CULTURA

Nilda Roder deixa legado cultural na educação e de luta pela liberdade

Nilda Roder deixa legado cultural na educação e de luta pela liberdade

Publicado em: 07 de fevereiro de 2020 às 09:28
Atualizado em: 28 de março de 2021 às 13:43

Filha de um inesquecível inventor de Santa Cruz, ela foi a

primeira mulher a se candidatar a vereadora na cidade


Nilda Roder morreu aos 78 anos



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

A professora Nilda Roder Kai morreu na segunda-feira, 27 de janeiro, aos 78 anos. Ela não suportou duas cirurgias seguidas para a retirada de um tumor resistente, descoberto há pouco tempo. Personalidade em Santa Cruz do Rio Pardo a partir dos chamados “anos dourados”, a professora sempre teve uma vida agitada e era considerada à frente de seu tempo. Sua importância para o município pode ser resumida, entre tantas ações, na coragem de Nilda de se candidatar a vereadora na década de 1960, quando a política não era considerada “assunto de mulher”.

Nilda Roder se candidatou a uma vaga na Câmara pelo grupo de Carlos Queiroz, que em 1968 lançou seu vice, José Carlos Camarinha, como seu sucessor. Jornais mais antigos ainda registram a propaganda de outra candidata, mas não há notícias se a candidatura foi até o fim. Nilda, portanto, ficou conhecida na história de Santa Cruz como a primeira mulher a tentar se eleger vereadora.

Ela era filha de Américo Roder e Donária Toledo Roder. O pai ficou imortalizado como um dos homens mais inteligentes da cidade, sendo considerado um inventor. E de fato era, pois teve vários inventos patenteados e, anos depois, “copiado” até pelos franceses, como os dormentes para trilhos fabricados com concreto. Como dono de marmoraria, Américo também construiu os túmulos mais artísticos do cemitério de Santa Cruz e foi quem planejou a arquitetura original do antigo Colégio Companhia de Maria.

Nilda Roder estudou no antigo Grupo Escolar e se formou no curso de magistério do antigo “Instituto de Educação Leônidas do Amaral Vieira”. Segundo familiares, ela teve o incentivo dos pais para se tornar uma mulher independente. Assim, ainda muito jovem, nos anos 1960, já era professora da antiga “Escola de Comércio XX de Janeiro” e foi diretora do Sesi.

Um “santinho” da campanha eleitoral de 1968, quando a professora teve a ousadia de se candidatar a vereadora, sendo a primeira mulher de Santa Cruz do Rio Pardo a enfrentar uma eleição



Nesta época, ganhou a simpatia de Carlos Queiroz e se tornou locutora da rádio Difusora, a antiga ZYQ-8, de propriedade do então prefeito. Participou ativamente da vida cultural de Santa Cruz que, a convite de Carlos, aceitou integrar o grupo dos “vermelhos” e se candidatar a vereadora.

Nos anos 1970, mudou-se para São Paulo. Admiradora da cultura japonesa, era frequentadora assídua da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo), no bairro da Liberdade. Aprendeu o idioma japonês na entidade, mas, estudiosa e dedicada, também aprendeu a falar fluentemente inglês, espanhol e francês.

Nilda chegou a iniciar o curso superior, mas, recém-casada, acabou abandonando os estudos para se dedicar à família. Teve três filhos — Thelma, Werner e Weber. A jornalista Thelma Kai integrou a equipe do DEBATE durante anos e, mais tarde, foi assessora especial de imprensa dos Correios em Brasília.

Seu espírito inquieto sempre buscou novas atividades. Nos anos 1980, fez parte da Associação de Pais e Mestres do Colégio Santo Agostinho, em que os filhos estudavam. No mesmo período, frequentou cursos de pintura e outras atividades culturais, pois sempre foi amante das artes.

Nilda também se encarregava de tarefas no colégio, como a produção de figurinos para os grupos de teatro da escola até a restauração da pintura do teto da igreja que existia no interior da instituição.

Nilda Roder era filha do inventor Américo Roder (acima, apresentando uma de suas invenções) e herdou do pai o estilo libertário e a inteligência



Desafios e coragem

Em 1986, separou-se do marido e prestou concurso para a secretaria de Estado da Educação, sendo aprovada para atuar na capital. Nesta época, voltou a morar em Santa Cruz do Rio Pardo, com os filhos, mas passava a semana em São Paulo. Muitos anos mais tarde, conseguiu a transferência para o interior, primeiro para cidades da região e depois para o município que tanto amou.

Em Santa Cruz, ousou novos desafios. Foi assistente pedagógica da antiga Delegacia de Ensino, especializando-se em alfabetização. Mais tarde, lecionou inglês na Oapec e também deu aulas na Faculdade de Filosofia e Letras Carlos Queiroz.

Nos finais de semana, atuava voluntariamente como professora de japonês para o clube na comunidade nipônica de Santa Cruz do Rio Pardo. Mesmo depois de se aposentar, continuou dando aulas particulares em sua residência e orientando alunos na produção de monografias de graduação e pós-graduação nas mais diversas áreas, como Pedagogia, Medicina, Odontologia e Psicologia, entre outras.

Ao mesmo tempo, Nilda sempre se empenhou para que os filhos tivessem a melhor educação nas escolas da região. Todos, por exemplo, foram aprovados em uma universidade pública: a Unesp de Bauru.



Roder está à esquerda com um grupo de amigas, durante evento social em Santa Cruz do Rio Pardo; professora era considerada “rebelde”



Sempre inquieta

No final da década de 1990, Nilda reaproximou-se da política partidária, voltando a lançar seu nome como candidata nas eleições. No início dos anos 2000, chegou a ocupar temporariamente o cargo de secretária municipal de Educação, mas acabou deixando o posto por não possuir diploma universitário, apesar de ter sido responsável direta pela formação de inúmeros graduandos, mestres e doutores de Santa Cruz do Rio Pardo e região.

No início do ano passado, fraturou o fêmur e deixou as atividades profissionais. Passou a se dedicar exclusivamente à família e a outra de suas paixões: os dálmatas que possuía.

Só não conseguiu vencer a doença rara que a acometeu há pouco tempo. Após duas cirurgias no espaço de poucos dias, Nilda Roder morreu na segunda-feira, 27. Foi sepultada no final da tarde de terça-feira, 28, num clima de despedidas e consternação entre familiares e amigos. Ao lado do féretro, pessoas e admiradores fizeram pequenos agradecimentos em voz volta.

Nilda deixa os filhos Werner, Thelma e Weber e o marido João Noritica Kai. 

Publicado na edição impressa de 02/02/2020
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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