CULTURA

Um homem chamado Napoleão

Um homem chamado Napoleão

Publicado em: 17 de janeiro de 2021 às 19:31
Atualizado em: 28 de março de 2021 às 20:43

Napoleão Gonçalves Ferreira foi gráfico e jornalista; morreu esquecido, amargurado numa depressão após se separar

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Quem o conheceu na última fase de sua vida, imaginou tratar-se de uma figura folclórica daquelas que apareciam em sessões legislativas ou viviam ao redor de políticos. Mas Napoleão Gonçalves Ferreira foi muito mais, inclusive jornalista da antiga “A Cidade” e um dos mais próximos colaboradores do ex-prefeito Carlos Queiroz. É que Napoleão, desiludido e depressivo, começou a beber anos antes de ser encontrado morto em casa. Era março de 1989 e ele estava sozinho.

A história de Napoleão Gonçalves se confunde com a política dos “azuis” e “vermelhos” em Santa Cruz do Rio Pardo. Não há muitas informações sobre ele, já que apenas um dos filhos mora na cidade. Adair Antonio Gonçalves, 58, era criança quando o pai se enveredou pelo jornalismo. Napoleão também teve os filhos Airton, Gastão e Eliza. A viúva ainda é viva, com quase 90 anos.

Napoleão Gonçalves começou a trabalhar no jornal “A Cidade”, inicialmente como gráfico. Logo, ajudava nas reportagens e chegou até a entrevistar políticos.

Napoleão foi ligado ao deputado Leônidas Camarinha (na foto durante baile no Clube dos XX)



Ficou amigo de Leônidas Camarinha, o grande líder político da cidade nas décadas de 1940 a 1960. O ex-deputado estadual e ex-prefeito encarregou Napoleão de cuidar de seu comitê eleitoral em todas as campanhas. A sede partidária ficava em frente ao antigo Clube Soarema (hoje prefeitura), ao lado de um espaço onde funcionava a rodoviária.

O jornal interrompeu sua circulação no final dos anos 1950 e surgiu “A Folha”, que era praticamente a sucessora do semanário. Assim, Napoleão trabalhou um período nas oficinas de “A Folha”, cujo dono era Carlos Queiroz, o genro de Camarinha. Surgiu, então, outra grande amizade a ponto de Napoleão ser um dos grandes colaboradores do ex-prefeito, inclusive na campanha eleitoral para prefeito em 1963.

Jornal "A Folha" de março de 1964 (acervo: Celso Prado e Junko Sato Prado)



Carlos foi considerado o herdeiro político de Leônidas, fez uma das melhores administrações da história de Santa Cruz e tinha planos para voos mais altos. No entanto, morreu prematuramente aos 43 anos, quando seu Simca Chambord bateu de frente com um caminhão na rodovia SP-225.

Carlos Queiroz é até hoje reconhecido como grande gestor, mesmo tendo feito uma única administração.

O economista Miguel Moyses Abeche Neto, hoje residente em São José do Rio Preto, conheceu Napoleão e sua dedicação ao grupo dos “vermelhos”. Miguel conta que a eleição de Carlos foi um duro embate eleitoral entre os dois grupos políticos, com ataques rasteiros. Os “azuis” chegaram a espalhar que, caso Queiroz vencesse, as crianças da rede pública teriam quibe como merenda. Como se vê, a xenofobia não é um ódio dos tempos modernos.

Filho de Napoleão, Adair Gonçalves lembra que o pai contava ter sido criado dentro de uma redação de jornal. “Eu não me lembro do nome do jornal. Mas ele sempre dizia que foi jornalista. Certa vez, em Campo Mourão, no Paraná, ele consertava máquina de escrever para um jornal. E um funcionário duvidou que ele era jornalista. Pois ele conseguiu provar e ganhou a aposta”, contou.

Adair disse que seu pai tinha algumas ideias criativas. Em eleições, por exemplo, Napoleão usava seu cachorro, Banzé, para fazer propaganda eleitoral. “Ele colocava uma placa pendurada no cachorro e ficava caminhando pela cidade. Chamava a atenção de todo mundo”.

Quando conheceu Carlos Queiroz (foto), Napoleão passou a ajudar o genro de Camarinha em sua vitoriosa campanha para prefeito em 1963



O ex-vereador Luiz Besson se lembra do episódio e disse que o cachorro chegou a carregar uma placa de sua candidatura a vereador. “O Napoleão sempre foi muito prestativo. Vivia no meio dos políticos e era muito ligado ao Carlos Queiroz”, lembrou.

Ao ressaltar a humildade de Napoleão, Besson contou que ele chegou a prestar serviços em sua funerária. “Era, inclusive, um bom nadador e retirou muitos cadáveres de pessoas que se afogaram no Pardo”. Segundo Besson, o difícil era fazer um pagamento a Napoleão, pois ele quase nunca aceitava.

Quando se separou, Napoleão Gonçalves teve depressão e começou a beber. Ele morava com a mãe numa pequena casa no terreno onde hoje fica a Igreja Central da Congregação Cristã no Brasil, no final da avenida Batista Botelho. O imóvel, entretanto, não pertencia à família e foi adquirido pela Congregação diretamente dos proprietários. Napoleão, porém, não queria deixar o local.

A igreja, aliás, chegou a suspender o início da construção da Casa de Oração imaginando que alguém poderia convencer Napoleão. Foram meses de conversa até que, um dia, ele anunciou aos religosos que iria deixar a casa, onde já morava sozinho havia algum tempo. Só precisava de um tempo.

Napoleão não teve tempo nem de sair. Em março de 1989, foi encontrado morto na residência. Era a cobrança pelos anos de alcoolismo. 

* Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 10 de janeiro de 2020


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