CULTURA

Pascoalino: ‘A saideira'

Pascoalino: ‘A saideira'

Publicado em: 30 de março de 2020 às 13:37
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 11:57

A saideira 

Pascoalino S. Azords

Da equipe de colaboradores

A coisa mais parecida com o ato de escrever talvez seja não escrever. Como ir ou não ir a uma festa para a qual você é convidado. Deixar de escrever é uma atitude que tem a mesma dimensão da estreia, já que nos extremos esses gestos opostos se anulam. Como o dia e a noite, o pão e a fome, a vida e a morte, de aparente contraditório. Depois de ver minhas palavras no DEBATE por duzentas e poucas semanas, penso que o leitor esteja precisando de umas férias — merecidas férias. Antes de passar a régua, porém, gostaria de dizer duas palavrinhas. Duas palavras para aquele que escreve é como dois segundinhos para quem discursa — convém sentar.

Hoje não tem historinha. O que quero dizer tem mais de justificativa que de explicação. Nesses anos a crônica que publiquei aqui poderia ser definida como um minuto de nenhuma sabedoria. Esse foi o meu objetivo desde o início, e quanto a isso me considero plenamente realizado.

As primeiras crônicas foram escritas na redação do jornal, em 1998. Depois, por um tempo, os textos iam por fax. Por esse motivo, quero de público repartir parte dos meus direitos autorais com o funcionário que pulando uma linha ou trocando palavras na hora de copiar, me emprestou um certo hermetismo, algo de moderno que eu mesmo nunca tive.

Nos últimos anos as histórias passearam por email — sempre tem alguém por perto disposto a pegar a veia da Internet para mim. O único perigo nesses casos é a boa alma transmitir o esboço ao invés da versão final do meu texto, o que também já ocorreu por mais de uma vez. Quando abro o jornal e dou de cara com um rascunho publicado, a única coisa que me consola é saber que apenas um em cada três brasileiros alfabetizados lê jornal; e que desses leitores, um em cada três se ocupa em compreender o que lê.

Confesso que sou incapaz de fazer um estoque de crônicas para o caso de viagem ou enfermidade. Para mim, seria como comprar pão francês para todo o mês. Nenhuma das crônicas nasceu a partir de um título, com exceção desta derradeira. Nenhuma outra também se assanhou tanto e por tanto tempo. Há mais de um ano eu me prometi que a última crônica se chamaria A Saideira, em homenagem à presença desinteressada das garrafas vazias.

Assim falou Nelson Rodrigues: “O que dá ao homem um mínimo de unidade interior é a soma das suas obsessões”. O problema é que as nossas obsessões também cansam o leitor. É por essas e outras que cronistas entram em férias ou trocam de jornal de vez em quando. A partir da próxima semana encontraremos uma outra conversa aqui nesse cantinho do DEBATE — outras obsessões. Continuar com as minhas me parece, a essa altura do calendário, impor mais um castigo a quem já tem que aturar certos governantes.

Essa é a pura verdade. Mas, se você preferir, posso inventar outra. Por exemplo: que só tenho até o dia 6 de outubro para encontrar dois nomes para votar para senador. Desculpem-me encerrar assim, mas a patroa está avisando que já vai começar o horário eleitoral. 

* Publicada originariamente em 08/09/2002
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