CULTURA

Ferrovia foi implantada há 112 anos

Ferrovia foi implantada há 112 anos

Publicado em: 30 de agosto de 2020 às 15:08
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 21:03

Notícia de capa de jornais da capital, inauguração do ramal ferroviário trouxe a Santa Cruz o governador Jorge Tibiriçá

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Foi em abril de 1908 que dezenas de populares correram para a recém-construída estação ferroviária de Santa Cruz do Rio Pardo para ver de perto uma máquina gigantesca, movida a vapor e cujo apito se ouvia de longe. Era o trem chegando à estação pela primeira vez, com as bandeiras típicas de um ato inaugural. Porém, 112 anos mais tarde já não há trilhos, a estação se transformou num museu que vive fechado e todo o acervo ferroviário está se perdendo. Até mesmo a antiga casa do chefe da Estrada de Ferro Sorocabana está interditada devido à situação de abandono e pode ser demolida.

A realidade é que o trem poderia transformar Santa Cruz do Rio Pardo numa das cidades mais importantes do interior paulista a partir do início do século XX. Porém, transformou-se num pesadelo que durou décadas por conta das dívidas contraídas pelo município para a construção do ramal ferroviário até Bernardino de Campos.

Existe um mito sobre o benefício econômico do trem para os municípios. Alguns aproveitaram os trilhos — como Ourinhos ou Bauru —, mas outros não se desenvolveram e só tiveram mais uma opção para o transporte de seus produtos e passageiros.

Santa Cruz não teve ganhos com a ferrovia porque resolveu bancar toda a construção do ramal e ficou com uma enorme dívida durante décadas. A cidade deveria ser contemplada em sua sede com o ramal tronco da Estrada de Ferro Sorocabana, a antiga “Sorocabana Railway”, mas houve mudanças no projeto e a linha passou em distritos — como Bernardino de Campos, Ilha Grande (Ipaussu) e Chavantes. Todos estes locais se emanciparam anos mais tarde.

CONSTRUÇÃO — Foto provavelmente de 1907 mostra trabalhadores na construção da estação ferroviária



Na época, quem assinou o contrato com a Sorocabana, em nome da Câmara, foi Francisco de Paula Abreu Sodré. No entanto, havia uma razão para a “aposta” dos políticos da época: um projeto para uma nova ferrovia, que transformaria Santa Cruz num entroncamento.

Aprovada desde o período do Império, a “Ferrovia do Peixe” era um projeto praticamente certo, que sairia da estação de Santa Cruz do Rio Pardo com destino ao Paraná, Mato Grosso e com possibilidade de chegar à Bolívia.

Foto de morador diz que foi o último dia do trem, em 1966



Então, valeria a pena financiar o próprio ramal à espera da futura linha ferroviária. De acordo com o projeto inicial, a estação de trem em Santa Cruz do Rio Pardo seria construída nas proximidades da praça Leônidas Camarinha, mais ou menos onde hoje fica o prédio da prefeitura.

Porém, o projeto da “Ferrovia do Peixe” foi transferido para Bauru e a dívida do ramal tornou-se impagável. Um investidor emprestou o dinheiro e o município pagava parcelas pesadas. Além disso, os recursos financeiros gerados pela estação ferroviária não foram distribuídos para o município durante quase meio século.

Uma elite importante da sociedade paulista morava em Santa Cruz do Rio Pardo, como as famílias Sodré, Costa, Cerqueira César e outras. Como o projeto da nova ferrovia naufragou, quase todas deixaram a cidade. Algumas ficaram apenas com as fazendas, sendo administradas a distância.

“Na verdade, a Câmara foi enganada”, avalia o historiador Celso Prado sobre o projeto da “Ferrovia do Peixe”. Segundo ele, a dívida cresceu de tal forma que em 1926 o então prefeito Pedro Camarinha, num discurso memorável, admitiu que a cidade estava na bancarrota e sem condições de continuar pagando a dívida. Ele chegou a apelar ao governador para que alguma coisa fosse feita pelo Estado para livrar a cidade daquela dívida.

“Este mesmo discurso já havia sido feito pelo Olympio Pimentel em 1910, logo após a inauguração do ramal ferroviário”, contou Celso Prado. Segundo ele, Pimentel reclamou que o município não tinha recursos para implantar nem mesmo uma rede de esgoto.

O ramal foi desativado em novembro de 1966 e durante muitos anos ficou célebre a frase de que “o pai colocou e o filho tirou”. A referência era sobre Francisco de Abreu Sodré e um de seus filhos, Roberto Costa de Abreu Sodré, que foi governador de São Paulo e ministro das Relações Exteriores. No entanto, quando o ramal foi extinto, o governador era Laudo Natel. Abreu Sodré só assumiu o Estado a partir de 1967.




Reportagem descreveu

a inauguração em 1908


O nome da avenida Jorge Tibiriçá, que liga o centro de Santa Cruz do Rio Pardo ao bairro da Estação, tem um motivo. Era ele o governador de São Paulo que inaugurou o ramal ferroviário da Sorocabana em 1908. Uma reportagem detalhada sobre o evento foi publicada na edição de 8 de abril de 1908 do jornal “Correio Paulistano”, enaltecendo a figura do “presidente” do Estado, o antigo nome do ocupante do cargo.



Foi um dia muito agitado. Jorge Tibiriçá desembarcou do trem em Piraju, sendo recebido por Ataliba Leonel e Cícero Leonel, além do vigário da cidade e outras autoridades.



Em seguida, a comitiva parou para um lanche em Batista Botelho, quando a locomotiva recebeu um “carro-salão” para o transporte especial das autoridades até Santa Cruz do Rio Pardo.



A locomotiva que trafegava no ramal, em foto do início do século XX



A reportagem conta que o ramal de 25 quilômetros tinha sido construído “às expensas” da Câmara de Santa Cruz. O jornalista destacou que os trilhos rasgaram a mata e que o cenário da viagem era “exuberante”. Ele também escreveu que ficou impressionado com a beleza da cidade, às margens do rio Pardo.



O governador foi recebido com banda musical e pelas autoridades Olympio Pimentel, Godofredo Negrão, Luiz Pereira Leite, Isaias de Carvalho, Emygdio Piedade, Américo Paranhos, João Castanho e outras.



Na frente da plataforma da estação, estavam alunas do Colégio Nossa Senhora do Amparo. O discurso de saudação ficou a cargo do juiz de Santa Cruz na época, Cardoso Ribeiro, que aproveitou para pedir a extensão dos sereviços ferroviárias.



Jorge Tibiriçá caminhou pela cidade e foi homenageado por alunos de escolas públicas no “Largo da Liberdade”. Em seguida, a comitiva foi hospedada na residência do então prefeito Olympio Pimentel, sendo homenageada com uma saudação pela menina Isolina da Silva.



“Depois de ligeiro descanso, foi servido um lauto almoço”, narra a reportagem, que publicou até o cardápio oferecido ao “presidente” do Estado.Tibiriçá, segundo a reportagem, ficou impressionado com a hospitalidade da cidade e fez um brinde “à prosperidade de Santa Cruz do Rio Pardo”.



No período da tarde, seguiu a viagem de trem para inaugurar outras estações ferroviária, como Manduri e Avaré. Ao todo, o governador paulista Jorge Tibiriçá percorreu 1.147 quilômetros de trem naquele dia 4 de abril de 1908. 



  • Publicado na edição impressa de 23 de agosto de 2020


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