CULTURA

Madeira ‘desenhada’

Madeira ‘desenhada’

Publicado em: 02 de agosto de 2018 às 20:46
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 07:29

Artista plástico, Anor Cabral Rehder encontrou sua

verdadeira arte na madeira, que esculpe com facilidade

ESTULTOR — Em sua casa, Anor Rehder mostra escultura de um cavalo



Prestes a completar 75 anos, Anor Cabral Rehder continua fazendo sua grande paixão, a manipulação de madeiras. Escultor, ele começou nas artes quando ainda era criança e costumava desenhar carros futuristas, cujas imagens foram cuidadosamente guardadas pela mãe e hoje são exibidas com orgulho pelo artista. Mas é na madeira que Anor se encontrou como artista.

Ex-militar (leia ao lado), ele diz que teve incentivo de muitas pessoas para se dedicar às artes. Uma delas foi o saudoso dentista Argemiro Silveira. “Quando eu o conheci, ele me perguntou o que eu gostaria de fazer para deixar de ser empregado, se eu tinha alguma vocação. Respondi que queria pintar e foi ele quem comprou todo o material, desde tela às tintas. Me incentivou muito. O Argemiro, na verdade, tinha um grande conhecimento artístico”, afirmou.

Logo no início, Anor foi convidado para participar de uma exposição no Itaú. Pintou um quadro usando apenas os dedos, mas ficou com vergonha de expor sua obra. “Na verdade, eu deixei o quadro na prefeitura, mas alguém o levou à exposição. Havia obras de artistas renomados, como Almeida Prado e outros e, sinceramente, eu quase retirei meu quadro do saguão de tanta vergonha. No fim, para minha surpresa e orgulho, o quadro foi premiado com medalha de prata”, contou.

Mas a tinta, antes amiga, passou a incomodar o artista, possivelmente por uma reação alérgica. Um dia, caminhando na zona rural, Anor encontrou uma prancha jogada no chão. Era muito pesada e até hoje o artista não sabe o tipo da madeira. “Na hora eu vi Cristo, inclusive com os cabelos já desenhados pelas ranhuras. Resolvi manipular e surgiu minha primeira obra na madeira”, contou. Nascia, então, o Anor Rehder escultor, aliás a arte em que ele se realizou.

O Cristo esculpido ainda ornamenta uma das paredes de sua casa, na verdade uma chácara entre o bairro da Estação e o Parque das Nações. O ano era 1991, quando a produção do escultor foi intensa. “Fiz até uma porta com detalhes esculpidos, uma encomenda que recebi. Nunca havia tentado antes”, diz.

O interessante é que Anor não costuma desenhar antes o tema na madeira. “Eu vou fazendo na hora conforme a imagem vai surgindo na minha mente”, explicou.

MISTÉRIO — Espada de prata pode ter sido presente de d. Pedro II a um antepassado



Espada de prata

Além das aventuras nas artes, Anor Rehder tem uma história fantástica que envolve seus antepassados. Um dia, teve um sonho — “ou talvez uma visão” — sobre um imperador entregando a ele uma espada. Contou a um amigo espírita e recebeu a explicação de que o próprio Anor poderia ter sido algum antepassado do século XIX, em vidas passadas, na época do Império. Para completar, ele ganhou um livro de presente onde encontrou exatamente a história de um parente longínquo que, de fato, recebeu uma espada do imperador brasileiro d. Pedro II.

A narrativa perseguiu Anor até que alguém apareceu para entregar a ele uma espada. “Eu nem sei quem era, mas o sujeito explicou que veio a mando de alguém. Me entregou e disse que a espada me pertencia”, contou.

A arma, inteiramente de prata, está pendurada na sala da casa de Anor Rehder. É de prata e possui pequenos brasões entalhados em sua lâmina. No cabo, existe a inscrição “P II”, possivelmente as iniciais do imperador Pedro II.




O primeiro quadro de Anor já premiado em exposição



Na ditadura,

serviu ao SNI

Não é por acaso que Anor Rehder costuma conversar citando nomes de generais ou coronéis, ou mesmo lembrando frases do ex-presidente João Baptista Figueiredo. Ele já foi policial rodoviário e, em razão da pouca idade, acabou sendo transferido para a antiga Força Pública. Na ditadura militar, acabou atuando no Serviço de Inteligência quando estava lotado num quartel general. Fez, inclusive, um curso de fotografia aérea na Aeronáutica.

É um passado que contrasta com Anor, que possui aquela calma característica dos artistas. Mas o santa-cruzense acabou trabalhando até em serviços ligados ao antigo SNI — Serviço Nacional de Informações. “Trabalhei com o capitão Rubens Gonçalves, que hoje é desembargador aposentado e mora em Santa Cruz”, conta.

Na área militar, aliás, Anor ganhou a admiração de seus superiores exatamente por dominar o desenho. “Uma vez fui designado para um setor de projetos porque eu disse que sabia desenhar em escalas. Mas tive de estudar correndo depois de ser nomeado”, conta.

Rehder diz que resolveu abandonar a carreira — “dar baixa”, no jargão militar — quando a ditadura começou a ficar debilitada. Como tinha informações sobre as operações que envolveram a perseguição do regime ao capitão Lamarca e a Carlos Marighela, que lideravam guerrilhas contra o regime militar, Anor diz que começou a receber ameaças. “Eram constantes. Diziam que eu iria morrer atropelado e conheciam até o trajeto que eu fazia”, diz. “Então, resolvi voltar para o interior”.




Nos anos 1980, enfeites natalinos da Conselheiro Dantas foram feitos por Anor, a pedido de Onofre Rosa



Anor construiu os enfeites

natalinos no governo Onofre

Anor Rehder foi muito amigo do ex-prefeito Onofre Rosa de Oliveira. Nos anos 1980, já conhecendo os dotes artísticos de Anor, o então prefeito pediu a ele que fizesse os enfeites natalinos, na época restritos à rua Conselheiro Dantas, a principal artéria comercial de Santa Cruz do Rio Pardo. “Eu me assustei e achei que não seria capaz. Mas topei o desafio”, contou.

O artista disse que demorou pouco mais de 60 dias para enfeitar as várias quadras com arcos, estrelas e placas desenhadas contendo frases natalinas. “Todo mundo gostou e fui muito elogiado”, lembrou.

* Colaborou Toko Degaspari
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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