CULTURA

O título ‘esquecido’ da Esportiva em 1956

O título ‘esquecido’ da Esportiva em 1956

Publicado em: 07 de setembro de 2020 às 19:49
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 23:00

Conquista do campeonato de 1962 foi possível porque o time conquistou o acesso em 1956; filho do presidente lembra epopeia

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Aos 82 anos, trabalhando diariamente e com uma memória impecável, o empresário Pedro Vargas Peres tem um andar característico de quem herdou algum problema pela prática de esportes. Ex-goleiro, ele conta que sofreu uma grave contusão há muitos anos e, ao invés de passar por uma cirurgia, resolveu abandonar o futebol. Voltou depois como amador, mas ficou com uma pequena sequela, quase imperceptível no andar.

Pedro defendeu vários clubes de Santa Cruz e sempre foi apaixonado pela Esportiva Santacruzense. Ele se lembra com detalhes, por exemplo, do título de 1956 da Terceira Divisão, aquele que deu condições ao elenco de 1962 a conquistar novo acesso e disputar a Primeira Divisão de Profissionais.

No campo do Colégio Dominicano, Vargas defende um pênalti pela Associação Atlética Santacruzense



O goleiro com Forlan, durante jogo beneficente: jogador foi ídolo do SP



Em seu escritório, na cerealista que dirige há décadas, Pedro “Pelota” tem fotografias antigas de uma época em que foi ídolo de torcidas de Santa Cruz do Rio Pardo. São muitas lembranças, algumas de um tempo em que estava saindo da adolescência e acompanhava os jogos da Esportiva. Foi em 1956, quando Pedro completou 18 anos, que o time foi campeão da Terceira Divisão, conseguindo o acesso para a Segunda Divisão, na qual conquistaria o título de 1962. Ficou, então, a um passo da Divisão Especial, onde estavam os clubes “grandes” do Estado de São Paulo.

“Aquele time foi um dos melhores do interior do Estado. Era praticamente imbatível, tão bom quanto o de 1962”, conta. De fato, a Esportiva de 1956 já tinha jogadores que fariam parte do elenco de 1962, como Mendoncinha e Padaia.

Pedro Vargas Peres mostra fotos antigas, em seu escritório na empresa (Foto: Sérgio Fleury)



Décio Mendonça era ainda muito jovem e depois daquela temporada seguiu para a Prudentina, onde sagrou-se campeão antes de retornar a Santa Cruz em 1962.

Na época, Pedro Vargas Peres se preparava para fazer o Tiro de Guerra, onde se destacaria como goleiro. Mas ele acompanhava os jogos da Esportiva por um forte motivo, além da paixão pelo futebol. É que o pai, Christovam Peres, era o presidente do clube, tendo como tesoureiro o professor Osvaldo Scucuglia.

Christovam decidiu montar um time competitivo e trouxe para a cidade cinco jogadores de fora. O principal era Lelé, ídolo do Vasco da Gama, campeão carioca de 1945 (quando foi o artilheiro da competição) e 1947, campeão sul-americano de 1948 e jogador da seleção brasileira entre 1940 e 1945. Além de ponta avançado, em Santa Cruz Lelé também foi o técnico da Esportiva.

NÁUTICO - A Associação Atlética em 1957, com o goleiro Pedro "Pelota" e, agachado em sua frente, Ivan Brondi



Pedro conta que o ídolo do Vasco chegou a Santa Cruz graças aos esforços de Christovam e do então prefeito Lúcio Casanova Neto. “Ele e a mulher Vanda adoraram a cidade. Meu pai e o Lúcio o tratavam como um filho”, conta.

A Terceira Divisão era equivalente hoje à “Segundona”. Com o acesso em 1956, a Esportiva passou para a Segunda Divisão — hoje série A3. Em 1963, cujo campeonato era da temporada de 1962, conquistou o acesso para a Primeira Divisão (atual A2). Os grandes clubes estavam um degrau acima, na Divisão Especial. Naquela década, a Santacruzense disputou um campeonato que englobava uma vasta região, incluindo Bauru, Duartina, Piraju e Assis.

O pai de Pedro Vargas se desdobrou para bancar o time de 1956, mas valeu a pena. A cidade festejou o título inédito nas ruas.

Mas Pedro tem outras lembranças. Certa vez, o presidente resolveu trazer a equipe titular do Corinthians para jogar em Santa Cruz, no dia do aniversário da cidade. “Mas o combinado era fazer o pagamento assim que a equipe desembarcasse do avião. No entanto, choveu muito e o avião da Vasp pousou em Ourinhos”, contou.

Equipe do MAC nos anos 1980; o goleiro à direita é Pedro Vargas Peres



Com o problema, segundo contou Pedro, entrou em ação um grande amigo de Christovam, o usineiro Orlando Quagliato. “Ele colocou vários jipes para trazer o elenco do Corinthians até Santa Cruz, pois as estradas eram de terra. Além disso, pagou o dinheiro adiantado, pois confiava muito no meu pai. Em Santa Cruz, após a partida, o presidente acertou a dívida”, lembrou.

Goleiro aguerrido

Pedro Vargas Peres ganhou o apelido “Pelota” por causa do futebol. Descendente de espanhóis, os parentes brincavam com ele ainda garoto, pedindo para pegar a “pelota”, como chamavam a bola.

No Tiro de Guerra, se destacou como goleiro e começou a ser sondado por times amadores da cidade. Em 1957, já era titular da Associação Atlética Santacruzense, cuja sede ficava no Clube Náutico.

O time — conhecido como “os vermelhinhos” — foi campeão do Torneio do Interior em 1957 e conquistou a extraordinária marca de 50 jogos invicto. Um dos destaques era Ivan Brondi, santa-cruzense que anos depois foi jogador do Palmeiras, hexacampeão pelo Náutico e chegou a atuar na seleção brasileira olímpica.

Em seu escritório na empresa, Pedro Vargas Peres mostra foto antiga dos tempos de goleiro



Mas Pedro “Pelota” também atuou na Santacruzense como amador. Chegou a ser o terceiro goleiro do time principal — não teve muito espaço porque o elenco contava com grandes arqueiros, como Álvaro e Dido.

Pedro Vargas Peres se casou em 1963 e, algum tempo depois, sofreu uma grave contusão no joelho. “Foi numa dividida com um atacante. Minha mulher não gosta que eu fale disso porque foi na época em que minha primeira filha estava nascendo”, conta. O goleiro chegou a ser hospitalizado e decidiu abandonar o futebol.

“Na verdade, o correto seria operar o joelho. Como me afastei dos gramados, achei que não seria mais necessário”, contou. Ficou, então, o andar característico do ex-atleta.

Mas a paixão falou mais alto e Pedro retornou ao futebol. Em 1980, por exemplo, foi goleiro da Esportiva, a convite do técnico Pintinho. Depois, passou a atuar no inesquecível time de veteranos do MAC — Milionários Atlético Clube —, que ficou um ano e meio sem perder. Na época, o MAC viajava praticamente todos os domingos para disputar jogos em outras cidades.

Ficaram as boas lembranças como jogador e do pai Christovam Peres, que levou Esportiva Santacruzense ao primeiro título paulista de sua história.

* Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 30 de agosto de 2020


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