CULTURA

Franco Catalano: ‘O Nu'

Franco Catalano: ‘O Nu'

Publicado em: 20 de março de 2020 às 20:49
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 02:33

O Nu

Franco Catalano

Da Equipe de Colaboradores


ARTE    O atual ministro da Educação, em recente manifestação em sua conta do Twitter, atacou a exposição intitulada “Faça você mesmo sua Capela Sistina”, em cartaz no maior centro cultural do Estado de Minas Gerais, por sua temática nudista. De autoria de Pedro Moraleida, artista mineiro falecido muito jovem, a exposição mostra sua interpretação dos sofrimentos e angústias humanas, representadas, também, mas não somente, através da exploração da figura nua.

Em seu post, o ministro revolta-se pelo fácil acesso que jovens têm ao conteúdo da exposição. Sua crítica? Que estes jovens possam ver o conteúdo supostamente “erótico e pornográfico” em exibição no Palácio das Artes.

A associação intencional do nu com erotismo, frequente e banalizada nos dias atuais, não é exclusiva na representação do humano como veio ao mundo. Representações do nu humano sempre existiram, desde os primórdios da história da arte. Uns dos primeiros registros de que se tem notícia data de quase 30.000 anos atrás, a chamada Vênus de Willendorf. Nesta pequena estatueta vemos uma figura feminina, de seios e barriga fartos, representando possivelmente a fertilidade e abundância.

Os estudos de Leonardo da Vinci e seus contemporâneos renascentistas, por exemplo, destrincham a anatomia humana, explorando o nu como fonte de informações científicas. Egon Schielle ou Lucian Freud, artistas expoentes do século XX, interpretam a figura humana nua de forma antiestética, buscando extrair em suas representações o âmago de sentimentos como repulsa, agressividade, perdas e contradições.

É neste mesmo âmbito que se situa a temática de Moraleida: ao contrário do que afirma o ministro, de forma sensacionalista e ignorante, a exposição mineira não tem nada de pornográfica. Ela cumpre o papel da boa arte, provocando e levando o visitante à uma reflexão crítica sobre si mesmo e sobre seus pares. O excelentíssimo poderia dedicar essa mesma energia na luta pela não objetificação da figura feminina, essa sim explorada de maneira “erótica e pornográfica” até hoje nos horários nobres das tardes de domingo.

*Franco Catalano é santa-cruzense, cursou História da Arte em Madrid e é arquiteto



  • Publicado na edição impressa de 15/03/2020


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