CULTURA

Avião será atração de complexo de lazer turístico em Bernardino de Campos

Avião será atração de complexo de lazer turístico em Bernardino de Campos

Publicado em: 04 de fevereiro de 2021 às 16:57
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 14:56

Imponente Boeing 737-200 será o centro de um completo de lazer que será construído na entrada de Bernardino de Campos

Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Um Boeing caiu em Bernardino de Campos há menos de duas semanas. E caiu para ficar, pois é fruto de um planejamento que já dura dois anos. Claro que não foi um acidente, mas um avião verdadeiro, comprado num leilão, que está sendo montado para ser o restaurante de um futuro hotel, que terá um centro de eventos e até cursos para aviação. É uma atração que, embora ainda esteja longe de ser inaugurada, já levou centenas de curiosos ao local onde, desde a semana passada, o avião está sendo montado.

O dono da aventura é o comandante Norio Alberto Pinheiro Shioga, um dos sócios da “Cheiro Verde Ambiental” e piloto comercial há décadas, cruzando os céus do Brasil e do exterior há pelo menos 33 anos. Com a ajuda de seu colaborador na empresa ambiental, Vilson Bartoli, o sonho do comandante começou há aproximadamente dois anos.

O transporte do "charuto" foi feito por uma carreta; em outra, vieram asas e motores



Houve uma série de obstáculos pela frente, mas finalmente o Boeing foi adquirido no final do ano passado e “pousou” em Bernardino de Campos há menos de duas semanas. Foram fretadas duas carretas especiais para transportar o avião parcialmente desmontado. O único problema aconteceu no pedágio da rodovia Orlando Quagliato, em Santa Cruz do Rio Pardo, onde há uma ponte interditada pela Cart desde o ano passado.

O comandante Shioga é apaixonado pela aviação e acumula 20.000 horas de voo, das quais 17.000 somente nos modelos da Boeing. Ele já voou na Vasp, Transbrasil, Líder e outras companhias aéreas e é considerado um dos mais experientes na aviação brasileira.

O avião está sendo montado por mecânicos especializados (Foto: André Fleury)



Seu plano é arrojado e prevê a construção de um hotel e um centro de eventos na entrada de Bernardino de Campos, ao lado do cruzamento das rodovias vicinais Santa Cruz-Bernardino e Ipaussu-Bernardino. O avião será parte do complexo e deverá se transformar no restaurante do hotel, além de proporcionar voos virtuais.

Este tipo de entretenimento virou febre mundial durante a pandemia. No Japão, por exemplo, uma empresa oferece um “voo” completo sem sair do chão. Neste caso, o passageiro tem a sensação exata de embarcar num avião, é atendido por aeromoças e ainda se alimenta como se estivesse num voo normal.

O setor hidráulico de comando da aeronave está em perfeitas condições (Foto: André Fleury)



No Brasil, há um projeto semelhante sendo elaborado em Brasília, chamado de “PanAm Experience”, que deve começar a funcionar neste ano com uma antiga aeronave Fokker-100. Neste caso, o Boeing do comandante Shioga será o pioneiro em cidades do interior a oferecer este tipo de aventura.

Nascido em Ipaussu, Shioga se apaixonou pela aviação desde que voou pela primeira vez, num avião da indústria “Tatuzinho”, antiga proprietária da destilaria do município. “Eu me formei na Etel de Ipaussu e fui trabalhar na Transbrasil. Mas montei a empresa de tratamento do lixo hospitalar em Bernardino de Campos e foi a cidade que me estendeu a mão”, contou Norio.

Experiente e realizado, Shioga sempre sonhou em ser dono de um Boeing 737-200. O modelo foi considerado o “Fusca” da aviação durante muitos anos, até ser descontinuado pela empresa norte-americana em 1988. Hoje, calcula-se que ainda há 60 deles em atividade no mundo.

Aeronave voou em várias companhias, mas a última foi a Rico, do Amazonas



O projeto do comandante é um voo virtual realístico. “Você vai fazer o check-in, ser recebido por uma aeromoça e vai escolher um voo para alguns destinos. Planejamos, por exemplo, oferecer voo de São Paulo a Roma, assistindo a decolagem, se alimentando com comida típica italiana e pousando na Europa. Além disso, o passageiro vai receber óculos de realidade virtual para fazer um tour em Roma”, contou.

Shioga também já está em contato com escolas de aviação para treinar comissários em situações de emergência.

Existe ainda a possibilidade de uma parceria com empresas aéreas de grande porte para implantar um treinamento psicológico para pessoas que têm medo de voar.

Mecânico trabalha na montagem do Boeing (Foto: André Fleury)



A ideia é implantar este sistema no setor próximo da cabine de comando. “Claro que ainda há espaço para mesas do restaurante, mas o objetivo real do avião é este que eu expliquei”, afirmou. A aeronave está sendo restaurada e vai receber uma pintura original da Boeing.

O avião, segundo o comandante, é apenas parte de um complexo que inclui um hotel, quadra de tênis, campo de futebol sintético e até uma piscina temática, com um pequeno avião simulando uma decolagem a partir da água. “Tudo isto será a aposentadoria do comandante”, diz o amigo Vilson Bartoli.




