CULTURA

O trem não apita mais

O trem não apita mais

Publicado em: 07 de julho de 2019 às 16:31
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 07:55

Fotografia tirada há mais de um século mostra

inauguração do ramal ferroviário de Santa Cruz

EM 1915 — Foto da revista “A Cigarra” de 1915 mostra a estação ferroviária de Santa Cruz



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Embora não exista mais desde a década de 1960, a ferrovia deixou marcas importantes em Santa Cruz do Rio Pardo, mas há poucas imagens da época áurea dos trilhos da Sorocabana que ligava o município a Bernardino de Campos através de um ramal. No entanto, o acervo do santa-cruzense Edwin Brondi de Carvalho, filho de tradicional e antiga família, possui uma rara fotografia da inauguração da estação ferroviária de Santa Cruz, fato que aconteceu em 1908.

Até hoje, eram conhecidas meia dúzia de fotos antigas, inclusive uma de trabalhadores na construção da estação ferroviária, onde hoje funciona o Museu Municipal “Ernesto Bertoldi”. Uma das imagens, do início do século XX, mostra o próprio ferroviário Ernesto Bertoldi entre seus companheiros. Outra, provavelmente de 1906, exibe os trabalhadores na construção da estação.

Mas a foto da inauguração — muito bem conservada num pequeno quadro — nunca foi publicada ao menos pelo DEBATE, nos quase 42 anos de existência do jornal.

É a imagem da primeira locomotiva que chegou em Santa Cruz do Rio Pardo, sob os olhares curiosos de dezenas de pessoas. A foto é ainda mais fascinante quando se imagina que, entre as autoridades de terno, podem estar vultos como Antônio Evangelista da Silva, o “Tonico Lista”.

Mas a imagem também é emblemática porque na frente da locomotiva há bandeiras e um misterioso brasão, que poderia ser da própria Sorocabana. A foto não é tão nítida a ponto de desvendar o brasão. O historiador Celso Prado, por exemplo, disse que a pequena bandeira, ao lado do brasão, certamente é a do município na época. “Há uma cruz”, destaca.

Nas laterais e em cima de um vagão também há bandeiras, provavelmente do Brasil e do Estado de São Paulo. No verso da foto, há um carimbo do advogado Américo França Paranhos, provavelmente o primeiro “dono” do quadro.

Consultado, o especialista em ferrovias Ralph Mennucci Giesbrecht, de São Paulo, estudioso do assunto que mantém sites de memória ferroviária, a flamula pode ser da colônia italiana na cidade. “Mas não é uma certeza”, ponderou.

OPERÁRIOS — Em 1906, trabalhadores constroem a estação



O ramal de Santa Cruz surgiu porque a cidade foi retirada do projeto original do tronco da Estrada de Ferro Sorocabana. Ele foi totalmente financiado pelo município e gerou uma enorme dívida que perdurou durante décadas.

A estação de Santa Cruz foi inaugurada no dia 6 de abril de 1908. No mesmo dia, o governador Jorge Tibiriçá desembarcou em outras estações do município para inaugurar o tronco da Sorocabana. Afinal, pertenciam a Santa Cruz naquela época as estações de Ipaussu, Bernardino de Campos, Baptista Botelho, Chavantes, Canitar, Sodrélia, Pinto, Ourinhos, Salto Grande, Ibirarema e Chavantes.

Segundo o historiador Celso Prado, a Sorocabana possibilitou a Santa Cruz do Rio Pardo possuir mais médicos, nos idos de 1913, do que nos anos 1970.

Em 1961, sob protestos do então prefeito Onofre Rosa, o governador Carvalho Pinto assinou decreto autorizando a supressão do ramal ferroviário de Santa Cruz. A extinção completa aconteceu cinco anos depois, em outubro de 1966.



  • Publicado na edição impressa de 30/06/2019


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