CULTURA

Nossa memória preservada

Nossa memória preservada

Publicado em: 02 de setembro de 2019 às 19:29
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 14:42

Empresas fascinam clientes com painéis

de fotos antigas de Santa Cruz do Rio Pardo

Painéis do supermercado São Sebastião



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Diz o ditado que um povo que não preserva a memória, não merece ter futuro. Pois em Santa Cruz do Rio Pardo vários comerciantes reconhecem a importância da história e resolveram expor fotos antigas da cidade em seus estabelecimentos. Em alguns locais, como na loja Lorenzetti Calçados e na Farmácia Santa Cruz, há gigantescos painéis com imagens. Todos garantem que as iniciativas fazem sucesso entre os consumidores.

No supermercado São Sebastião, fotos do século passado estão expostas acima dos caixas, logo na entrada do estabelecimento, e numa das paredes da lanchonete, mais ao fundo. O único problema é que, ao pagar a conta, na saída da loja, o consumidor deve olhar para cima.

Segundo o empresário Lourival Botelho, o projeto foi implantado há três anos, quando o grupo teve a ideia de mostrar um pouco da história de Santa Cruz do Rio Pardo. As fotografias foram cedidas pelo “Museu Municipal Ernesto Bertoldi” e escolhidas a dedo por Lourival.

Em seguida, a direção providenciou a ampliação e instalou os painéis em duas alas do supermercado. “Chama muito a atenção. Muita gente fica olhando, alguns de forma mais compenetrada”, disse.

HISTÓRIA EM SÉRIE — Acima dos caixas, na entrada do supermercado, há uma fileira de painéis com fotos históricas de Santa Cruz do Rio Pardo



Lourival é filho de uma tradicional família de Santa Cruz, com raízes na política desde o início do século passado. O pai, Sebastião Botelho, por exemplo, foi vereador, presidente da Câmara e candidato a vice-prefeito na chapa de José Carlos Camarinha em 1968. Claro que, com toda esta influência, o empresário só poderia ser um apaixonado pela história de Santa Cruz.

A família ainda possui muitas fotos arquivadas. “Era minha mãe quem guardava e, hoje, este trabalho está a cargo da minha esposa, Yone”, explicou o empresário. Ele lamenta que, atualmente, as fotografias já não são feitas em papel e o mundo digital fica restrito aos computadores. Se as imagens vão se manter no futuro, ainda é uma incógnita.

Talvez seja um dos motivos pelos quais os painéis fascinam tanta gente. Alguns clientes, segundo Lourival, chegaram a reconhecer parentes em imagens antigas. É o caso da família Gouveia, que possui um ancestral numa foto do Clube Náutico, à beira do rio Pardo, da década de 1930.

“Pessoas que moravam em Santa Cruz e se mudaram, também encontram parentes nas imagens”, conta Lourival.

O próprio empresário conhece a história de algumas fotografias, como da década de 1970, quando ainda era criança. Duas delas são de um feriado de Corpus Christi, primeiro com a confecção de tapetes nas ruas e, depois, com a procissão. “Havia concursos nas escolas para premiar o melhor enfeite e o evento envolvia alunos e professores”, lembrou. As imagens mostram políticos que até pouco tempo ainda estavam vivos, como os ex-prefeitos Aniceto Gonçalves e Joaquim Severino Martins.

Mas também há fotografias de pontes de madeira — no centro da cidade — que já não existem, estabelecimentos como os bancos Inco e Mercantil, avenidas calçadas com paralelepípedos, agências de automóveis dos anos 1920 e imagens da exuberante vegetação urbana do passado.

Como a repercussão entre os clientes foi boa, a direção do supermercado estuda ampliar a memória fotográfica, expondo novas imagens em outras alas.

‘FOME CULTURAL’ — Lourival Botelho mostra painéis que ficam na parede da lanchonete do supermercado



Meio Ambiente

A família Botelho tem tradição na preservação não apenas do passado de Santa Cruz do Rio Pardo, mas também do Meio Ambiente. Quando o novo prédio do Supermercado São Sebastião começou a ser construído na avenida Clementino Gonçalves, o casal pioneiro Sebastião e Tereza Botelho, em conjunto com os filhos, decidiu manter as árvores do estacionamento principal. Todas foram preservadas, mesmo o supermercado perdendo algumas vagas.

