CULTURA

‘Pra ver a banda passar’

‘Pra ver a banda passar’

Publicado em: 21 de fevereiro de 2020 às 16:38
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 00:49

Aos 80 anos, músico tem saudades da

época em que animava carnavais

na banda do maestro Silvio de Paula


Cesar tem um trombone em casa



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Morador no bairro Nagib Queiroz, Cesar Nishimura comemorou no início do mês meio século do casamento com Maria Chagas. Recebeu muitos cumprimentos, mas ficou sem o maior presente que desejava: a volta da Banda Municipal. “Espero estar vivo quando algum prefeito resgatar esta tradição que trouxe tantas alegrias a Santa Cruz do Rio Pardo”, disse.

Aos 80 anos, Cesar passou grande parte de sua vida no coreto, em clubes da cidade e região e nos ensaios da antiga corporação “Sete de Setembro”, na época em que era comandada pelo maestro Silvio de Paula. Começou em 1963 e não parou mais. “Fui até o fim da banda, em 2006, se não me engano, na época do prefeito Adilson Mira. Foi ele quem acabou com o grupo e, depois, a Maura também não se interessou”, disse.

Na verdade, uma velha tradição da cidade desapareceu. Afinal, a banda animava a praça central de Santa Cruz do Rio Pardo desde o início do século passado. Nos anos 1920, virou uma corporação musical sob regência de José Amorim Ribeiro, o “Maestro Zequinha”. Foi nesta época que o grupo passou a ser chamado de “Furiosa”. Quando Amorim morreu, em 1961, a banda já era municipal e se chamava “Sete de Setembro”.

E ela teve continuidade justamente com os alunos de Zequinha, que aprenderam os segredos das notas musicais e dos instrumentos. É o caso, por exemplo, do saudoso Pedro Lamoso e de Iramis Trevisan. Este último foi o maestro no período final da banda.

Anos antes, porém, a corporação musical teve outro idealista à frente, o músico Silvio de Paula — irmão do ex-vereador José Paula da Silva. Ele se tornou maestro e também ensinou o ofício a jovens.

“CONJUNTO SUL-AMERICANO” — O grupo que animava os carnavais do Clube dos Vinte era o mesmo que se apresentava no coreto; a foto é de 1975



Amor pela música

Cesar Nishimura conta que, desde jovem, era fascinado pela banda que existia na cidade paranaense onde morava. Já em Santa Cruz, quando a família se mudou, continuou se encantando com as apresentações da Banda Municipal no coreto da atual praça Leônidas Camarinha. Tímido, um dia criou coragem e foi falar com Silvio de Paula. Começou a aprender e, algum tempo depois, virou “titular”.

“Eu comecei com requinta, instrumento que parece um clarinete. Depois, passei para o saxofone e finalmente terminei no trombone”, conta Nishimura. “Eu não sabia nada sobre música. Foi o Silvio quem me ensinou tudo”, contou. “Na verdade, eu ficava babando quando acompanhava a banda”, brinca.

Funileiro durante muitos anos na antiga Indústria Suzuki, Cesar foi tão apaixonado pela banda que, mesmo no período em que morou em Chavantes — para trabalhar na Incomar —, viajava toda semana para tocar ou ensaiar em Santa Cruz.

SAUDOSISMO — Nishimura toca trombone no Carnaval do Clube dos Vinte em 1972, ao lado de Silvio de Paula



Já músico formado, Nishimura também participou da famosa banda da antiga “Escola Técnica XX de Janeiro”, quando vestiu o reluzente fardão da instituição educacional da Oapec. Conheceu, por exemplo, Antonio Eduardo Pimentel, que até hoje toca pistão como poucos. Pimentel, aliás, também foi membro da banda municipal e do grupo que também animava os carnavais da cidade.

Os músicos, segundo Cesar, eram unidos. “Todo domingo havia convite para tocar fora. Mas quase sempre a gente ficava em Santa Cruz, animando as famílias na praça”, conta.

Era uma festa, com a praça cheia de casais, crianças e idosos. O comércio de pipoca e doces era movimentado, tudo ao som da “Furiosa”.

O grupo girava em torno de 20 músicos, que costumavam se revezar no coreto ou nos bailes.

Sim, nos bailes. Afinal, eles também fundaram o “Conjunto Sul-Americano”, que durante muito tempo, na década de 1960, animou os carnavais do antigo Clube dos Vinte. Dois músicos, aliás, foram para São Paulo e integraram bandas famosas. “Muitos foram convidados, mas não quiseram deixar Santa Cruz”, contou Cesar.

O Carnaval de salão, na época, era muito animado. Em Santa Cruz, havia bailes no Clube dos Vinte, Icaiçara Clube e até o Ginásio de Esportes, que ficou conhecido como “Lobão”. Começava na sexta ou sábado e só terminava na madrugada de Quarta-feira de Cinzas. “Era cansativo, mas gostoso ao mesmo tempo. O grupo precisava revezar os músicos porque era muito cansativo. Afinal, a gente comia um lanche durante o baile, sem parar de tocar”, disse.

O “Sul-Americano” se apresentou em outras cidades, como Manduri ou Bernardino de Campos.

ALVORADA — No aniversário da cidade, a banda tocava num caminhão



A banda também era responsável pela conhecida “alvorada” no dia do aniversário da cidade. Ao amanhecer, a banda saía tocando pelas ruas, no início a pé. “Mas depois houve um problema com uns bêbados. Foi a primeira vez que vi o Silvio de Paula ficar furioso”, disse.

A partir daí, o grupo passou a se apresentar nas “alvoradas” em cima de um caminhão. Hoje, nem o Código de Trânsito permite tal ousadia. “A gente tocava durante aproximadamente uma hora, nas ruas do centro. Era muito bonito, pois muita gente abria as janelas para ouvir”, lembra.

Cesar Nishumura disse que não se esquece dos companheiros da banda, que fizeram história em Santa Cruz. Havia, inclusive, uma “ajuda de custo”, que foi sendo reduzida até chegar a meros R$ 60 mensais no governo de Adilson Mira. O então prefeito resolveu extinguir o grupo, alegando “corte de despesas”.

Foi, então, que tudo se acabou. Menos o caderno em que Nishimura anotava as partituras e o instrumento que comprou com a própria renda. “Faz tempo que não toco. Fiquei desanimado com o que aconteceu”, lamentou. 

* Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 16/02/2020


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