CULTURA

Mulheres pioneiras

Mulheres pioneiras

Publicado em: 13 de março de 2020 às 09:25
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 21:13

Maria Ferreira, pouco citada em Santa

Cruz, onde morou, foi uma das

desbravadoras da região e do Norte do Paraná


Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Algumas mulheres foram consideradas heroínas porque, numa época difícil e dominada pelos homens, tiveram poder de mando e desbravaram o sertão. Uma delas é Maria Prudência de Oliveira, que ficou conhecida como Maria Ferreira. Para os historiadores Celso Prado e Junko Sato, o pioneirismo desta mulher impactou toda a região, inclusive fundando lugarejos e afugentando indígenas. “Sempre fui contra a guerra contra os índios, mas ela aconteceu naqueles tempos do século XIX”, conta Prado.

Mas o que tem a ver Maria Ferreira com Santa Cruz do Rio Pardo? Afinal, ela foi uma das líderes da região de Timburi. “Parece irreal, mas Timburi, que faz divisa com Piraju, antiga Tijuco Preto, pertencia a Santa Cruz”, conta Celso Prado.

Maria Ferreira tem cópia de um quadro — pintado pelo artista norueguês Alfredo Andersen Sand — espalhado por vários museus, especialmente no Paraná. É que ela também foi pioneira na região do Norte paranaense, contribuindo para a fundação de vários municípios.

Celso e Junko Prado Sato seguram quadro de Maria Ferreira, uma das mulheres pioneiras da região



Celso Prado, porém, diz que há muita lenda em torno de Maria Ferreira. Consta, por exemplo, que era morreu com inacreditáveis 118 anos e tal fato foi noticiado por jornais de todo o País, inclusive pelo “Correio do Sertão” de Santa Cruz do Rio Pardo, em 1902. Era, porém, um “fake news” da época.

O historiador pesquisou sobre Maria Ferreira e descobriu que ela morreu, de fato, em 31 de outubro de 1902. No entanto, a versão de que ela teria chegado à região no início dos anos 1800, quase meio século antes do bandeirante José Theodoro de Souza, não se comprovou. Celso Prado, enfim, conseguiu o registro de batismo de Maria Ferreira, com a data de 1816.

Mas a história da pioneira é fascinante. “Ela ficou viúva nos idos de 1848, quando ela ainda morava no bairro do Jacaré em Araraquara. Foi ali, de acordo com a história de José Theodoro, que ela herdou terras do marido. Em seguida, virou amante do assassino de um importante senador do Império”, conta o historiador. O político era de Minas Gerais e era o padre José Bento Leite Ferreira de Mello.

Jornal de Santa cruz, “Correio do Sertão” noticiou a morte de Maria Ferreira em 1902, mas informou erroneamente que ela teria 118 anos



Talvez por acobertar o amante, Maria Ferreira veio para o sertão paulista. Outro fator foi o fato dela ter filhos na viuvez, o que chocava a sociedade na época.

O crime, segundo Celso Prado, teria origem em conflito de terras e foi cometido por dois homens. Um deles era o amante de Ferreira. “Ele mudou de nome e chegou a ser preso por um outro problema em Piraju, ganhando logo a liberdade. Passou a ser perseguido quando descobriram que era um dos assassinos do senador”, disse.

Mais tarde, o homem brigou com Maria Ferreira e seguiu seu caminho. Morreu pouco tempo depois, também assassinado.

“A Maria continuou sua vida, inclusive amorosa, já que, segundo consta, era uma mulher fervorosa”, disse. Celso Prado diz que a história registra a mulher como protetora de alguns perseguidos pela polícia. Eles ficavam entre a região de Timburi e Espírito Santo do Itararé, no Paraná. “O local ficou conhecido como reduto de bandidos, passando esta fama para Santa Cruz do Rio Pardo, já que tudo pertencia ao nosso município”, conta.

HISTÓRIA — Celso Prado encontrou o registro de batismo de Maria Ferreira



Maria Ferreira fundou Espírito Santo do Itararé, que desapareceu sob as águas do Paranapanema durante a construção de usinas. Antes, conhecida como “Porto Ferreira”, virou um lugar “fantasma”, pois a população foi transferida para Ribeirão Claro-PR. “Tinha cartório, loja maçônica e um bom movimento”, conta Prado.

O casal de historiadores, inclusive, ganhou um quadro de um descendente de Maria Ferreira. O parente da pioneira leu pela internet textos de Celso e Junko sobre a pioneira. “Eu creio que ele pode ter morrido, pois perdemos o contato”, disse. O quadro, pintado por um norueguês, que se baseou numa única foto de Maria Ferreira, já desbotada pelas décadas.

Por ocasião de sua morte, a pioneira recebeu muitas homenagens, principalmente de uma Loja Maçônica. “Na verdade, ela morreu aos 86 anos, mas foi uma mulher de fibra e muito importante para toda a região”, contou. 




O antigo cemitério de Santa Cruz, que perdeu espaço no final do século 19



Uma baronesa está

no cemitério da cidade

Os registros dos historiadores Celso Prado e Junko Sato Prado atestam: uma legítima baronesa do Império está sepultada no cemitério de Santa Cruz do Rio Pardo. Claro que dificilmente alguém vai encontrar registros, mas o fato é que a mulher, casada com o primeiro intendente do município, morreu no início do século XX. Segundo Celso, a pesquisa pioneira foi feita por outro historiador de Santa Cruz, Geraldo Vieira Martins Júnior. A mulher era filha de um barão e se casou com um rico empresário que chegou à região.

Era o intendente, um carioca da família Assis Rezende, que foi nomeado em 1892. Engenheiro muito rico, ele chegou a ser dono de ferrovias antes de chegar em Santa Cruz. “Foi o primeiro intendente da República, logo depois da queda do Império”, afirmou. Rezende contratava mão-de-obra para a indústria europeia e ganhou força política na cidade.

“O intendente era o chefe do Executivo da Câmara Municipal”, explicou Celso, lembrando que na época não existia a figura do prefeito. Depois da intendência, Rezende deixou a cidade.

Registros da imprensa do Rio de Janeiro dizem que a mulher de Rezende, a baronesa, teria morrido naquele Estado, que na época era a capital do Brasil.

“Mas o Geraldo Vieira descobriu que o jornal santa-cruzense ‘Correio do Sertão’ noticiou a morte dela e o sepultamento em Santa Cruz do Rio Pardo”, disse Prado. A baronesa morreu em 1902, depois de uma permanência aproximada de dez anos na cidade. “Mas neste tempo ela conquistou a simpatia da sociedade. Era uma pessoa muito querida”, informou.

“Com certeza, ela está em algum lugar do cemitério, já que qualquer exumação não era usual naqueles tempos”, disse o historiador. 



  • Publicado na edição impressa de 08/03/2020


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