CULTURA

Franco Catalano: 'Brincadeira profética'

Franco Catalano: 'Brincadeira profética'

Publicado em: 24 de julho de 2020 às 20:55
Atualizado em: 28 de março de 2021 às 14:54

Brincadeira profética

Franco Catalano

CULTURA    Um casal de amigos londrinenses nos convidou para conhecer sua nova casa, ainda em obras. Antes da pandemia, por vivermos a apenas duas quadras de distância, nossos encontros eram frequentes. Com a chegada do vírus, deixamos de nos ver por quase três meses. Brincando, disseram que gostariam que nos mudássemos para o mesmo bairro deles, cheio de casas dos anos 70/80 que com uma reforma poderiam virar verdadeiras joias. Estacionamos o carro em frente à casa ao lado. Eu, com meu humor muitas vezes inapropriado, disse: “Olha, já já poderemos ser vizinhos”, enquanto apontava para a placa pendurada sobre a fachada do imóvel. Os dizeres? “Produção de Festas e Eventos”. Todos deram um sorriso amarelo com o qual já estou acostumado, querendo dizer “Cala a boca, Franco! ”.

Fizemos um tour de mais de uma hora pela casa, que até então abrigara uma loja de decoração. Nos encantamos com os detalhes e a atmosfera do local. Essa amiga, também arquiteta, tem um gosto afinadíssimo e como eu, também acredita no valor do antigo. Manteve o piso de tacos de madeira, restaurou algumas das esquadrias originais e as novas intervenções foram pensadas em harmonia com a história daquela construção. Sua aventura de encarar uma obra desafiadora para si própria reitera meu discurso repetitivo aqui no Debate: há alternativas para viver melhor! Os novos lançamentos que têm dominado o mercado das metrópoles, onde as incorporadoras supervalorizam espaços cada vez menores, não oferecem metragem quadrada suficiente para seus moradores. O casal está investindo o mesmo nesta casa de 200 metros quadrados, que investiriam em um apartamento de 80.

Ao sairmos, já com o sol se pondo, o vigilante da rua nos abordou, familiarizado com nossos amigos bons de papo e perguntou se gostaríamos de conhecer o imóvel da produtora de eventos. O motivo? Ela havia entregue as chaves, pois depois de meses sem trabalho, não podia seguir pagando o aluguel. Vocês podem imaginar o peso instantâneo que senti na consciência. Minha brincadeira inocente acabou sendo profética.

Infelizmente ela não foi a única afetada pelos efeitos colaterais do Coronavírus. Com grandes aglomerações proibidas — e mal vistas pela sociedade — os profissionais que tinham seu ganha pão vinculado a festas de aniversário, casamentos, confraternizações, eventos corporativos, shows e apresentações culturais, viram sua renda cair drasticamente. Floristas, bartenders, DJs, estilistas, doceiras, fotógrafos, enfim, diversos profissionais, foram os mais afetados pela crise. E serão um dos últimos setores a se recuperar. Um cliente e amigo nos convidou para um ensaio fotográfico online. É tempo de se reinventar e não deixar a peteca cair, pois estamos em um barco sem comandante, à deriva, enquanto o mundo ri de nós.

* Franco Catalano é santa-cruzense, cursou História da Arte em Madrid e é arquiteto



  • Publicado na edição impressa de 19 de julho de 2020


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