CULTURA

João Zanata: Aforismo

João Zanata: Aforismo

Publicado em: 19 de agosto de 2020 às 12:35
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 10:04

Aforismo

João Zanata Neto

É tão hoje que pode ser agora. É tão estranho que pode ser desconhecido. É tão simples que pode ser lógico. Eis o pensamento que se oculta nas brumas da razão.

Se por ora me desse um minuto, teria a eternidade do silêncio. Se por ora me desse tranquilidade, teria o remanso da plenitude. Se por ora me desse a escuridão, teria a profundidade de um abismo. Eis o desassossego dos tempos.

Embora fosse observador, jamais notaria. Embora fosse ousado, jamais arriscaria. Embora fosse lúcido, jamais entenderia. Estar perdido é não querer se encontrar.

Por mais longe que se vá, há sempre o desejo de retornar. Por mais alto que se voe, há sempre o anseio da queda. Por mais elevado que se erga, há sempre a visão do horizonte. A imaginação é sempre a busca da realidade.

Quem dera pudesse alcançar as montanhas elevadas. Quem dera pudesse voar nas nuvens altaneiras. Quem dera pudesse cruzar os oceanos mais amplos. Mesmo assim, jamais teria a noção do infinito.

Quem caminha resoluto, deve admitir que cada passo é relutante. Quem não se verga aos desafios, deve admitir que leva sempre um peso. Quem não se permite um fracasso, deve admitir que vencer nem sempre importa. Há mais conquista quando a derrota o persegue.

É preciso conhecer a própria maldade, pois quando for bondoso saberá que não foi por descuido. É preciso conhecer os erros, pois quando for correto saberá que não foi por acaso. É preciso conhecer a ignorância, pois quando for sábio saberá que não há genialidade. A imprecisão das coisas se desfaz nos contrastes.

Um dia hei de afrontar todas as feras deste mundo. Mesmo que seja devorado até o último osso, não me restará um temor sequer. Um dia hei de dar a volta neste mundo. Mesmo que seja a mais bela aventura de toda minha vida, não me restará um sentimento sequer de tédio. Um dia hei de buscar os maiores mistérios do universo. Mesmo que seja em vão, não me restará um sentimento de arrependimento sequer. É preciso afrontar todos os anseios com a coragem que não se tem.

É preciso domar as próprias vontades para não ser escravo dos desejos. A perversão é um luxo que não traz riquezas. É preciso domar os próprios anseios para não ser escravo dos temores. A covardia é uma hesitação que não traz certezas. É preciso domar os pensamentos para não ser escravo da imaginação. A fantasia é um requinte que não traz a realidade.

A consciência é sempre a voz da razão. E eu que pensava ter visto tudo não imaginava que mais haveria de ver. E eu que acreditava ter sentido tudo, não suspeitava que mais teria de sentir. E eu que achava saber de tudo, não cogitava que mais haveria de conhecer. O mundo é mais inusitado do que se pode esperar.

É tão agora que pode ser já. É tão incongruente que pode ser intangível. É tão comum que pode ser casual. Eis o tempo que se perde nas horas sem fim. 

* João Zanata Neto é escritor santa-cruzense, autor do romance “O Amante das Mulheres Suicidas”.



  • Publicado na edição impressa de 9 de agosto de 2020


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