O ex-prefeito e ex-vereador Manoel Carlos Manezinho Pereira morreu na madrugada de sexta-feira, 21
Publicado em: 26 de abril de 2023 às 14:21
Atualizado em: 26 de abril de 2023 às 15:36
Sérgio Fleury Moraes
O ex-prefeito Manoel Carlos Manezinho Pereira morreu na madrugada de sexta-feira, 21, após ser internado na Santa Casa de Misericórdia de Santa Cruz do Rio Pardo. Ele sentiu-se mal no dia anterior, quando foi levado ao hospital. No entanto, não resistiu a uma parada cardíaca. O ex-prefeito foi velado na Câmara Municipal e sepultado no Cemitério da Saudade no final da tarde de sexta-feira.
Manoel Carlos Pereira entrou na política em 1982, quando foi um dos três candidatos a prefeito pelo PMDB, numa época em que um mesmo partido podia lançar até três nomes — era a chamada “sublegenda”. Naquela eleição, mais dois candidatos disputaram pelo antigo PDS, totalizando cinco postulantes.
Nos anos seguintes, ele incorporou o apelido “Manezinho” ao próprio nome. Pecuarista, tinha o sonho de se tornar prefeito e tentou várias eleições, até finalmente ser eleito.
Em 1982, Manezinho não era conhecido como um político tradicional. Filiado ao PMDB, ele conseguiu do diretório municipal uma legenda para se candidatar a prefeito. O Brasil ainda vivia uma ditadura militar e os novos partidos, criados em 1980 a partir da extinção da Arena e do MDB, foram autorizados a lançar mais de um candidato ao cargo Executivo.
Era uma artimanha do regime porque o vencedor seria aquele do partido mais votado, independente de sua votação individual. Assim, o PMDB se viu forçado a lançar o máximo de candidatos em sublegendas para somar o maior número de votos possíveis. Manezinho foi um deles, juntamente com Onofre Rosa de Oliveira e Jorge de Araújo.
O PDS, partido governista que sucedeu a antiga Arena, lançou os candidatos Joaquim Severino Martins e Décio Mendonça. As eleições foram parcialmente gerais, com o eleitor votando para governador, deputados, senador, prefeito e vereadores. Era a primeira vez, desde o golpe militar de 1964, que os brasileiros votavam para governador. E houve uma explosão de votos na oposição, sendo o PMDB de Franco Montoro o maior beneficiado em São Paulo.
O problema de Manezinho, que ainda não tinha um grupo político próprio, era conseguir um vice. A solução encontrada pelo PMDB foi “emprestar” o vice do candidato Onofre Rosa de Oliveira, que era o médico Clóvis Guimarães Teixeira Coelho.
Manezinho fez uma campanha diferente, inclusive promovendo um concurso para escolher seu “slogan” de campanha. Na época, a legislação eleitoral permitia algumas promoções que hoje são proibidas. O foco do candidato, na época, era a juventude de Santa Cruz do Rio Pardo.
Embora cada candidato de um partido tivesse sua campanha individual, na véspera da eleição os três — Onofre, Manezinho e Jorge Araújo — concordaram em promover um comício único de encerramento. Foi na praça Leônidas Camarinha, com a presença do senador Fernando Henrique Cardoso, na época colunista do DEBATE e que em 1994 seria eleito presidente da República.
O eleito no pleito municipal foi Onofre Rosa de Oliveira, com 4.447 votos. No PMDB, Manezinho ficou em segundo, com 2.916 votos. No geral, Manezinho ficou em quarto na eleição de 1982, atrás de Onofre, Joaquim Severino e Décio Mendonça. O curioso é que Onofre Rosa não seria eleito não fossem os votos somados dos outros candidatos do partido a prefeito.
Na verdade, Manezinho sabia que suas chances de vitória em 1982 eram remotas. No entanto, era sua chance para alavancar seu nome na política, de olho nas eleições seguintes.
Em 1988, uma vitória que escapou
Em 1988, numa das maiores disputas eleitorais da história de Santa Cruz, Manezinho já era um nome consolidado na política e se lançou novamente na disputa para prefeito, desta vez na oposição ao PMDB. No entanto, seu adversário era o então vice-prefeito e figura carismática na cidade, o médico Clóvis Guimarães Teixeira Coelho. Mas ele apostava no desgaste da administração de Onofre Rosa.
O voto ainda era no sistema impresso e Manezinho despontava como favorito. Seu vice era o jogador de futebol Benedito Mariani, o “Padeiro”, outro nome muito conhecido. No entanto, a oposição ainda teve outro candidato, o ex-prefeito Joaquim Severino Martins, que fez em 1988 sua última tentativa de voltar a comandar Santa Cruz do Rio Pardo.
A administração de Onofre Rosa, de quem Clóvis era o vice-prefeito, enfrentava um desgaste enorme. Na verdade, Clóvis não era o primeiro nome escolhido por Onofre, que convidou, inclusive, um dos empresários da família Zaia, que recusou. Sem opção, o grupo lançou Clóvis.
Depois de uma acirrada campanha, a contagem dos votos durou dois dias. No primeiro, na apuração da área urbana da cidade, Manezinho saiu na frente. Faltava o distrito de Espírito Santo do Turvo, que a oposição contava como vitória certa, já que o sogro de Manezinho morava no hoje município.
