CULTURA

A cartinha que valeu um avião

A cartinha que valeu um avião

Publicado em: 11 de julho de 2017 às 14:58
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 21:51

José Eduardo tinha 9 anos quando escreveu ao

prefeito pedindo um avião para o aeroclube


PRECOCE — Catalano escreveu texto para o prefeito aos 9 anos de idade

PRECOCE — Catalano escreveu texto para o prefeito aos 9 anos de idade



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Há duas semanas, quando leu uma reportagem no DEBATE sobre o aviador Eça Taveiros, o advogado José Eduardo Catalano, 83, reviveu suas memórias e se lembrou de uma carta que escreveu ao prefeito Leônidas Camarinha pedindo um avião para o aeroclube de Santa Cruz do Rio Pardo. Foi em 1942, quando o jornalista Assis Chateaubriand iniciou a “Campanha Nacional da Aviação” para levar aviões ao interior do Brasil. Pois o manuscrito ainda está intacto, após mais de 70 anos.

“Eu a encontrei numa gaveta e está bem conservada”, lembra José Eduardo, que foi aluno do Grupo Escolar que ainda nem se chamava “Sinharinha Camarinha”. A carta, escrita quando o advogado tinha apenas nove anos, disputou um concurso na escola e foi a escolhida para ser enviada ao então prefeito Leônidas Camarinha. O surpreendente é que o texto conseguiu sensibilizar autoridades e o aeroclube de Santa Cruz do Rio Pardo ganhou um novo avião, batizado de “Vitor Konder”, em homenagem ex-ministro da Aviação que morrera no ano anterior.

Carta foi escrita por Catalano em 1942

Carta foi escrita por Catalano em 1942



Todas as classes mais adiantadas do Grupo Escolar se envolveram no concurso. Uma redação seria escolhida para pedir o avião ao prefeito Leônidas Camarinha. Na verdade, a solicitação seria no sentido de Camarinha se esforçar junto ao jornalista Assis Chateaubriand para conseguir uma aeronave para Santa Cruz do Rio Pardo.

Catalano, por sinal, diz que não se lembra de detalhes daquela época, mas garante que se empenhou muito em escrever o texto pedindo providências do prefeito na doação do avião. Até a caligrafia foi impecável. “Eu estive, inclusive, na solenidade de entrega do avião. Mas era menino e possivelmente fiquei brincando no campo de aviação”, lembra o advogado. No entanto, poucos anos depois ele já estava empregado na rádio Difusora Santa Cruz, sendo o primeiro funcionário da emissora com carteira assinada. Surpreendentemente, ele trabalha na mesma Difusora até hoje, onde apresenta o programa “Loteria Musical”.

José Eduardo Catalano cresceu, virou radialista e passou a viajar com frequência para a capital quando Santa Cruz do Rio Pardo ganhou uma linha aérea para São Paulo pela Vasp. Já eram os anos 1950, quando os lendários Douglas DC-3 pousavam no aeroporto da cidade, pilotados invariavelmente pelo santa-cruzense Eça Taveiros.

“Era um voo muito seguro, embora curto. Nunca passei apuros no DC-3 da Vasp”, conta o advogado. Segundo ele, os voos eram realizados às segundas, quartas e sextas. De manhã, às 8h, o avião partia para São Paulo e voltava no final da tarde, às 18h. “Muitos empresários usavam esta linha”, conta.

O advogado, aliás, usou o avião da Vasp para, já em São Paulo, pegar um voo da ponte aérea e desembarcar no Rio em 1950, quando fez a cobertura da Copa do Mundo pela rádio Difusora Santa Cruz. Foi uma experiência traumática, já que o Brasil perdeu a final para o Uruguai.

Voo inaugural do “Pedro Camarinha” levando a mãe do prefeito Leônidas Camarinha

Voo inaugural do “Pedro Camarinha” levando a mãe do prefeito Leônidas Camarinha



Avião doado

Nos anos 1940, “Chatô” — como o dono dos “Diários Associados” e fundador da Rede Tupi de Televisão foi chamado na biografia escrita por Fernando Morais — lançou a campanha “Deem Asas ao Brasil”, durante o governo de Getúlio Vargas, para equipar os pequenos aeroclubes brasileiros. Doações em dinheiro, materiais ou até aeronaves foram usadas para fomentar a aviação no interior do País. Chateaubriand, por sinal, até hoje é o brasileiro com maior número de horas em voo da história.

O objetivo velado da campanha também era movimentar os céus brasileiros numa época de Segunda Guerra Mundial. Seria uma maneira de ajudar a fiscalização do espaço aéreo do País.

O santa-cruzense José Augusto Dias, professor aposentado hoje morador em São Paulo, lembrou, em artigo publicado no DEBATE em 2006, que esteve presente na inauguração do aeroclube no antigo campo de pouso localizado no bairro da estação. O local não existe mais e a única lembrança está no “apelido” de “Creche do Hangar”, construída no terreno do antigo aeroporto. O avião Vitor Konder fez o voo inaugural com a presença de autoridades e do então prefeito Leônidas Camarinha.

Políticos aguardam o DC-3 da Vasp no aeroporto de Santa Cruz do Rio Pardo, na década de 1950

Políticos aguardam o DC-3 da Vasp no aeroporto de Santa Cruz do Rio Pardo, na década de 1950



Pouco tempo depois, o aeroclube ganhou um novo avião, batizado de “Pedro Camarinha”, fruto de doação dos empresários santa-cruzenses Nagib Queiroz e Plácido Lorenzetti.

A também professora aposentada Maria Margarida Sampaio Gouveia contou em 2006 que os dois aviões foram se desgastando ao longo dos anos, inclusive com a troca de peças entre as aeronaves, descaracterizando-as totalmente. Na época, o ex-cartorário Benedito Carlos da Silva brincava que os aviões se misturaram tanto que passaram a se chamar “Pedro Konder” e “Vitor Camarinha”.

O aeroclube acabou nos anos 1960, assim como os voos regulares da Vasp. O campo de aviação ainda recebeu pequenas aeronaves até o início da década de 1980, quando foi desativado para a construção de um conjunto habitacional.
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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