CULTURA

João Zanata Neto: "O prego, a madeira e o martelo"

João Zanata Neto:

Publicado em: 23 de setembro de 2020 às 21:56
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 09:53

O prego, a madeira e o martelo

João Zanata Neto

Alguns escritores expressam complexidade em suas obras. Elas são terrivelmente intrincadas e requerem a leitura de outra obra explicando a complexidade da primeira. Acontece que esta outra não ajuda muito, pois é tão ou mais complicada do que a primeira. É como se fosse um devaneio de um devaneio. Mas, antes que adentremos nesta questão, é preciso aprumar esta fiada. Só será digno de reclamar da complexidade de uma obra quem pelo menos tentou entende-la. Não seja um moleque mimado, sempre esperando tudo mastigado. Todo empenho será recompensado na medida exata do seu esforço (primeira lei do merecimento). O prego não pode recusar a madeira antes da primeira martelada. Algumas obras tem um cerne duríssimo. São muito densas e é preciso muito tempo para absorver a sua inteligência. O simbolismo e o significado das frases são tão profundos que muitos sucumbem nesta busca.

Muitas obras de variados gêneros apresentam uma complexidade exorbitante. A leitura, nestes casos, é sempre possível. Uma releitura é sempre necessária. No entanto, a incompreensão é quase sempre o resultado desta soma de letras. Esta dificuldade pode até ter um nobre propósito. A aprendizagem é o objetivo de todo ensinador. Mas, algumas obras parecem destinadas a uma indigestão mental.

Com o tempo, a mente deixa de ser um receptáculo passivo das frases alheias. Neste momento, deixa de ser elegante demonstrar conhecimento com citações emprestadas. A criticidade que surge em uma mente esclarecida agora já percebe a falta de lógica em muitas frases. Neste momento, a mente passa a relativizar todas as afirmações. Em tudo há um pode ser, um talvez, um nem sempre. As controvérsias criam as incertezas e abalam todas as falsas verdades. As ciências só produzem a verdade quando percorrem lógicas restritas e traduzem fenômenos experimentáveis e replicáveis. A literatura que persegue estas premissas se converte em filosofia.

A literatura que se ocupa dos preciosismos fraseológicos é uma vã filosofia. Um requinte literário que perde a nobreza dos propósitos elevados. Ela busca um entretenimento que só agrada os olhos de uma mente acrítica. Enquanto os malabares entretêm o público com a sua habilidade, ele é muito mais honesto que os escritores e as suas frases pirotécnicas porque o primeiro obedece à lógica da gravitação de forma primorosa e o segundo subverte as lógicas do plausível.

Complicar é mais fácil do que simplificar, dizem. Depende, pois estabelecer um complexo pode ser dificultoso quando há uma lógica a ser seguida. Simplificar um complexo regrado é difícil, mas simplificar um absurdo é impossível. Tudo se resume na dificuldade de expressar as ideias. Talvez, a literatura veio ao mundo para contar a falibilidade dos seres humanos sem jamais ousar entende-las. É preciso tê-la como problematizadora. As soluções serão filosóficas ou científicas. 

* João Zanata Neto é escritor santa-cruzense, autor do romance “O Amante das Mulheres Suicidas”.



  • Publicado na edição impressa de 13 de setembro de 2020


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