de São Paulo. O Puma estava parado havia sete anos, desde a morte do proprietário. Miguel logo entrou em contato com um dos filhos do antigo dono.

“Gostei do carro. Ele me explicou que os bancos haviam apodrecido, bem como os pneus. A capota estava intacta e o motor era novo, embora não funcionasse há anos”, disse.

A negociação foi uma longa novela que durou três meses. Miguel Mazzante estranhou o fato de um carro tão conservado não ter sido comprado por colecionadores. O motivo ele ficou sabendo no telefonema em que acertou o preço definitivo — o problema que afastava compradores era que o Puma ainda estava no inventário da família.

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“Como eram apenas dois filhos, não me assustei com a novidade. Nunca tive medo de inventário. Fechamos um acordo para pagar o carro em três parcelas, a última no fim do processo”, contou. Surpreendentemente, a compra foi realizada sem que Miguel visse o carro de perto, mas apenas a fotografia do modelo.

Contrato assinado, o carro finalmente veio para Santa Cruz. Miguel só descobriu a cor original quando comprou solventes para inúmeras lavagens. Depois entraram em ação os polidores. Surgiu então o vermelho “Ferrari”, e aquilo animou o aposentado.

O carro com capota, ainda intacta

No mecânico, o cuidado com o motor foi extremo. Primeiro, a querosene entrou nos tubos para limpar tudo, depois o giro manual e lento, até que chegou a hora de colocar óleo e experimentar dar a partida com uma bateria nova. “Pegou na primeira”, comemorou o ex-bancário Miguel Mazzante.

Com o carro já andando, Miguel colocou o Puma na garagem e iniciou um trabalho minucioso de limpeza e recuperação. A tapeçaria demorou mais quatro meses e os bancos foram encontrados num desmanche. “Tinha dia em que eu não almoçava ou não jantava. Em outros, entrava no carro às 6h da manhã e só parava de mexer ao anoitecer”, contou.

Valeu a pena tanta paixão. Miguel realizou o sonho de jovem graças ao incentivo do filho. E lá se vão dez anos.

Mazzante não costuma viajar grandes distâncias com o Puma. “Dirijo somente pela região. Mas quando estou sem a capota num retão, acelero e me sinto jovem novamente”, diz, satisfeito. “É uma delícia, a sensação que eu sempre imaginava quando era bancário”.

 

Não há lugar em que o Puma não atraia a curiosidade das pessoas. “Teve um dia em que apareceu um louco, olhou o carro e me ofereceu uma grana preta, mais do que o dobro que eu gastei em dez anos. Sinto muito, eu não vendo”, disse Miguel. Na internet, um modelo com a mesma conservação não sai por menos de R$ 50 mil.

O carro é tão atraente que, não faz muito tempo, Miguel foi procurado por um casal prestes a selar matrimônio. Os dois queriam alugar o carro para levar a noiva à igreja. “Eu avisei que não alugava, mas acabei emprestando o carro”. Antes, porém, o casal precisou passar pelo teste de acomodação no veículo, principalmente com aquele “vestidão” da noiva. “Ficou apertado, mas deu certo”, contou.

No eterno álbum do casamento, lá está o Puma vermelho Ferrari de Miguel Mazzante. Hoje, o filho Bruno também dirige o carro em algumas ocasiões. “Ele merece”, diz Miguel. O ex-bancário ainda possui o Fusca e uma picape Ranger. “Eu posso até vender a camionete, mas sou daqueles antigos. O Fusca e o Puma ficam comigo”, afirmou.

Claro que para os padrões atuais, o desempenho do Puma 1977 é considerado modesto. Mas nenhum carro moderno é capaz de seduzir Miguel Mazzante ou levá-lo a uma viagem de volta aos sonhos de sua juventude. 

 

* Colaborou Toko Degaspari

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