CULTURA

‘A grande família’

‘A grande família’

Publicado em: 02 de outubro de 2019 às 15:24
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 05:36

Aposentada de 76 anos e viúva, mulher teve 12 filhos

e já possui 71 netos e 43 bisnetos. E queria mais...

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Viúva e aposentada, Maria Madalena Garcia, 76, bem que poderia entrar num livro “santa-cruzense” de recordes. Moradora do bairro da Estação e mãe de 12 filhos, entre os quais um já falecido, ela quase perde as contas para informar que possui 71 netos e 43 bisnetos. Entretanto, há pelo menos cinco para nascer. Um inédito tataraneto é pura questão de tempo. Aliás, os números não surpreendem a aposentada. “Eu tenho 21 irmãos. É uma família parideira e meus filhos vão pelo mesmo caminho”, conta, rindo. Nem dá para imaginar reunir toda a família numa data especial. “Não cabe em casa alguma”, diz.

Madalena mora numa pequena casa quase em frente ao Museu Municipal “Ernesto Bertoldi” e vive com apenas um salário mínimo. Aliás, esta foi sua renda durante toda a vida. “Eu sempre trabalhei na roça. Foi funcionária da Guacho, cortei cana, apanhei café e algodão. Fazia tudo quanto é serviço”, contou.

Ela paga R$ 500 de aluguel da pequena moradia, praticamente com dois cômodos. A maioria dos móveis é emprestado de vizinhos e parentes. “Só tenho duas camas”, disse. Não há guarda-roupas e o jeito é guardar as roupas num saco preto. Não pode ter ajuda dos filhos porque todos também têm muitos filhos.

Porém, ao contrário do que o nome sugere, Madalena nunca se arrependeu. “Se pudesse, continuava trabalhando”, diz. Claro que a vida dura provocou algumas renúncias. Ela, por exemplo, nunca pisou numa sala de aula e é completamente analfabeta. “Não pude estudar, pois tinha de trabalhar”, ressalta.

A aposentada é viúva de Benedito Soares de Souza, que foi conhecido em Santa Cruz do Rio Pardo como “Chupa”. “Ele era muito trabalhador, mas tinha um problema sério. Jogava muito no truco e, então, não sobrava dinheiro”, disse.

Com tantos filhos, a maioria ainda pequenos, Maria Madalena disse que teve de se virar para criá-los, inclusive um casal de gêmeos. “Eu deixava com a minha sogra para ir trabalhar. Quando ela faleceu, eu fechava eles dentro de casa e tirava o botijão de gás. Era o jeito, pois não era todo dia que tinha comida”, lembrou. Mas nem gás. Quando faltava, Madalena improvisava um pequeno fogão a lenha, construído com tijolos.

Ela ficou viúva há quase dez anos. “Se não fosse isto, acho que continuava tendo filhos”, brinca. E por que tantos? “Ah, a gente não saía e costumava ficar em casa. Então, acontecia”.

Dos 12 filhos, Madalena passou pela dor de perder um deles, ainda adolescente. Aos 16 anos, o garoto Valdecir contraiu sarampo — a doença que agora está novamente ameaçando a humanidade. “Um dia, eu fui trabalhar e ele foi nadar no rio. Quando cheguei em casa, meu filho já ardia em febre. Foi internado na Santa Casa e, quando eu cheguei em frente ao Fórum, a caminho do hospital, ele já tinha morrido. Foi muito rápido”, contou.

A notícia, porém, só foi dada pela mãe quando Madalena chegou em casa. “Eu tinha ido buscar lenha e ela disse que tinha uma notícia ruim. Quando me mandou sentar, foi um baque”, lembra.

“PARIDEIRA” — Maria Madalena Garcia tem atualmente 71 netos (na foto com dois deles), mas revela que às vezes perde as contas: ‘Tem cinco para nascer’



Sonho antigo

Madalena é viúva há mais de sete anos, desde que o marido Benedito Soares, o ‘Chupa’ (foto), morreu



Maria Madalena não esconde que sempre foi apaixonada por crianças. Não desgrudou de nenhum dos filhos quando eram crianças, mas lamenta que a grande “concorrência” são as ruas, especialmente na questão de drogas. Apesar de sempre ter dado conselhos aos filhos, hoje ela sofre com duas filhas que estão presas em Pirajuí. No domingo passado, Madalena pegou ônibus, enfrentou o sol e foi visitá-las. “Mas não pude entrar, pois minha autorização estava vencida. Chorei muito”, disse.

Mas o amor de mãe extrapola o ventre materno. Ela ainda criou muita gente, inclusive amamentando no próprio peito. Com orgulho, lembra que a conhecida Marcinha Vicente foi uma de suas “filhas”. Além disso, costuma repartir o pouco que tem. “Eu não consigo ver um necessitado. Se alguém bate à porta e eu tenho um saco de arroz, divido no meio”, garante. De vez em quando, acolhe meninos que estão na rua.

Maria Madalena. aliás, alimenta um sonho há muitos anos: ter uma casa grande para cuidar de crianças de rua. “Eu realmente chego a sonhar com isto. Acho que Deus ainda vai me dar, mesmo que seja para realizar este desejo um ou dois meses antes de partir”, diz.

* Colaborou: Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 22/09/2019


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