CULTURA

‘Ainda bem que você veio’

‘Ainda bem que você veio’

Publicado em: 19 de junho de 2020 às 09:08
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 12:57

Santa-cruzense residente no Paraná lança livro de crônicas; uma delas levou uma família pobre ao ‘Candeirão do Huck’

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

O nome completo dele é João Cândido da Silva Neto, que nasceu em Santa Cruz do Rio Pardo. Hoje aposentado aos 60 anos, virou o escritor João Neto, que acaba de lançar seu primeiro livro. “Ainda Bem que Você Veio e Outras Histórias de Luz” conta passagens de sua vida, muitas como funcionário da Copel, concessionária de energia elétrica do Paraná. Uma das crônicas motivou a ida de uma família pobre ao programa “Caldeirão do Huck”, da Rede Globo.

Da tiragem inicial, sobraram apenas 200 livros, mesmo sem a realização de sessões de autógrafos, como é comum no meio literário. Afinal, são tempos de pandemia de coronavírus e quarentena. Mas quase 2.000 exemplares foram vendidos por semana desde que João Neto recebeu a tiragem da editora. Dentro de semanas, a editora vai promover a venda do e-book.

“O livro foi uma grata surpresa, pois pude desenvolver as histórias de minha juventude e adolescência e meus tempos dourados”, contou. Apesar de ter nascido em Santa Cruz, João Neto foi criado em Ourinhos e hoje mora em Santo Antônio da Platina.

A maioria das crônicas de João Neto refere-se a Santa Cruz do Rio Pardo. Uma delas conta sobre sua primeira professora, Maria Helena Perin de Britto, mulher do também professor José Messias de Britto. Hoje, por sinal, João estará em Santa Cruz do Rio Pardo para entregar um exemplar — “com dedicatória” — ao casal.

“Eu lembro que eles moram num casarão histórico, onde nasceu Orlando Villas Bôas. Mas, na minha infância, o mais importante era o fato de ser a casa da minha professora. Como várias crianças, eu fui apaixonado pela professora e, inclusive, tinha ciúmes do José Messias”, conta João Neto, rindo. Segundo o escritor, ele se lembra que Messias buscava a professora, em frente ao Grupo Escolar, num carro antigo, importado.

Outra crônica conta a história do cachorro do pequeno João. Ele tinha seis anos e ainda morava em Santa Cruz, quando encontrou na rua um cachorro abandonado, com apenas uma perna. Ficou com pena do animal e o levou para casa. Quase apanhou do pai, mas o cão ficou. “Ele permaneceu na família uns dez anos na família. A crônica ‘O Cão Imprestável’ foi premiada e chegou a ser gravada por vários locutores de rádio”, contou João Neto.

Em Santa Cruz, a família morava num sobrado construído na atual avenida Carlos Rios. Na época, segundo João, a casa construída pelo pai ficava praticamente isolada, pois não havia asfalto e nem construções ao redor do sobrado.

Em 2017, João é entrevistado para o programa “Caldeirão do Huck”



Emoção e fama

Uma das crônicas, inclusive aquela que dá nome ao livro, é especial. “Ainda Bem que Você Chegou” conta uma história vivida por João em Santo Antônio da Platina, como funcionário da Copel. Entre outras atividades, era ele o responsável pelos cortes de energia de consumidores com as contas atrasadas.

Um dia, foi designado para cortar a energia de uma residência na periferia. Era 2017 e ele percebeu que tratava-se de um casebre onde morava uma família pobre. No entanto, precisava cumprir a ordem. A dona da casa implorou para que o corte não acontecesse, pois ela estava recebendo o salário naquele dia.

Sem opção, João Neto efetuou o corte, mas prometeu à mulher que, assim que o pagamento fosse feito, naquele mesmo dia, ele voltaria para a religação, independente do horário. “Eu deixei a casa e entrei na camionete da Copel, com dor no coração. De repente, um menino bate no vidro e pede R$ 1 para comprar doce. Ele estava com um amiguinho e eu não tinha nenhuma moeda. Peguei a única nota de R$ 5 e entreguei a eles. O menino prometeu dar o troco”, conta.

João voltou à Copel e nem se lembrou dos R$ 5. Sua preocupação era a situação difícil daquela família. No final da tarde, recebeu a ordem para efetuar a religação no mesmo endereço. Feliz, rumou para a periferia. O sol sumia e ele iria cumprir a promessa feita à pobre mulher.

Quando chegou, as crianças estavam em frente à casa. O menino que pediu o dinheiro, na verdade, era filho da mulher. “Ainda bem que você veio”, disse o garoto. João imaginava que ele se referia à religação da energia, à promessa que fez à mãe do menino. “Mas, para minha surpresa, ele abriu a mão e me entregou R$ 3. Era o troco daquele dinheiro”, conta João.

A partir daí, da inocência e caráter daquele menino, ele decidiu a ajudar a família. Como não tinha recursos, já que estava construindo uma casa, João resolveu escrever uma crônica e deu o título daquela frase do menino. O texto simplesmente “viralizou”, alcançando mais de 15 milhões de visualizações. Foi lido em rádios, publicado pelo site G1 e a família pobre de Santo Antônio da Platina acabou indo ao programa “Caldeirão do Huck”, ainda em 2017. João, claro, também apareceu na TV.

Houve tantas doações que a família recebeu em torno de R$ 100 mil, o que transformou aquelas vidas. O casal pobre comprou uma nova casa e se mudou para um bairro melhor.

Final feliz? Não necessariamente, lembra João. “O pai daquele menino acabou morrendo num acidente com uma moto que comprou para trabalhar, paga com parte daquele dinheiro que a família recebeu”, conta.

A história, entretanto, abriu as portas para João Neto escrever e, tempos depois, publicar seu primeiro livro.

O escritor contou que o gosto pela literatura surgiu ainda criança. Engraxate, ele comprava a “Folha de S. Paulo” para um comerciante e a contrapartida era ganhar o jornal, já lido, na segunda-feira. Foi quando começou a ler de verdade. “O colunista mais marcante para mim foi Lourenço Diaferia, que chegou a ser preso no regime militar ao escrever uma crônica enaltecendo um soldado herói, que salvou uma criança, e criticando heróis mortos, como Duque de Caixas”, lembrou.



  • Publicado na edição impressa de 14 de junho de 2020


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