CULTURA

Pascoalino: 'Proibido comer a grama'

Pascoalino: 'Proibido comer a grama'

Publicado em: 18 de outubro de 2019 às 23:19
Atualizado em: 23 de março de 2021 às 09:39

Proibido comer a grama

Pascoalino S. Azords

Da equipe de colaboradores

A memória é amarela. O inverno já é um pouco mais quieto e, como se sabe, cada cidade tem o seu próprio signo – que não são apenas doze como no círculo do zodíaco. Ziraldo, mineiro de Caratinga, antes de se fixar no Rio de Janeiro, como convém a um mineiro bem sucedido, residiu por algum tempo em Belo Horizo nte para se adaptar a uma cidade grande. E o que Ziraldo lembra daquela Belo Horizonte de 60 anos atrás? Da cantina da faculdade de Direito? Das suas colegas de classe ou de alguma professora em especial? Não. O pai do Menino Maluquinho diz que se recorda mesmo é do cheiro forte e doce da dama-da-noite que a cidade exalava então!

Belém do Pará também tinha um cheiro bom quando eu a conheci no verão de 1977. Mais do que as carnes no mercado Ver-o-Peso, ou as moças do Condor (a maior zona do baixo meretrício da América Latina), o que mais me impressionou na velha Santa Maria de Belém do Grão-Pará foi a fragrância de patchouli que emanavam as praças da cidade.

Essas coisas ditas assim, depois de tanto tempo, podem soar como mentira ou poesia – o que dá no mesmo. Praça, quase sempre, não cheira bem em lugar nenhum. Por isso, a cada quatro anos, tento me colocar na pele do prefeito eleito. Imagino que ele queira saber quantas praças terá para cuidar. “Mas não dá para a gente ficar só com a metade?”, ele diz em meu devaneio.

Na minha cidade, a praça da matriz do Senhor Bom Jesus virou metade fórum, metade supermercado. Só está faltando dar um jeito na praça do jacaré, que tem esse nome por causa de um filhote de papo-amarelo que um dia amanheceu na fonte luminosa. Ninguém assumiu a autoria da arte e o jacaré foi ficando por ali, onde morreu muitos anos depois sem deixar herdeiros ou dependentes.

A praça, pelo visto, é um grande problema e não uma ampla possibilidade. O descaso com que é tratada lembra uma máxima de Getúlio Vargas: “Para os amigos, tudo; para os inimigos, a Lei”. Pois a praça, coitada, merece um tratamento pior do que se dispensa a um inimigo político.

Na nossa região temos três categorias de praças públicas: a projetada e implantada por paisagistas, coisa rara; a que nos deixam uns silenciosos jardineiros efetivos; e uma esmagadora maioria de praças baldias.

A praça é uma convenção do passado que mandatários do presente ainda não conseguiram exterminar. E, por uma simples formalidade, novas praças continuam a ser criadas por decreto. Sempre que se projeta um novo loteamento, tem lá uma área reservada para praça que acaba virando creche, casa paroquial, mictório, campinho de futebol, banca de jornal, lanchonete, postinho policial, etc.

Mas nem só de praças e cheiros se faz a memória de uma cidade. Às vezes é uma festa do ovo, um teleférico, uma romaria... Conheço cidade onde as funerárias exibem caixões de defuto na vitrine, onde todo mundo tem apelido (até o vigário), onde se promove festa da pinga mesmo não tendo alambique, onde os mortos não têm descanso e precisam ser levados para a cidade mais próxima, etc.

E nessa conversa a gente podia ir a noite inteira, porque cada cidade tem a sua marca, como a memória é amarela e o inverno a mais silenciosa das estações. Com exceção de Ourinhos, onde o trem de ferro continua apitando a noite inteira como se fizesse calor.



  • Publicada originariamente em 8/07/2001


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