CULTURA

Antiella Carrijo Ramos: 'Esperançar'

Antiella Carrijo Ramos: 'Esperançar'

Publicado em: 06 de outubro de 2020 às 08:22
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 07:09

Esperançar

Antiella Carrijo Ramos

Sou aspirante na escrita e, embora tente escrever sobre coisas que estão conectadas com a realidade e o tempo presente, a necessidade de me sentir tocada afetivamente pelas pautas que escrevo sempre coloca em risco a atualidade do tema. Para o leitor, talvez teria sido mais interessante ler Paulo Freire no dia do seu aniversário. As queimadas no Pantanal também me pareciam mais atuais dias atrás. Pensei muito sobre o que escreveria e percebi que tudo me levava a um único sentimento — a angústia. Não bastassem as dificuldades da vida em quarentena, fui surpreendida por um vazio inexplicável e pela incerteza de como seria possível lidar com tantas adversidades. Então decidi escrever sobre um emaranhado de coisas que conduziu a angústia pra perto de mim.

O Brasil está em chamas, literal e metaforicamente. O Pantanal queima e a fumaça chegou aqui. Animais mortos, aldeias indígenas removidas e a vegetação devastada. O governo nada fez para conter o fogo. Arrisco dizer que queimar sempre foi o plano. Padre Júlio Lancellotti foi ameaçado! Como podem querer mal ao padre dos excluídos, aquele que só fez para servir ao próximo, exatamente como Jesus nos ensinou? Dez milhões de brasileiros não conseguem comprar o feijão e o arroz virou luxo, a fome é uma realidade de novo. Ultrapassamos 137 mil mortes e seguimos vivendo como se a pandemia não existisse. Palavras ditas (e não ditas) que ferem, perseguem e destroem pessoas e legados, a ética é valor esquecido no Brasil de hoje. Vivemos mergulhados num discurso inebriante que atinge mentes, corações e os sentidos.

A narrativa é delirante! Sigo inquieta! É difícil não se angustiar! Mas ainda que doa, a angústia também pode ser combustível para a realização, para a transformação pessoal e para a construção de uma sociedade mais humanizada. É preciso ter coragem, ampliar a consciência individual para uma consciência coletiva e seguir “esperançando”, não no sentido da espera, mas no sentido da luta. Neste momento, faço das palavras de Paulo Freire, patrono da educação brasileira, as minhas: “esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.

* Antiella Carrijo Ramos é psicóloga em Santa Cruz do Rio Pardo

 

 




     
  • Publicado na edição impressa de 27 de setembro de 2020



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