CULTURA

A mulher ‘biônica’ e a vontade de viver

A mulher ‘biônica’ e a vontade de viver

Publicado em: 06 de dezembro de 2020 às 18:59
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 21:21

Evangélica, Sílvia Fernandes credita a Deus o fato de estar viva após tantos problemas de saúde ao longo dos anos

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Ela tem apenas um pulmão, um único rim, um terço do estômago, fraturou costelas e dedos, possui pinos internos, fraturou a coluna e joelho, fez duas cirurgias nos olhos e sofreu um aneurisma cerebral aos 16 anos, quando contraiu epilepsia. Esta heroína é Silvia Antônia Fernandes Claro, 48, cuja disposição e fé conseguem esconder todos estes problemas. Quem a conhece, não sabe a metade do que Silvia passou.

Mulher do ex-vereador Valter Fernandes, 58, ela é madrasta da vereadora eleita Mariana Fernandes (MDB), 31, a quarta mais votada nas eleições de domingo em Santa Cruz do Rio Pardo, com 602 votos. Silvia é mãe biológica de Érica Rodrigues de Oliveira, 31. Surpreendentemente, Mariana e Érica são parecidas.

A fantástica história de Silvia começou no parto, quando os pais moravam na zona rural, no bairro da Figueira Branca. A mãe já estava em trabalho de parto e o marido emprestou um carro do vizinho, um Fusca, e correu para a Santa Casa de Misericórdia. No longo caminho, um cavalo assustou e pulou no capô do carro.

FORÇA — Sílvia Fernandes mostra laudos, receitas, exames, raio-X e tomografia que fez ao longo dos anos



Ela se recuperou de cirurgias nos olhos



“O vizinho se chamava Zé Baiano e ele continuou acelerando, mesmo com o vidro quebrado e alguns ferimentos. Na verdade, minha mãe, que estava atrás, se assustou muito”, contou. Sílvia nasceu na porta da Santa Casa de Misericórdia, onde deu seu primeiro choro. Enquanto os médicos acudiam a mulher e o bebê, o pai de Silvia e o amigo foram levados para a enfermaria para tratar dos ferimentos do acidente.

Desde o nascimento, porém, Silvia contraiu uma doença degenerativa no olho, que pode ter sido provocada pela falta de oxigênio no parto. “Descobri isto numa consulta quando já era adulta. O médico disse que aquele susto da minha mãe no acidente certamente desencadeou este problema”, contou.

Aos 31 anos, Silvia conseguiu tomar uma medicação que praticamente controlou o problema no olho. “Mas minha visão é fraca”, admitiu.

Mas bem antes, aos 13 anos, os pais descobriram que Sílvia tinha um problema na cabeça. “Era um desvio numa veia e havia o risco de eu me deitar e não levantar mais”, explicou. Naquele mesmo ano, ela sofreu seu primeiro desmaio em pleno trabalho. Levada ao hospital, os médicos informaram que o problema poderia se agravar.

Sílvia foi medicada com remédios fortes, mas ainda tinha desmaios. Talvez por isso, aos 16 anos a menina sofreu um aneurisma cerebral, que evoluiu para um AVC porque houve sangramento. Encaminhada ao centro cirúrgico, ela implantou um “stent” no cérebro, que é uma prótese metálica implantada no interior de artérias.

Ficou hospitalizada 25 dias, mas houve sequelas. “Passei a ter convulsões, ataques epiléticos. Desde então, preciso tomar outros remédios para controlar os ataques. Hoje, eles são raros, mas acontecem no intervalo de alguns anos”, explicou.

No meio dos problemas, Silvia se casou, ficou grávida e teve ataques antes de dar à luz. A filha Érika, por exemplo, nasceu com hematomas numa das pernas causadas por batidas. Nove meses depois, Silvia separou do marido e passou a criar a filha sozinha. Ela se casou novamente e, anos depois, ficou viúva.

UNIÃO — Quando o marido também teve um problema grave de saúde (foto abaixo), foi Sílvia quem o acompanhou no hospital



Silvia voltou a se casar quatro anos depois, com o ex-vereador Valter Fernandes. Foi aí que teve uma pneumonia cuja gravidade os médicos não conseguiram perceber. “Acho que a culpa é minha. Sou muito forte com problemas de saúde e, por isso, não costumo demonstrá-los. Febre de 40 graus para mim é fichinha e não fico na cama de um hospital. Quando muito, sentada numa cadeira. Então, os médicos avaliavam minha disposição e achavam que não era grave”, contou.

Mas era. Um dos pulmões estavam comprometidos e Silvia precisou ser engessada para evitar que a inflamação se movesse, pois havia muita secreção. Levada para Ourinhos, ela passou por um procedimento de drenagem rápida do pulmão. “Era isto ou eu morreria. O problema é que, ao sugar a secreção, meu pulmão murchou. Depois, acabou secando e só tenho um deles. Mas nem sinto este problema”, afirmou.

