CULTURA

Poeta é apaixonado por quebra-cabeças

Poeta é apaixonado por quebra-cabeças

Publicado em: 31 de janeiro de 2021 às 18:44
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 13:08

Alex Eduardo Pihata, 38, trabalha em farmácia, mas é nas artes que ele se revela

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Funcionário de várias farmácias durante 16 anos, Alex Eduardo Pinhata, o “Neco Pinhata”, se encontrou com as letras quando cuidava de um idoso em Piraju. O velho gostava de contar histórias lendo livros e Alex deixou-se contaminar pela literatura. Virou poeta, músico, compositor e apaixonado por quebra-cabeças. Isto mesmo, quebra-cabeças, daqueles de milhares de peças que poucos têm paciência para montar. “É minha terapia. É o momento em que me desligo do mundo e começo a pensar poemas e músicas”, conta.

“Neco” é o 11º de uma família com 12 irmãos, alguns muito conhecidos em Santa Cruz do Rio Pardo nos ramos de chaveiro e lanchonete. Ele estudou nas escolas “Sinharinha Camarinha” e “Arnaldo Moraes Ribeiro” e cursou o ensino médio em Piraju, onde permaneceu por 12 anos. Há seis, voltou para Santa Cruz do Rio Pardo e trabalha em farmácia.

O quebra-cabeça entrou na vida de Alex há aproximadamente quatro anos. Como mora sozinho, ele procurava algum passatempo para se distrair durante os momentos de folga. “Eu precisava de alguma coisa para me envolver. Iria ocupar a cabeça e, ao mesmo tempo, praticar uma terapia. Além disso, sabemos que este passatempo desenvolve o cérebro”, contou.

De cara, Alex começou com um quebra-cabeça de 500 peças. Em seguida, comprou um de 1.000 e logo estava com um jogo de 3.000 peças. E a paixão logo tomou conta de “Neco”.

O espelho que Alex quebrou para depois montar os cacos como quebra-cabeça



Assim, ele começou a montar quebra-cabeças de 5.000 peças. Como se dedica ao jogo apenas nas horas vagas, Alex diz que demora de três a quatro meses para “fechar” a imagem. Às vezes, ajuda as pessoas. “Uma cliente da farmácia ficou sabendo do meu hobby e me pediu para montar um quebra-cabeça de 500 peças, com a imagem da Santa Ceia. Ela contou que ganhou do marido há mais de dez anos e não conseguia montar. Eu achei que ia demorar mais, mas fiz em uma semana. Depois, impermeabilizei e deixei a imagem pronta para ser emoldurada”, disse.

Na casa de Alex, no bairro Residencial Paraíso, há vários enfeites feitos com quebra-cabeças ou mesmo com este tema. Na sala, está um enorme mosaico de um quadro do artista plástico Romero Brito, montado com 5.000 peças de um quebra-cabeça. Numa das paredes, há pequenos quadros simetricamente perfilados com fotos de quebra-cabeças. “São alguns que eu montei. Fiz fotos e colei em alguns azulejos. Ficou bom”, afirmou.

Em outro canto, há outro enfeite que chama a atenção: várias unidades de “descansa-copos” estão amarradas uns aos outros e pendurados. A imagem em cada um deles é uma réplica do quebra-cabeça de Romero Britto.

Alex diz que gosta de ressaltar os detalhes de sua moradia com pequenas e grandes peças de arte. “Na verdade, a casa reflete o que a gente é. Ao menos eu penso assim”, diz.

Pequenos quadros na parede são, na verdade, fotos de quebra-cabeças



Com o tempo, Alex desenvolveu uma técnica para os quebra-cabeças. Primeiro, ele separa as peças por cores para facilitar a montagem, diferenciando as posições das peças. “Depois eu procuro separar todas as bordas da imagem. É por elas que eu começo o trabalho, pois se você conseguir fazer os cantos, o meio fica mais fácil”, explicou.

O mosaico de Romero Britto, montado com 5.000 peças, possui 1,3 por 0,97 metro. Mas Alex se prepara para adquirir um quebra-cabeça com 8.000 peças. “É meu sonho de consumo, além de um desafio”, afirmou. Os jogos são comprados através da internet.

Quando está montando um quebra-cabeça, Alex diz que a concentração é tanta que ele consegue se “desligar” do mundo. “É impressionante, mas eu não escuto mais nada. Podem até bater na minha porta”, brinca. “Eu costumo estipular uma meta. Por exemplo, se tenho meia hora sobrando, é este o tempo que vou me dedicar exclusivamente à montagem”.

Ele garante que a dedicação ao quebra-cabeça mudou sua personalidade. “Isto mexe muito com o sistema emocional. Eu, por exemplo, encontrei uma paz que nunca havia sentido. Também aprendi a ter mais paciência e tolerância”, garante.

O mosaico de Romero Britto que ornamenta a sala teve uma curiosidade: um problema com a última peça. Como há áreas em branco, a peça que sobrou não se encaixava no espaço correspondente. “Eu precisei tirar todas as brancas, que são muito parecidas, até encontrar o erro”, explicou.

No quarto de Alex, há um enorme espelho que indica ter sido quebrado. É que o objeto se transformou num quebra-cabeça. “Eu comprei um espelho exatamente para ser quebrado. Mede 1,20 metro por 0,60. Foi levantar com a ajuda de um amigo e deixar cair no chão. Depois, fui montando peça por peça e virou um mosaico”, contou.

O trabalho durou dois meses. Já pronto, Alex passou um produto que “colou” o quebra-cabeça pitoresco. Somente depois é que um amigo da “Casa dos Vidros”, onde Alex havia comprado o espelho, avisou que a loja possui milhares de retalhos que poderiam ser doados sem custo algum. “Eu nem me lembrei de perguntar”, disse, rindo.

O interessante é que Alex consegue se inspirar para escrever poemas ou compor músicas durante as montagens de quebra-cabeças. “Minha tática é deixar o celular gravando. Às vezes sai uma composição ou um texto e não há risco de esquecer”, contou.

Outra fonte de inspiração é o trabalho na farmácia. Ele diz que as pessoas, especialmente mulheres, costumam se abrir muito, desabafando suas frustrações, casos de amor e desilusões. “Quem trabalha em farmácia acaba virando quase um psicólogo. Isto acontecia com frequência em Piraju, quando as pessoas contavam coisas sem que eu perguntasse. Elas revelaram sonhos e me inspiraram muito”, lembrou.

Na verdade, Alex se voltou para a literatura e artes quando ainda morava em Piraju e cuidava de um idoso durante à noite. “Era Hélio Magdalena, que já faleceu. Ele costumava me chamar para ler histórias de livros para mim. Foi aí que eu comecei a gostar da leitura, das palavras e conhecer o mundo da literatura. Para os textos e poemas, foi um passo”, disse.

Recentemente, Alex Pinhata foi um dos contemplados no município em projetos da “Lei Aldir Blanc”, na categoria poesia. Animado, ele já planeja participar de outro projeto municipal sobre “Antologia da Cidade”, para escrever um texto sobre a infância na cidade em que nasceu. Além disso, aos domingos, a partir das 20h, Alex declama poemas de sua autoria na rádio Difusora, no programa de Cássio Veloso.

“Neco” disse que nunca se enveredou para as artes plásticas, como pintar um quadro. Mas, considerando sua enorme criatividade, deve ser questão de tempo.

* Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 24 de janeiro de 2021


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