Encerrada a apuração no primeiro dia, Manezinho ganhou na cidade por mais de 100 votos. Seus correligionários se apressaram em fazer uma passeata pelas ruas, com bandeiras da coligação e festejando a provável vitória.
No entanto, havia o dia seguinte e a contagem dos votos em Espírito Santo do Turvo. Dias antes, o prefeito Onofre Rosa, já pressentindo a derrota no antigo distrito, instalou uma nova antena de televisão em Espírito Santo, que passou a ter as imagens da Globo e outros canais.
Reaberta a contagem dos votos, Manezinho dava entrevistas num dos cantos do ginásio de esportes, enquanto Clóvis Guimarães, sozinho e com um rádio na mão, permaneceu sentado na arquibancada, aguardando um milagre. “A esperança é a última que morre”, disse à reportagem na época.
De repente, os correligionários de Clóvis começaram a gritar. O médico teve uma votação consagradora em Espírito Santo do Turvo, a ponto de virar o resultado adverso na cidade e vencer as eleições por 258 votos de diferença. Clóvis se elegeu com 6.884 votos, contra 6.626 de Manezinho.
A oposição, na verdade, teve um número muito grande de votos, uma vez que Joaquim Severino Martins recebeu 4.197 votos.
Em 1992, finalmente o
sonho de se tornar prefeito
Manezinho disputou duas eleições seguidas e foi derrotado,
mas se uniu a Joaquim Severino para finalmente vencer em 1992
Abalado com a derrota de 1988, Manezinho chegou a declarar que estava se retirando da política. No entanto, a história dá suas voltas e em 1992 ele voltou a discutir uma nova candidatura. Desta vez, havia a possibilidade de se unir a Joaquim Severino Martins, que se tornou seu vice na convenção da coligação partidária.
Por outro lado, o PMDB lançou o vice-prefeito Eduardo Santos Blumer, uma indicação pessoal do então prefeito Clóvis que acabou “rachando” o grupo e facilitando a campanha de Manezinho e Joaquim. Na convenção do PMDB, aliás, houve disputa entre Blumer e o grupo de Onofre Rosa e Otacílio Parras. Derrotados, Onofre sai candidato a vereador e Otacílio passou a ser um dos coordenadores da campanha de Manezinho.
Houve um terceiro candidato, Wilson Primo de Souza, que não teve influência na disputa acirrada entre Manezinho e Blumer. Com o peso eleitoral de Joaquim, finalmente Manezinho conquistou a prefeitura de Santa Cruz do Rio Pardo. A diferença entre os dois principais candidatos não atingiu 1.000 votos.
Governo teve oposição acirrada
Na administração, Manezinho enfrentou muitos problemas e uma oposição acirrada, principalmente por parte do então vereador Adilson Mira, eleito pelo próprio grupo do prefeito e que na eleição seguinte seria candidato a vice na chapa da oposição.
As finanças públicas ficaram desorganizadas e Manezinho culpou os sucessivos planos econômicos do governo federal e a conversão da moeda na passagem de uma inflação mensal alta para uma moeda estável do Plano Real, implantado em 1994.
No entanto, Manezinho também cometeu muitos erros. Mal assessorado, empregou parentes na administração, numa época em que o combate ao nepotismo ainda estava em discussão. Porém, era sincero. Em entrevista ao jornal sobre o tema, disse que seu papel como cidadão era “proteger” a família.
Ele também errou ao encomendar uma logomarca para seu governo. Uma agência de um santa-cruzense em São Paulo desenvolveu um desenho em que um sol nascente imitava a letra “M” de Manezinho. O bilhete do publicitário — que admitiu a ligação entre o desenho e o nome do prefeito — acabou chegando à redação do jornal, que denunciou o caso. O Ministério Público instaurou inquérito e Manezinho foi obrigado a apagar todas as logomarcas que se espalhavam pela cidade.
O prefeito ainda teve dificuldades de relacionamento com o governo do Estado, cujos mandatários não eram de seu partido político. Ao tomar posse, o governador era Luiz Antônio Fleury Filho, do PMDB. No final da gestão, São Paulo passou a ser administrada por Mário Covas, do PSDB.
Entretanto, Manezinho fez várias obras em seu governo. No começo, ao inaugurar casas populares iniciadas no governo anterior, ele teve a humildade de convidar o ex-prefeito Clóvis Guimarães Teixeira Coelho para a solenidade.
Sua administração também investiu na agricultura e construiu no distrito de Caporanga um barracão para produtores rurais.
Ele ainda acertou ao nomear o vice Joaquim Severino Martins para comandar a Codesan.
Manezinho construiu o “Mercado Municipal Pedro Queiroz”, na área pública em que até pouco tempo funcionava a revendedora Volkswagen. Era uma tentativa de aproximar o pequeno produtor rural da população consumidora, com ofertas de produtos hortifrutigranjeiros diretamente das propriedades.
O projeto, porém, fracassou e o mercado foi fechado algum tempo depois.
Foi no governo de Manezinho que Santa Cruz do Rio Pardo implantou a “Delegacia da Mulher” em 1993. A inauguração trouxe à cidade o então secretário de Segurança Pública de São Paulo Michel Temer, que muitos anos depois seria presidente da República.
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