Ainda não era a última “provação” de Sílvia. De repente, após dores intensas, ela foi diagnosticada com cálculo renal. Era uma pedra gigantesca e ela não poderia ser submetida a uma cirurgia, pois Silvia também possui uma hérnia de disco. “O risco era abalar a coluna e eu não andar mais, pois a pedra estava quase grudada nela. Então, resolveram tirá-la com medicamentos”, explicou.

Mas isto só era possível com remédios fortíssimos, que Sílvia passou a usar. Era uma espécie de quimioterapia, pois chegou a ficar internada em Jaú e perdeu cabelos, os pelos do corpo desapareceram e houve problemas na unha. A pedra, enfim, saiu.

Os cabelos voltaram, mas a sequela foi a morte de um dos rins. “Mas tenho outro, tudo bem”, disse.

Com tantos problemas, Sílvia ainda era obesa. Há alguns anos, quando estava deixando o trabalho, ela torceu o pé e caiu de costas. Foi preciso chamar o resgate dos bombeiros e Sílvia foi novamente para o centro cirúrgico. Ela quebrou dedos, perdeu parte do tendão e recebeu pinos internos e externos. “Perdi todo o movimento neste pé. Os médicos resolveram travá-lo”, contou.

Porém, após a segunda cirurgia para retirada dos pinos, Sílvia passou a perceber dores intermináveis nas costas. Submetida a uma tomografia, descobriu-se que, na verdade, ela havia fraturado a T-12, uma das principais vértebras da coluna. “Eu quebrei mesmo, não era nem uma trinca”, contou.

A fratura poderia provocar uma paralisia permanente nas pernas. O problema foi que, com o tempo, a fratura calcificou. A solução foi muito repouso. A coluna, então, ficou torta.

O próximo problema Sílvia tirou de letra. Uma brecada mais forte do carro dirigido pelo marido, para não bater numa bicicleta, provocou um forte aperto na costela. Dias depois, ela não aguentou as dores e foi ao hospital. Diagnóstico: duas costelas quebradas. “Só não perfurou o pulmão porque eu não tenho num dos lados”, lembrou. Ela usou colete um bom tempo e se recuperou.

E tem mais. Sílvia quebrou o joelho numa nova queda. “A fratura foi um pouco abaixo da rótula. O médico disse que eu deveria usar muletas ou bengala. Como sou teimosa, usei uma bota e nem fiz repouso. Tenho dores até hoje e ando mancando”, contou.

Ela também passou por uma cirurgia bariátrica, reduzindo o estômago para um emagrecimento forçado. Com tantos medicamentos ao longo da vida, Sílvia ainda contraiu hepatite. “Meu fígado estava praticamente condenado, mas fui encaminhada a Curitiba e passei por outra cirurgia. Acho que ficou curado”, contou.

Talvez o problema menos grave aconteceu com o ombro, fruto de um acidente de moto. “Ele trincou em cima e se eu erguer muito o braço, a pelota cai e é preciso colocar no lugar. Eu mesmo aprendi a fazer isto”, disse.

Acabou? Não. Recentemente, Sílvia precisou fazer uma cirurgia nos dois olhos. “Eu sofri derrame ocular e precisei ser operada com urgência, sob risco de ficar cega”, disse.

Quando conta sua história para amigas, poucas acreditam. “Só quem me conhece é que sabe do meu jeito. Posso estar morrendo, mas não reclamo e estou sempre disposta”, avalia.

Evangélica e frequentadora da Igreja Presbiteriana, ela disse que não há outra explicação para o fato de estar viva a não ser a presença de Deus. “Isto eu tenho certeza absoluta. Minha fé e minha força de vontade me trouxeram até aqui e vão me levar até o fim”, afirmou.

Um exemplo vem do marido, Valter Fernandes, 58, que também enfrentou problemas graves de saúde. Há menos de um ano, ele teve duas paradas cardíacas. Internado, teve o conforto da mulher no hospital. “Um desses dias, ela dormiu no chão, pois não havia cama ou cadeira”, contou Valter.

Sílvia costuma dar conselhos a pessoas que ficam desesperadas com alguns problemas. “Eu acredito que Deus permite fardos até onde podemos carregar. Sou um exemplo disso”, disse Sílvia. “Nunca podemos desistir. Tudo o que é ruim, um dia vai passar. Acho que sou uma lição de vida para mim mesmo”.

Para ela, muitos órgãos de seu corpo foram prejudicados ao longo de sua vida. “Mas meu coração é perfeito. E é isto o mais importante”, disse. 

* Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 29 de novembro de 2020


SANTA CRUZ DO RIO PARDO

Previsão do tempo para: Sábado

Céu nublado
22ºC máx
10ºC min

Durante a primeira metade do dia Períodos nublados com tendência na segunda metade do dia para Céu limpo

COMPRA

R$ 5,41

VENDA

R$ 5,42

MÁXIMO

R$ 5,43

MÍNIMO

R$ 5,39

COMPRA

R$ 5,45

VENDA

R$ 5,63

MÁXIMO

R$ 5,46

MÍNIMO

R$ 5,43

COMPRA

R$ 6,38

VENDA

R$ 6,39

MÁXIMO

R$ 6,38

MÍNIMO

R$ 6,37
voltar ao topo

Voltar ao topo