CULTURA

Tonico Lista: o mandante de um crime em São Pedro

Tonico Lista: o mandante de um crime em São Pedro

Publicado em: 15 de setembro de 2020 às 15:12
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 06:13

Para se livrar de dois desafetos, Tonico Lista pediu a um primo coronel que providenciasse os assassinatos

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

O maior líder político nas primeiras décadas do século passado em Santa Cruz do Rio Pardo, o emblemático coronel Antônio Evangelista da Silva foi acusado de ser o mandante do assassinato de um outro coronel e influente político de São Pedro do Turvo. Era João Pedro Teixeira Coelho Júnior, avô do ex-prefeito santa-cruzense Clóvis Guimarães Teixeira Coelho. Um dos filhos de João Pedro, Sebastião Coelho, posteriormente foi prefeito e líder político de São Pedro do Turvo.

Na verdade, segundo o historiador Celso Prado, Tonico Lista foi acusado de ter mandado matar pelo menos 30 desafetos. Absolvido, escapou de todos os processos até ser assassinado em julho de 1922.

Era a época violenta do coronelismo, quando os políticos andavam armados e o sangue fervia nas eleições, na época chamadas de “a bico de pena” porque somente uma pequena parcela da população tinha direito ao voto. Tonico chegou rapidamente ao poder, após a morte do coronel Batista Botelho, de quem era correligionário.

O Coronel Tonico Lista, que estendeu seu poder além de Santa Cruz do Rio Pardo



Botelho se suicidou em 1902 e o poder foi transferido para o grupo de Francisco de Paula Abreu Sodré. Tonico Lista, fiel ao antigo chefe político, permaneceu na oposição ao lado do advogado Olympio Rodrigues Pimentel. Dois anos depois, nas eleições estaduais, o candidato Ataliba Leonel, poderoso coronel de Piraju, teve seu nome vetado pelo grupo de Sodré, do qual fazia parte o juiz de Direito de Santa Cruz, Augusto José da Costa. No entanto, foi apoiado por Tonico Lista e Olympio Pimentel.

Ataliba venceu as eleições e se transformou numa liderança estadual, influindo diretamente na política de Santa Cruz do Rio Pardo. Em 1905, Tonico Lista já era o delegado de polícia nomeado e iniciou um ciclo de violência contra seus desafetos.

A partir de 1907, Lista se tornou o chefe absoluto da cidade, formando um dos grandes impérios políticos do interior paulista. Graças a Ataliba Leonel, ganhou a chancela do diretório central do PRP e passou a exercer o poder em toda a vasta região de Santa Cruz do Rio Pardo. Só não obteve apoio em Ilha Grande, terra do coronel Emygdio José da Piedade Filho — cujo pai era o deputado Emygdio Piedade —, e em São Pedro do Turvo, onde o coronel João Pedro Coelho Júnior ainda exercia sua liderança.

Tonico foi acusado de vários assassinatos; acima, sepultamento de dois opositores após um tiroteio na Câmara Municipal de Santa Cruz em 1922



Foi aí que Tonico Lista entrou em ação, com a cumplicidade de um primo residente em São Pedro, o também coronel Marciano José Ferreira. De acordo com um livro do historiador Amador Nogueira Cobra, Marciano viera de São Simão com a família de Tonico no final do século XIX. Enquanto os pais de Tonico permaneceram em Santa Cruz, Marciano se aventurou para São Pedro do Turvo.

Pois João Pedro Coelho Júnior foi assassinado a tiros — e na certidão de óbito consta a expressão “morreu matado”. Os assassinos foram levados a julgamento, mas negaram que Marciano fosse o chefe do bando. Todos foram absolvidos. Tonico Lista integrou o “Conselho de Sentença” do júri.

Faltava, ainda, tirar do caminho Emygdio José da Piedade em Ilha Grande (hoje Ipaussu). Mas este foi assassinado logo depois, em janeiro de 1908, num crime que, segundo Celso Prado, teria sido arquitetado pelo coronel Marciano a mando de Tonico Lista.

De acordo com um livro de Amador Nogueira Cobra, Piedade cavalgava perto de Irapé e encontrou uma porteira amarrada ao batente. “Enquanto procurava desatar o nó, recebeu uma bala que lhe atravessou o peito, caindo morto no mesmo instante”, conta no livro.

Os dois pistoleiros que atiraram em Emygdio, provavelmente contratados por Marciano, foram absolvidos por unanimidade em júri realizado em setembro de 1908.

Com dois principais opositores afastados violentamente, o coronel Lista passou a impor sua liderança em toda uma vasta região. Espalhava tanto temor que o irmão de Emygdio, Arlindo Crescêncio Piedade, se aliou a Lista. Isto durou até que o coronel apresentasse sinais de enfraquecimento, quando foi assassinado em 1922.

Na época, Arlindo chegou a ser acusado como um dos mandantes do crime. Em depoimento, disse que tinha sido convidado a compor um novo grupo político que estava sendo formado por um ex-juiz de Santa Cruz. O magistrado era Cardoso Ribeiro, o juiz que Tonico Lista expulsou da cidade em 1909 e que jurou vingança. Muitos anos depois, já era o secretário de Segurança Pública de São Paulo e aliado do governador Washington Luiz.

Como a história dá voltas, em São Pedro do Turvo um dos filhos do coronel João Pedro Teixeira recuperou a liderança política da família. Sebastião Teixeira Coelho, pai do saudoso ex-prefeito Clóvis Guimarães, governou a vizinha cidade por três mandatos. 



  • Publicado na edição impressa de 6 de setembro de 2020


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