CULTURA

Fusca: o fim de uma era, mas não da paixão pelo automóvel

Fusca: o fim de uma era, mas não da paixão pelo automóvel

Publicado em: 28 de julho de 2019 às 12:52
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 20:48

Carro deixou de ser produzido no mundo na semana

passada, mas desperta interesse e tem até colecionadores

Pneus do Fusca de Carlos são equipados com pneus de banda branca



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Nenhum carro despertou tantos sentimentos — amor ou ódio — como o Volkswagen Fusca, um projeto que, embora encomendado por Adolf Hitler, sobreviveu à Segunda Guerra Mundial e se consagrou como o automóvel mais vendido no planeta. No dia 10, a última unidade do Fusca — já com linhas mais modernas e rebatizado de “Beetle” — deixou de ser fabricado no México, encerrando definitivamente a produção mundial do carro pela Volkswagen.

No Brasil, a história da fabricação do Fusca se confundiu com os anos JK, quando o País experimentou um grande desenvolvimento no governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira. O carro, na verdade, começou a ser vendido no Brasil em 1950, importado da Alemanha e montado no Brasil pela Brasmotor, já que a Volks ainda não possuía fábricas em território nacional.

‘ANOS DOURADOS’ — JK inaugura a produção do Fusca no Brasil



Em 1959, o primeiro Fusca brasileiro saiu da fábrica inaugurada num galpão alugado pela Volks no bairro do Ipiranga, em São Paulo. Embora já com as formas arredondadas que o caracterizaram durante décadas, o Fusca tinha motorização 1.200cc e a fábrica sofria para alcançar o índice de nacionalização de 54%, exigido pelo presidente Juscelino.

Há curiosidades, como o lançamento de um modelo com teto solar em 1965, que logo ganhou o apelido de “cornowagen” e, amplamente rejeitado pelos homens, saiu de linha. Em 1967, o Fusca ganhou motor 1.300cc, sistema elétrico de 12V, novas lanternas e luz de placa. No entanto, as linhas continuaram as mesmas.

Em 1984, a Volks inovou o Fusca com motor 1.600cc, freios a disco na dianteira e uma lanterna maior na traseira, que ganhou o apelido de “Fafá”. Dois anos depois, apesar de ainda ser o segundo carro mais vendido no Brasil, a fábrica paralisou a produção, admitindo que o modelo era muito obsoleto.

Em 1993, atendendo a um apelo do presidente Itamar Franco, a Volkswagen retomou a produção do Fusca, incentivada pela “Lei do Carro Popular”. A fabricação foi definitivamente suspensa em 1996, quando o Fusca só continuou sendo produzido no México, já na versão “Beetle”. Na semana passada, as últimas 65 unidades do automóvel foram colocadas à venda somente pela internet.

Admirador

Apesar de não ser mais produzido no planeta, ainda há milhões de Fusca circulando. No Brasil, somente o Estado de São Paulo possui mais de 800 mil modelos ainda rodando, dos quais 6.430 possuem a cobiçada placa preta, que indica um automóvel totalmente original, geralmente em poder de colecionadores.

Em Santa Cruz, embora não se considere colecionador, o motorista Carlos Eduardo Scacchetti, 43, há oito anos restaurou um Fusca 1970, o primeiro modelo com motorização 1.500. “Hoje eu não vendo. Peguei amor por ele”, contou Carlos. O motorista possui até o manual do veículo, também em ótimo estado de conservação.

Ele lembra que pagou R$ 3,5 mil pelo carro, que não estava em boas condições. “Já investi uns R$ 20 mil, por isso o Fusca não tem preço”, diz. “Na minha família, todo mundo já teve um Fusca”, contou. O modelo do motorista tem uma suspensão modificada, com regulagem de altura.

Carlos costuma passear com o carro no final de semana, mas também participa de encontros do modelo. “Ele chama muito a atenção. É só estacionar e as pessoas se aproximam. Muitos querem comprar”, disse. Carlos disse que, para quem faz ofertas, não costuma colocar preço no Fusca. “Tenho medo da pessoa aceitar”, diz.

ROBUSTO — Segundo “Furgão”, Fusca é um dos mais carros mais robustos já fabricados



Funileiro é especialista em Fuscas

Modelo dos anos 1960 aguarda restauração na funilaria de Elci



Ele foi proprietário de menos cinco Fuscas e já reformou centenas. O funileiro Elci Antonio Singolani, que dirige uma oficina “familiar” com mais de 60 anos de existência, virou um especialista em reformar Fuscas. Na semana passada, havia quatro modelos na oficina da rua Marechal Bitencourt. Há um mês, eram onze.

Elci conta que, muitas vezes, faz um Fusca a partir de dois carros. “Ainda bem que as peças ainda são fáceis de se encontrar. O problema é que as novas não têm qualidade e a gente procura carcaças mais velhas”, diz.

O funileiro, conhecido como “Furgão”, garante que, para restauração, é mais indicado um modelo com lata podre, embora original. “É muito melhor, pois a qualidade final vai agradar o cliente”, diz. Elci confirma que muitos proprietários gastam mais na restauração do que o custo real do Fusca.

A funilaria foi fundada por Primo Singolani, pai de Elci, também proprietário de vários Fuscas, embora preferisse a antiga Variant. “A maioria das restaurações que aparece são encomendadas por laços sentimentais e de família. Mas ainda há muitos Fuscas que estão na ativa”, diz.



  • Publicado na edição impressa de 21/07/2019


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