O mesmo avião em operação na antiga Varig (foto: site Aeroin)



Avião comprado em leilão é

o Boeing pioneiro da ‘Varig’

A aeronave modelo 737-200 prefixo PP-VME, adquirido pelo comandante Norio Shioga, tem história. Foi o primeiro Boeing do modelo adquirido pela antiga Varig, empresa gaúcha que teve a falência decretada em 2010. Fundada em 1927, a Varig foi uma das grandes empresas aéreas brasileiras e operava voos internos e até internacionais. O avião pioneiro foi fabricado e entregue à Varig em 1974.

Nos anos 1980, o modelo 737-200 ficou conhecido como “Breguinha”, apelido dado por causa da novela “Brega e Chique”, da Rede Globo. Claro que a aeronave não tinha nada de “brega” ou “cafona”, mas o sucessor, o modelo 737-300, foi apelidado pela comunidade aeronáutica como “chique”. Como a novela estava no ar, restou ao antecessor o outro adjetivo da trama de Cassiano Gabus Mendes.

O “braço direito” do comandante Norio, Vilson Bartoli conta que adquirir um Boeing não foi fácil



Colaborador da “Cheiro Verde Ambiental” de Bernardino de Campos e amigo do comandante Shioga, Vilson Bartoli foi a peça crucial na realização do projeto. Devido ao intenso trabalho como piloto de uma grande empresa aérea, Norio incumbiu Vilson de adquirir o jato.

E não foi fácil, pois demorou dois anos. Bartoli conta que chegou a comprar um Boeing que pertenceu à Avianca. “É um processo muito burocrático. Geralmente estas aeronaves abandonadas em aeroportos são frutos de falências e outros problemas. Neste caso, há ordens judiciais e um trâmite desgastante para conseguir comprar”, explicou.

O transporte, segundo Vilson, é outro problema. Foram utilizadas duas carretas e o “charuto” — a parte central do avião — chegou na quarta-feira, 20. Outra, transportando as asas e os motores, veio no dia seguinte. Como é transporte pesado, é preciso autorização do Dnit — Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.

Técnicos em manutenção de avião trabalham duro para montar o Boeing 737-200



O avião foi adquirido em leilão feito pela Infraero e os recursos servirão para o pagamento das taxas aeroportuárias, já que a aeronave estava estacionada há mais de dez anos no aeroporto de São José dos Campos. Apesar da pintura externa ter sido judiada pelo tempo, o interior do Boeing está em bom estado, inclusive poltronas e cabine de comando. “Está intacto”, disse Vilson.

Antes, Bartoli chegou a comprar uma aeronave da antiga TAF, cuja posse pertencia ao Banco Safra. Foi pago um sinal, mas um empresário “atravessou” o negócio e ofereceu um valor maior. O sinal foi devolvido, mas gerou um processo na Justiça, pois Vilson não se conformou com o negócio desfeito.

Ele disse que o empreendimento deve ficar pronto em três anos. “Mas a quantidade de pessoas que vieram ver o avião é impressionante. Isto já é muito gratificante, pois a maioria são pessoas humildes que nunca viram uma aeronave de perto”, disse.

Norio Shioga contratou uma equipe de mecânicos especializados em aviação para desmontar o Boeing em São José dos Campos e montá-lo novamente em Bernardino de Campos. Eles trabalham há alguns dias no grande espaço ao lado da “Cheiro Verde Ambiental”.

Um dos mecânicos é José Raimundo Rosa Santos, 57, que trabalha há 28 anos na manutenção de aviões. Ele já foi mecânico da Vasp durante 16 anos e prestou serviços para uma empresa que dava assistência à FAB — Força Aérea Brasileira.

O mecânico Raimundo já levou alguns sustos na aviação



Raimundo conta que o Boeing de Bernardino é a 11ª aeronave montada por sua equipe em locais longe de aeroportos. Na aviação, ele diz que a mecânica de manutenção é um trabalho crucial para a segurança dos voos. “Além disso, é uma forma de preservar a memória da aviação, principalmente os aviões da antiga Vasp”, disse.

O modelo 737-200, comprado pela Varig em 1974, já voou pela Vasp e, no fim de sua carreira, era da Rico Linhas Aéreas, do Amazonas. Raimundo disse que veio da Bahia em busca de emprego e se encontrou com a aviação brasileira. Começou lavando peças, mas fez cursos e virou um mecânico experiente. Operou em modelos da Boeing e Airbus.

Ele conta que a equipe da mecânica obrigatoriamente fez voos de experiência, de no máximo duas horas, após uma manutenção. Certa vez, ele estava num Boeing que começou a perder atitude. “O problema era no manete e houve um certo desespero, pois o motor perdeu potência. Enquanto todo mundo discutia uma solução, um dos mecânicos entrou na cabine e deu um tranco no manete. A potência voltou, mas teve gente que precisou trocar de calça ao desembarcar”, lembrou.



  • Publicado na edição impressa de 31 de janeiro de 2021


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