Somente anos depois, algumas caíram pela ação de fortes chuvas. “Nunca ninguém se feriu, mas uma delas destruiu uma moto, cujo proprietário foi ressarcido pela empresa”, contou Lourival Botelho.

Hoje, o São Sebastião permanece na vanguarda ambientalista. A lanchonete, por exemplo, não oferece mais canudinhos de plástico. Só há copos à disposição do cliente que, claro, ainda pode encontrar o produto nas gôndolas para levar para casa. A iniciativa é elogiável porque somente alguns grandes centros do Brasil — como o Rio de Janeiro — aprovaram leis abolindo o canudo dos estabelecimentos.




As paredes da loja remetem a janelas que mostram o passado



Loja de 85 anos tem

imagens da mesma rua

Fundada em 1934, a ‘Lorenzetti Calçados’ tem painéis da

rua Conselheiro Dantas que mostram até o prédio antigo

RETRÔ — Lúcia, com o filho, mostra provador original de chapéus



A loja Lorenzetti Calçados, na rua Conselheiro Dantas, é uma das mais antigas da cidade. Fundada por Adelino Lorenzetti no dia 22 de março de 1934, a loja fica na quadra anterior e era especializada em consertos de sapatos. Pouco tempo depois, passou a oferecer calçados e em 1945 mudou-se para o prédio atual. Décadas depois, a loja ficou sob comando do filho do pioneiro, Alcir. Com sua morte, há 27 anos, a filha Lúcia Maria Lorenzetti, 53, assumiu a Lorenzetti Calçados.

Segundo ela, em 2012 houve a necessidade de uma reforma, quando surgiu a ideia de instalar painéis gigantes com fotos antigas de Santa Cruz. “Eu planejei modernizar a loja sem mudar a estrutura e o estilo. Assim, uma parte da loja ganhou imagens das décadas de 1920, 1940 e 1950, enquanto a ala esportiva tem fotografias antigas da Esportiva Santacruzense”, contou. Uma das fotos esportivas mostra o tio de Lúcia, Álvaro Lorenzetti, como goleiro do time.

HISTÓRIA — Painéis com imagens gigantes fcoram espalhados pelas paredes da “Lorenzetti Calçados”



O interessante é que as fotografias da cidade retratam exatamente a rua Conselheiro Dantas, inclusive uma da década de 1930 em que a loja era localizada na quadra anterior. Lúcia contou que as imagens foram cedidas por Geraldo Vieira Martins Júnior para a confecção dos painéis.

Quem entra na loja, tem a sensação de viajar no tempo. Como há painéis que ocupam a parede inteira, a impressão é olhar pela janela e vivenciar o passado. “Muita gente fica fascinada. Até pessoas de outras cidades fazem perguntas e ficam algum tempo observando as fotografias”, disse.

Nas imagens, há carroças e cavalos disputando o espaço da antiga Conselheiro Dantas com os velhos “pés de bode”, como eram conhecidos os Fords da década de 1930.

Lúcia se orgulha de ser uma das primeiras comerciantes a investir em imagens antigas da cidade no próprio estabelecimento. Apesar da loja ter 85 anos, alguns costumes ainda se mantêm, como a venda de chapéus, uma tradição na primeira metade do século passado. “Acho que em Santa Cruz somos uma das poucas lojas que ainda oferecem chapéus”.

Aliás, vende muito, em vários modelos. Segundo Lúcia, chapéu não é vendido apenas na época do rodeio, mas durante o ano todo devido à forte agropecuária da cidade. Para completar o estilo retrô, Lúcia mantém dois “provadores de chapéu” do século passado, que ainda preservam as inscrições dos fabricantes: “Ramenzoni Cury” e “Prada”. A comerciante fez questão de deixar os espelhos como originais, com os vidros já corroídos pelo tempo.

* Colaborou Toko Degaspari
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

Previsão do tempo para: Terça

Céu nublado
21ºC máx
13ºC min

Durante a primeira metade do dia Céu nublado com tendência na segunda metade do dia para Períodos nublados

COMPRA

R$ 5,46

VENDA

R$ 5,46

MÁXIMO

R$ 5,46

MÍNIMO

R$ 5,45

COMPRA

R$ 5,50

VENDA

R$ 5,67

MÁXIMO

R$ 5,50

MÍNIMO

R$ 5,49

COMPRA

R$ 6,44

VENDA

R$ 6,46

MÁXIMO

R$ 6,44

MÍNIMO

R$ 6,43
voltar ao topo

Voltar ao topo