CULTURA

João Zanata: "O psicopata"

João Zanata:

Publicado em: 31 de agosto de 2020 às 15:30
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 14:42

O psicopata

João Zanata Neto

No silêncio

do seu quarto,

dorme o assassino

No céu uma luz ofusca um horizonte. São as tardes de um janeiro onde estas últimas horas dão um ar saudoso de um dia que não se percebeu. É um momento espirituoso onde os ânimos se concentram em um contemplar do natural. O homem se encontra novamente com a sua natureza. Uma pobre alma que se recosta alquebrada não teme contemplar a grandiosidade que o cerca. São os últimos alentos destes raios calorosos que ao certo logo se vão, deixando-a a mercê de uma longa noite fria.

Porque agora em que as horas diuturnas se vão é que seus sentimentos lhe tomam como o mais tolo dos homens, capaz de acreditar nas mais absurdas esperanças? Talvez, ou somente agora, seus anseios dão-lhe uma trégua. Suas aspirações aquietam-se sob um aspecto de satisfação que lhe garantem algumas horas de repouso absoluto. Um sono assim lhe é uma eternidade onde poucas horas de olhos cerrados ser-lhe-ão como muitas depois de fadigosas horas de agitação.

Agora que este corpo inerte repousa profundo no leito macilento, suas paredes espreitam o desarranjo do quarto. No chão, roupas usadas e abandonadas, exalam um odor fétido de um uso prolongado. Um par de sapatos sujo na lama do caminho descansa desordenado. Um deles virado sobre o velho tapete que esconde grãos de areia salpicados sobre o piso. Mais ao lado, restos de unhas cortadas são devorados pela legião de formigas. Sob a cama, um pequeno rato roe migalhas de pão sem o receio costumeiro, refestelando-se clandestino, certo e seguro, naquele seu recanto obscuro. É rodar os olhos um pouco mais adiante e há de se ver, ao lado da cama, um empertigado criado mudo, ostentando uma parafernália de objetos empoeirados; coisas que se juntam por mimo, mas não tem serventia, exceto pelo ensebado copo de vidro e alguns comprimidos dispersos.

As paredes que lhe espreitam carregam seus troféus. Decerto, não se satisfazem com seu herói roncador e gorducho, uma coisa indigna destes prêmios; um vilão asqueroso sem orgulho. Mesmo um vilão não deve decepcionar seus aficionados. É incompreensível que diante de tanta façanha ainda permaneça anônimo, um reles cidadão do submundo sem prestígio ou qualquer importância que a ele possa ser atribuída. Talvez, não há talento que se preze neste homem frustrado pela sua rotina moribunda. Este miserável matador serial não tem inteligência para se arrogar um dos mais cruéis assassinos. Faltam-lhe detalhes sórdidos, caprichos insanos, requintes de tortura ou coisa qualquer que mereça a primeira página de um jornal. Este matador não tem a sua assinatura ou sinal que o faça virar uma lenda. No mais obteve pequenas notas policiais sobre mortes misteriosas de jovens ainda não explicadas... 

* João Zanata Neto é escritor santa-cruzense, autor do romance “O Amante das Mulheres Suicidas”



  • Publicado na edição impressa de 23 de agosto de 2020


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