CULTURA

Nath Camilo: 'Imigrantes, refugiados e judiação' (edição de 15/07/2018)

Nath Camilo: 'Imigrantes, refugiados e judiação' (edição de 15/07/2018)

Publicado em: 20 de julho de 2018 às 11:28
Atualizado em: 28 de março de 2021 às 10:34

Imigrantes, refugiados e judiação

Nath Camilo

Da Equipe de Colaboradores

O êxodo dos refugiados para a Europa representa uma situação triste e desoladora de pessoas que, ameaçadas pelos seus próprios países, não conseguem enxergar uma alternativa além de fugir de seus territórios e abandonar suas memórias e seus familiares. Desesperados por uma nova vida, que não seja ameaçada pelas guerras civis, religiosas e perseguição política, eles se veem com mínimas condições de encontrar um porto seguro. A saída para milhares deles é a travessia pelo mar e a chegada à costa Mediterrânea, um lugar onde desejam ser aceitos como seres humanos e recomeçar a história.

As guerras religiosas e a repressão política, além de muita pobreza, é um duro contexto desses refugiados. Somente neste ano, mais de 220 mil chegaram à Europa pelo Mediterrâneo. Seus principais destinos são Inglaterra, França, Itália e Grécia. Mas antes de chegarem, esses seres humanos vítimas da guerra, da opressão e da pobreza, passam pela beira da morte na travessia clandestina e arriscada pelo mar, centenas morrem antes de pisarem em solo firme e tentarem uma nova vida. Mas aqueles que conseguem chegar, têm uma nova batalha pela frente: falta de documentação, risco de serem deportados e o xenofobismo.

Os governistas de extrema direita querem dificultar os processos imigratórios, a população europeia também passa por diversas crises econômicas, embora bem mais amenas e em situações muito diferentes. O território é limitado, o continente europeu é pequeno e a densidade demográfica é grande e bem distribuída. A saturação econômica e espacial da Europa leva seus indivíduos a situações intensas de ódio e intolerância. Na Alemanha, manifestações violentas vão desde protestos nas ruas pedindo a saída dos imigrantes, até a agressão física em lugares públicos.

Na França, a extrema direita é representada por Marine Le Pen, que se retrata como defensora da economia do país, já chegou a ponto de se declarar antissemita publicamente, é islamofóbica e contra a dupla cidadania para imigrantes. Para ela, a ajuda para refugiados é perda de dinheiro.

O racismo está presente na Europa em toda a sua história, levando a situações de morte, perseguição, expulsão e conversão à força até meados do século XIX. Mas se houve opressão tão violenta, tão crítica e tão dramática durantes séculos, contra povos que detinham poder monetário e condições de autonomia, ainda mais contra refugiados pobres, sem estudos, sem possibilidade, que praticamente fogem de seus territórios com a roupa do corpo e uma garrafa de água nas mãos. Seres humanos que batem em retirada, amedrontados pela fome, pela repressão política e por muitas vezes, presenciarem suas casas e sua vizinhança serem destruídas por bombas que as atingem.

A situação é angustiante, aflitiva e atroz, o refugiado não escolhe um país porque planejou por anos morar para trabalhar ou estudar, ele simplesmente teve que fugir para proteger sua vida. Isso gera uma resistência da parte de quem vai acolher essas pessoas, justamente porque não há no mundo uma situação econômica e espacial confortável para ampará-los. O povo brasileiro sempre ouviu falar de si mesmo que é um povo receptivo, prestativo e caloroso. Mas recentemente houve casos de violência física e verbal contra os imigrantes que fogem da Venezuela e chegam em Roraima. Boa Vista que é sua capital, possui pouco mais de 300 mil habitantes, cheia de bairros planejados, ruas arborizadas e amplas avenidas. A cidade não possui estrutura para dar tratamento a esses imigrantes, e o que se presencia hoje são praças cheias de venezuelanos que passam a morar ali mesmo, sem água potável ou banheiro. Vivem em situações precárias, pedindo esmolas, tomam calçadas com barracas e improvisam qualquer comércio ambulante.

A maior situação conflitante é que, mesmo assim, eles se sentem melhor do que em seus países, onde um pacote de arroz custa mais caro que um salário mínimo. E para garantir algum sustento, eles passam a cobrar muito barato para trabalhar, acabam concorrendo com uma vaga de emprego de modo desigual contra um brasileiro. E isso tem gerado uma onda de ódio a esses imigrantes. Muito se diz sobre a xenofobia europeia, muito se diz contra o ódio do europeu contra imigrantes e refugiados. O novo milênio tem mostrado um fluxo migratório em diversas partes do mundo, mas, até agora, há pouco indício de que o outro possa entender e aplicar os direitos humanos através da acessibilidade e do asilo ao que foge da guerra, da perseguição política, da fome e da pobreza.

O brasileiro se sente orgulhoso em dizer que é acolhedor, que gosta de abraçar, que gosta de ajudar. O brasileiro estufa o peito para contar sobre histórias de preconceito e xenofobia dos europeus. Mas o brasileiro agride física e verbalmente o venezuelano imigrante que chega em busca de uma melhoria econômica e de liberdade, e escraviza haitianos e colombianos em fábricas clandestinas de roupa em grandes centros urbanos. Será mesmo que só os europeus possuem sua maioria racista, violenta, intolerante e pouco acolhedora? Quem seriam os xenófobos no mundo?

* Nath Camilo é escritora

santa-cruzense, autora de

“A Névoa Cinza do

Paraíso” e outros livros
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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