CULTURA

A força japonesa

A força japonesa

Publicado em: 15 de junho de 2018 às 17:40
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 07:16

Há 110 anos, começava a imigração japonesa,

que desenvolveu a agricultura e criou raízes familiares

O navio pioneiro Kasato Maru, que trouxe os primeiros imigrantes em 1908



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

A imigração japonesa completa 110 anos no próximo dia 18, data em que, no ano de 1908, o navio “Kasato Maru” desembarcou no porto de Santos trazendo as primeiras 165 famílias — 781 japoneses no total — para trabalhar nos cafezais paulistas. No entanto, a chegada dos japoneses continuou durante décadas e estima-se que quase um milhão de trabalhadores nipônicos chegaram ao Brasil até os anos 1970. Em Santa Cruz do Rio Pardo, a presença japonesa ajudou a desenvolver a agricultura, indústria e formou famílias.

Ainda existem genuínos imigrantes japoneses em Santa Cruz. É o caso de Mário Kato, 90, nascido em Fujiyama, no Japão, que chegou ao Brasil em 1932, com apenas quatro anos de idade. Na verdade, ele se chama Akio, mas todo japonês ganhava um nome de “batismo” quando atravessava o Atlântico. A família desembarcou em Santos e seguiu imediatamente para Mococa, para trabalhar na agricultura.

Casamento de Mário com Cecília



Kato tem vagas lembranças da chegada. “De Santos nós chegamos na Estação da Luz, em São Paulo. Como estávamos no outro lado do mundo, eu, ainda criança, descobri que ninguém ficava de ponta cabeça”, diz, rindo.

O acordo entre os dois países previa que os imigrantes deveriam trabalhar no mínimo dois anos para pagar as despesas da viagem. “Meus pais cumpriram rigorosamente este período, trabalhando de sol a sol. Mas teve família que fugiu porque não suportava o ritmo de trabalho”, lembra.

Findo os dois anos, a família veio direto para Santa Cruz do Rio Pardo. Seguiu depois para a região de Sorocaba, onde plantou café entre pedras, mas voltou algum tempo depois. E para ficar. Foi aqui, na escola, que Akio ganhou o nome “Mário”, sugerido por uma professora. Nesta época, a família Kato já trabalhava na cultura de algodão. “Eu me lembro que não existia asfalto na cidade”, diz.

Mário Kato foi campeão pela equipe de beisebol de Santa Cruz do Rio Pardo



Dificuldades

TRABALHO — Kato já foi de tudo, de industrial a comerciante em S. Cruz



A imigração, porém, teve seus contratempos. A discriminação era enorme e aumentou com a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, na Assembleia Nacional Constituinte, a seguinte lei chegou a ser discutida pelos deputados: “É proibida a entrada no país de imigrantes japoneses de qualquer idade e de qualquer procedência”.

Em Santa Cruz, vários japoneses foram investigados durante a Segunda Guerra. “Eram tempos difíceis”, confirma Mário. Segundo ele, o pai morreu novo, aos 44 anos, de tanto beber. “Os japoneses bebiam para tentar esquecer a vida dura. Bebiam muita pinga. Na safra, ficavam um mês bebendo e. com isso, viviam no máximo 50 anos”, conta. Mário nem bebeu e nem fumou, talvez traumatizado com o destino do pai. Por isso, está firme e forte aos 90 anos.

Mário e Cecília formaram família em Santa Cruz



Os japoneses também enfrentavam a saudade dos familiares que ficaram no Japão. O contato era por carta, que demorava meses para chegar. Aos poucos, muitos perderam o contato com os descendentes no Japão. Outra dificuldade foi se adaptar à culinária brasileira. “Nos tempos do trem, ainda chegava peixe do mar. Hoje, só tem peixe de rio”, diz Kato, lembrando que a iguaria sempre foi obrigatória no Japão.

Mário conheceu sua mulher, Cecília — na verdade, Mitue, uma brasileira — no povoado de São Sebastião, nas proximidades do distrito de Caporanga. O casal teve quatro filhos e, da lavoura, resolveu se arriscar em outras atividades. Kato foi um dos pioneiros no ramo de beneficiamento de arroz, antes de se estabelecer definitivamente no comércio.

O imigrante ainda trabalhou oito anos numa quitanda de propriedade de Paulo Nagata, mas depois comprou o estabelecimento que funcionou até 1984 na esquina da Regente Feijó com a rua Euclides da Cunha. Naquele ano, foi vendido para a instalação da primeira unidade do supermercado Alvorada.

Reunião de famílias japonesas nos anos 1960, provavelmente de jogadores de tênis de mesa de Santa Cruz






Sonho virou pesadelo no Brasil

Quando o Kasato Maru aportou em Santos, em 1908, trouxe não apenas 781 imigrantes, mas os sonhos de fugir da crise no Japão e viver num País onde, segundo a farta propaganda da época, o dinheiro era fácil. Entretanto, a realidade era completamente outra. A maioria sonhava em voltar ao Japão com riquezas, mas nunca mais sequer viu os parentes.

"Hotel Familiar", dirigido por família japonesa no início do século passado em Santa Cruz



Em Santa Cruz, a imigração teve seus primeiros habitantes nos anos 1920, muitos dos quais viajantes do Karato Maru. Vieram de outras cidades paulistas para trabalhar nas lavouras do café, algodão e alfafa. Em 1924, segundo pesquisas do historiador Celso Prado, já há notícias de japoneses se estabelecendo com seus próprios negócios, como a família Yoshisaki, proprietária do “Hotel Familiar”.

Em 1926, existiam colônias japonesas na cidade, conforme relatos policiais. Naquele ano, por exemplo, a Delegacia de Polícia registrou queixa do fiscal da fazenda São Domingos sobre a fuga de duas famílias de imigrantes, segundo publicação do jornal A Cidade. “Os colonos japoneses Satoyoski Gen e Mitrucki Okada, acompanhados de suas famílias, fugiram da mesma fazenda, onde tinham apreciável débito, furtando ainda a patricios cobertores e miudezas várias. Ao que consta, os fugitivos tomaram rumo de Espirito Santo ou de Chavantes, onde têm parentes”.

Apesar das dificuldades, os imigrantes, enfim, ganharam o respeito da sociedade e se estabeleceram em famílias numerosas, criando empresas, lojas e indústrias que ajudaram no desenvolvimento de Santa Cruz do Rio Pardo.

* Colaborou Toko Degaspari
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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