CULTURA

Um argentino no céu do Brasil

Um argentino no céu do Brasil

Publicado em: 06 de setembro de 2020 às 19:05
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 21:01

Casado com uma santa-cruzense e morador em Santa Cruz, Gustavo Lemos é apaixonado pela aventura de voar num parapente

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Nascido em Buenos Aires, na Argentina, Gustavo Lemos, 33, estava cursando Inglês na Austrália quando conheceu a santa-cruzense Jéssica Ramos Martins, neta do ex-prefeito Paulo Gilberto Machado Ramos. Foi amor à primeira vista. Os dois se casaram e foram morar na Argentina, onde ficaram dez anos e tiveram as filhas Ainara, 7, e Elaia, 2. Há sete meses, estão em Santa Cruz do Rio Pardo, pois Gustavo reconheceu que agora é o tempo da mulher ficar ao lado dos parentes. Mas ele trouxe na bagagem a paixão pelo parapente, esporte que pratica há anos.

Gustavo, na verdade, trabalha em casa para uma empresa dos Estados Unidos. Ele é designer gráfico e passa o dia no computador. É tão responsável que a reportagem precisou adiar várias vezes a entrevista porque o argentino estava trabalhando.

AVENTURA ÚNICA — Na Argentina, Gustavo Lemos se prepara para decolar com seu parapente



“Para mim, não mudou nada com a pandemia. Eu já trabalhava em home office na Argentina”, contou. O que mudou, segundo ele, é morar num País com moeda estável, pois a inflação argentina é uma das maiores do mundo. “Passa de 50% e fica difícil planejar qualquer coisa”, contou. “O Brasil também tem problemas, mas a inflação é estável. Bolívia, Peru ou Chile não têm este drama, que infelizmente atinge a Argentina”, avalia.

Torcedor do Racing, Gustavo sabe que que existe uma enorme rivalidade entre brasileiros e argentinos exatamente por causa do futebol. No entanto, nunca sofreu xenofobia em Santa Cruz do Rio Pardo. Em casa, segundo ele, a família se divide quando as duas seleções se enfrentam. “Minha filha, que possui dupla nacionalidade, começa a cantar uma música que diz que somente o Brasil é penta. Acaba sendo divertido”, diz, lembrando que futebol é apenas um esporte e não deve ser motivo para discussões.

O parapente surgiu da paixão por voar. Começou há aproximadamente cinco anos, quando Gustavo obteve a habilitação. Nas primeiras aulas, fazia voo duplo, junto com o instrutor. Mas o esporte, alerta, não é muito barato.

Gustavo, a mulher Jéssica e as filhas Elaia (no colo) e Ainara, em S. Cruz (Foto: Sérgio Fleury)



Para voar com parapente, de acordo com Gustavo, hoje é preciso ter licença oficial. O documento é emitido pela Anac — Agência Nacional de Aviação — e, segundo ele, hoje já existe uma fiscalização mais severa nos locais usados para a prática do esporte. Como no caso dos aviões, a atenção maior está na decolagem e no pouso. “Durante o voo, se você não mexer nos comandos, a vela continua sozinha”, explica.

Quando morava em Buenos Aires, Gustavo e a família vinham pelo menos uma vez por ano a Santa Cruz do Rio Pardo. Nestas ocasiões, ele não perdia a oportunidade de praticar o parapente em Ribeirão Claro, o local preferido na região para esta atividade. “É muito gostoso e hoje já existe uma estrutura, como restaurantes. Aliás, já foi reaberta ao público”, disse.

Gustavo lembra que na conhecida “Pedra do Índio”, local preferido pelos turistas, existe uma rampa de decolagens de parapente. Ribeirão Claro fica no Paraná, na divisa com São Paulo, e é banhada pela represa Chavantes. Durante o ano todo há competições e jogos que envolvem aventura e natureza.

De cara para o vento

Gustavo Lemos conta que a mulher e as filhas sempre o apoiaram na prática do parapente, mas duas nunca quiseram se arriscar num voo. Ao contrário da filha mais nova, de dois anos, que não vê a hora de voar ao lado das nuvens. Claro que ainda vai demorar muitos anos para realizar o sonho.

“O parapente é um esporte que cresce demais em todo o mundo e no Brasil não é diferente. Está se profissionalizando muito e há locais maravilhosos para sua prática”, conta o argentino. “Para mim, voar é um relaxamento perfeito, uma situação de paz interior”.

Gustavo em Mendoza, na Argentina



Para ele, o parapente é um esporte seguro, desde que praticado com muita responsabilidade. Os poucos acidentes que aconteceram foram causados, na maioria das vezes, por erros do piloto, como ocorre geralmente na aviação comercial. “Eu, por exemplo, não faço nenhuma acrobacia. Afinal, tenho mulher e duas filhas”, brincou.

Gustavo disse que já voou 50 quilômetros sem parar. Neste caso, é preciso uma série de equipamentos para permanecer no ar durante horas. O argentino, por exemplo, leva bússola, barômetro para mediar a altitude e a posição do vento, celular, alimentos e água. “É preciso uma garrafinha a mais, para você urinar quando está voando”, conta.

No ar, o maior desafio são as turbulências. A primeira, aliás, nenhum atleta esquece. “No meu caso, eu era muito jovem e estava iniciando no esporte. Mas claro que houve um instante de forte adrenalina”, contou.

SEGURANÇA — Para voar, Gustavo usa vários equipamentos e até alimentos



O parapente não possui motor e é o piloto quem comanda a altura e a direção. No entanto, nem sempre o percurso pode ser completado em função dos ventos desfavoráveis. A decolagem geralmente é feita num morro, mas também pode ser realizada em campo aberto, por exemplo com a ajuda de um automóvel que “puxa” o parapente. “É como uma pipa”, disse.

Segundo Gustavo, não há limite de idade para se aventurar no parapente. “E nem mesmo um preparo físico muito bom. Conheço pessoas de 50 a 80 anos que continuam voando. Para aqueles que adoram voar, meu conselho é: comecem já”, afirmou o argentino que agora é também santa-cruzense.

* Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 30 de agosto de 2020


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