Publicado em: 27 de janeiro de 2021 às 09:16
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 13:43
Saúde mental no caos?
Antiella Carrijo Ramos
Saúde mental é um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de usar suas próprias habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade, segundo a Organização Mundial de Saúde. A campanha Janeiro Branco, idealizada por psicólogos mineiros, traz luz à importância da saúde mental para o desenvolvimento pleno das pessoas. O mês de janeiro foi escolhido para sediar a campanha porque o início do ano é uma fase cheia de expectativas, em que zeramos figurativamente o cronômetro e a suposta página em branco das nossas vidas pode ser preenchida com metas, sonhos e possibilidades.
Sempre teci críticas em relação às campanhas que tingem nosso calendário pois sempre fiquei temerosa de que as cores esvaziassem o sentido da luta que travamos ao longo dos anos para a consolidação das políticas sociais no Brasil. Todavia, seria um equívoco da minha parte minimizar sua importância, porque elas informam, incentivam as pessoas a buscar ajuda e quebram estereótipos e preconceitos.
As campanhas são importantes, sim, e devem estar atreladas à construção contínua e efetiva de serviços públicos que atendam às necessidades do povo. E isto só é possível se caminharem ao lado da ciência, do compromisso ético-político, da valorização dos trabalhadores e contarem com investimento, porque não se faz política pública sem dinheiro.
Quando falamos em saúde mental é necessário levar em conta que as subjetividades são impactadas diretamente pela sociedade na qual vivemos. Quando reproduzimos no indivíduo o seu adoecimento psíquico, estamos escamoteando as verdadeiras questões que o provocam, questões que estão além de nós, que se produzem e se reproduzem na vida em sociedade. A exclusão, a desigualdade social, as relações de trabalho desumanizadas, as diversas formas de violência, o racismo, o machismo, a homofobia, a fome são fatores adoecedores e que não se curam com meditação, psicoterapia ou com remédio. Precisamos ir além e não desistir da construção de um mundo em que todas e todos possam ter uma vida digna, livre e humanizada que promova a saúde mental. Para isso é essencial, como muito bem colocou a psiquiatra Nise da Silveira “se espantar, se indignar e se contagiar, só assim será possível mudar a realidade”.
* Antiella Carrijo Ramos é psicóloga em Santa Cruz do Rio Pardo
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