CULTURA

‘O último dos moicanos’ no Natal monta presépio há décadas, sem interrupção

‘O último dos moicanos’ no Natal monta presépio há décadas, sem interrupção

Publicado em: 29 de dezembro de 2020 às 20:59
Atualizado em: 29 de março de 2021 às 06:40

Professor de música de Santa Cruz do Rio Pardo monta presépio há quase 30 anos, ininterruptamente

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

O ritual é o mesmo todos os anos. Em novembro, o professor de música Paulo Batista de Oliveira começa a preparar o presépio instalado no gramado de sua residência na rua José Rosso, no coração da vila Saul. Dias depois, surge a manjedoura de sapê, as imagens cristãs do nascimento de Jesus e as luzes que anunciam a chegada do Natal. A cada ano ele é perguntado sobre há quantos anos existe o presépio, mas na verdade nem o músico se lembra ao certo. “Eu acho que, se não chegou nos trinta, estou perto”, afirma.

O presépio simbolizando o nascimento de Jesus Cristo está presente em vários lares, mas é difícil uma família que resolva mantê-lo por quase três décadas, de forma ininterrupta. Paulo Batista evita comparar a persistência a uma promessa. “É um compromisso”, diz.

Religioso, ele sempre evitou enfeitar a casa com aqueles apetrechos coloridos e luminosos. Diz que o Natal representa o nascimento de Jesus e este é o acontecimento a ser lembrado nestes dias festivos.

Novidade neste ano, um monjolo divide espaço com as imagens santas



A cada ano, o presépio do músico tem uma novidade. O atual traz a miniatura de um monjolo que Paulo ganhou de presente de um amigo. “Ele trabalha na Special Dog e também queria montar um presépio. Ele veio em casa e eu dei várias dicas. Não sei se conseguiu, mas acabou me presenteando com um monjolo que ele mesmo construiu”, contou.

Paulo não teve tempo de instalar um sistema elétrico para bombear água e fazer o monjolo funcionar. “Mas para o próximo ano, com certeza ele terá água”, disse.

O músico começou a montar o cenário provavelmente nos anos 1990, numa época em que a Igreja Matriz de São Sebastião também montava um presépio num espaço que dá acesso à avenida Tiradentes.

Paulo se lembra que ficava encantado e visitava aquele presépio várias vezes antes do Natal. Entretanto, houve um ano em que alguém ateou fogo durante a madrugada, destruindo tudo. A Igreja Matriz, então, desistiu de seus presépios ao ar livre.

“Na verdade, as imagens ainda estão tinham sido colocadas, mas o presépio estava pronto, com telhado de sapê e tudo. Numa madrugada, passou um carro e colocou fogo. Foi aí que eu comecei a fazer o meu presépio no gramado”, afirmou.

Os anos foram se passando e a cena foi se repetindo. Porém, houve um período em que Paulo Batista estava desanimado a apenas 20 dias do Natal. “Resolvi parar com tudo”, conta. Ao dormir, o músico despertou na madrugada, como se levasse um susto ou alguém o acordasse. “Mudei de ideia. Pensei: onde eu estou com a cabeça? Aí resolvi que, enquanto eu estiver vivo e Deus quiser, vou continuar montando o presépio”.

O cenário, então, passou a ser o “compromisso” que Paulo Batista nunca deixou de cumprir. A pequena manjedoura tem cobertura de sapê, que o músico busca a cada dois anos — “dependendo da situação do telhado” — numa floresta perto de Bernardino de Campos.

Ele aprendeu a manusear o sapê na infância, pois os pais moravam no sítio. “A gente fazia rancho grande coberto com sapê. Na verdade, o rancho durava muito tempo, pois o sapê é resistente”, garante.

Professor de música no Centro Cultural Special Dog, na instituição “Aprendizes de Sodrélia” e no Conservatório Musical Osvaldo Lacerda, Paulo Batista diz que sofreu no ano em que a pandemia do coronavírus amedrontou o planeta. “Eu parei de dar aulas em março. É quase um ano”, lamentou, dizendo estar ansioso pela chegada da vacina.

A crise sanitária interferiu até mesmo no tradicional presépio, já que o movimento de pessoas nas ruas da vila Saul diminuiu. “Não é a mesma coisa do ano passado. De vez em quando passa uma família e fica olhando por uns minutos. Na verdade, vemos que em 2020 não existe aquela alegria contagiante. Estão todos preocupados”, disse.

Mas a alegria de Paulo continua sendo o presépio e o fato de muitos adultos terem brincado nos primeiros cenários que ele montou, há quase três décadas. “Aqui perto tem uma oficina e dois irmãos mecânicos, quando crianças, ficavam no quintal de casa brincando ao lado do presépio. Hoje são casados, pais de família e, de vez em quando, ainda se lembram do presépio que marcou suas infâncias”, afirmou.

Paulo Batista mantém a tradição religiosa de deixar o presépio até 6 de janeiro, Dia dos Reis. A data é uma celebração cristã que lembra quando os três reis magos — Baltazar, Belchior e Gaspar — seguiram a estrela de Belém e visitaram o recém-nascido Jesus de Nazaré.

Na verdade, ele o desmonta em 7 de janeiro, mas tem uma justificativa: “Dia 6 é meu aniversário”. A partir daí, Paulo já estará pensando no presépio de 2021, torcendo para que a pandemia seja, enfim, controlada. E a reportagem estará novamente no final do ano para fotografar o presépio. Afinal, virou um compromisso.



  • Publicado na edição impressa de 25 de dezembro de 2020


SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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