CULTURA

Franco Catalano: 'Verticalizar para quê?'

Franco Catalano: 'Verticalizar para quê?'

Publicado em: 17 de dezembro de 2020 às 15:09
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 20:55

Verticalizar para quê?

Franco Catalano

CULTURA Já não bastasse o elefante branco da rua de cima, datado da década de 80 e nunca efetivamente ocupado, agora anunciam mais um “moderno empreendimento” para a cidade: um condomínio de nove pavimentos localizado na esquina da Avenida Dr. Ciro de Melo Camarinha com a Rua Joaquim Manoel de Andrade.

Tema de debates contrários, inclusive em grandes metrópoles como São Paulo e Nova Iorque, a verticalização desproporcional já deixou claro que não é a melhor estratégia de urbanização. Se lá, mesmo com a escassez de terrenos, há opções mais humanizadas do que torres elevadíssimas, por que diabos em um dos maiores municípios em área do estado estão insistindo no erro?

O empreendimento falha em diversos pontos, a começar pela escolha de implantação. O terreno, extremamente íngreme, é cercado por ruas estreitas. Acompanhem minha lógica: informam que serão entregues 38 apartamentos. Nesta cidade, bem sabemos, impera a cultura do automóvel, onde, para quaisquer deslocamentos (longos ou curtíssimos), recorremos ao conforto do carro. Em uma família média santa-cruzense é comum encontrar dois veículos na garagem. Provavelmente o novo empreendimento não irá absorver 76 veículos em seu interior. Recorrerão, então, às vagas nas vias públicas, sobrecarregando-as.

Ainda, igualmente sabido, não encontramos muitas opções de lazer por aqui, levando-nos a realizar encontros – sobretudo churrascos – nas residências particulares. Imaginem um final de semana em que metade das 38 famílias que habitarão o edifício decida fazer um churrasco na “varanda gourmet”. Se cada uma delas receber dois casais como convidados, somemos aos veículos já estacionados nas ruas adjacentes mais 38 que virão para os eventos. As ruas simplesmente não comportarão este contingente.

Outra falha, além da escolha puramente especulativa de verticalizar uma cidade que definitivamente dispensa verticalização e da infeliz escolha do terreno, é a estética adotada. Pobre na concepção projetual, apela a jacuzzis e à área de lazer para amparar o discurso do “luxo”, que se esvazia ao observarmos o descuido com o entorno e com o conforto dos futuros moradores. Cada edificação tem um impacto e uma obrigação para com a cidade que a recebe. Ali, o que vemos são muros, grades e guaritas, num gesto de hostilidade e afastamento do meio urbano em que será inserido.

Ainda sobre a concepção do projeto, um aspecto básico e primordial a qualquer projetista é estudar a insolação que incidirá sobre o imóvel. No “luxuoso” condomínio, sinto pena dos habitantes que sofrerão com as minúsculas janelas e fachadas desprotegidas do impiedoso sol da tarde deste velho oeste paulista.

* Franco Catalano é santa-cruzense, estudou História da Arte em Madrid e é arquiteto



  • Publicado na edição impressa de 6 de dezembro de 2020


SANTA CRUZ DO RIO PARDO

Previsão do tempo para: Terça

Céu nublado
21ºC máx
13ºC min

Durante a primeira metade do dia Céu nublado com tendência na segunda metade do dia para Períodos nublados

COMPRA

R$ 5,46

VENDA

R$ 5,46

MÁXIMO

R$ 5,46

MÍNIMO

R$ 5,45

COMPRA

R$ 5,50

VENDA

R$ 5,67

MÁXIMO

R$ 5,50

MÍNIMO

R$ 5,49

COMPRA

R$ 6,44

VENDA

R$ 6,45

MÁXIMO

R$ 6,44

MÍNIMO

R$ 6,43
voltar ao topo

Voltar ao topo