CULTURA

A história de um casarão de 80 anos - 1

A história de um casarão de 80 anos - 1

Publicado em: 07 de abril de 2019 às 15:22
Atualizado em: 05 de abril de 2022 às 21:45

‘Palacete Lorenzetti’ foi construído no final da década de

1930 e marcou a época áurea da cafeicultura na cidade

 

 

Escada interna: design marcante da década de 1920

 


Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

A construção sempre exerceu um fascínio sobre a população de Santa Cruz do Rio Pardo, além de ser o símbolo do auge da cafeicultura na cidade. Conhecido como “Palacete Lorenzetti”, o prédio que fica na esquina das ruas Catarina Umezu e Benjamim Constant está prestes a completar 80 anos. Inspirado nos antigos casarões da avenida Paulista e de Santos, no litoral de São Paulo, ele foi construído pelo imigrante italiano Enrico Plácido Lorenzetti, um dos homens mais ricos da região na década de 1930. Hoje, está sendo restaurado aos poucos.

Plácido chegou de Genova, no navio “vapor Regina Helena”, desembarcando em 1915 com a mulher Ema Mezzanotti. Trabalhou na fazenda de José Rosso e na torrefação de café, quando conheceu um inglês que ajudou-o a comprar uma máquina de beneficiar algodão. Fez fortuna e pagou o empréstimo em pouco tempo.

A lembrança popular é que o casarão — cuja área total é de 1.410 metros quadrados — abrigou, durante alguns anos, a “Casa do Papai Noel”, quando a prefeitura alugou o prédio para sediar a secretaria de Cultura, inclusive instalando uma escola de música no porão. Mais recentemente, foi o escritório da empresa que promove, com dinheiro público, a festa de peão de Santa Cruz do Rio Pardo.

 

 

 

 

Marceneiro João Maximiano mostra porta de 80 anos recuperada

 


Mas nos anos 1940, o palacete foi o símbolo de uma família de descendentes italianos, cujo patriarca, Plácido Lorenzetti, era um exímio marceneiro. Antes de chegar ao Brasil, por exemplo, o imigrante trabalhou em algumas reformas do famoso Teatro Scala de Milão, construído no século XVII.

Mas ele também prestava serviços para amigos. Plácido instalou todo o madeiramento da sede da fazenda Jamaica, quando a propriedade ainda era da família Cunha Bueno. Na construção do palacete, ele supervisionou pessoalmente todo o serviço de marcenaria. Talvez por isso, 80 anos depois da construção da casa, pouca coisa do madeiramento se perdeu.

A fortuna de Plácido foi uma das maiores da cidade. Dono do quarteirão inteiro, ele doou uma área para a construção do antigo Colégio Companhia de Maria. Anos antes, já havia sido doador de um avião para o aeroclube de Santa Cruz.

Plácido Lorenzetti não morou muito tempo no palacete, já que logo mudou-se para São Paulo, quando comprou outro casarão na avenida Paulista. Morreu na capital e, anos depois, seus restos foram transladados pela família para o cemitério de Santa Cruz.

 

 

 

 

INICIAIS — Plácido mostra porta com as iniciais do avô em ferro

 

 

 

 

Tetos têm desenhos em cimento

 


Restauração

O oficial de Justiça Plácido Lorenzetti, neto de Enrico e filho de Hercílio Lorenzetti, é o atual proprietário do palacete. Ele começou a restaurar o prédio justamente para marcar os 80 anos da construção. Plácido, na verdade, nunca morou no casarão, uma vez que ele serviu de residência para o tio, Ezio Lorenzetti, durante pelo menos meio século. “Mas eu brincava muito na minha infância naquela casa. Tenho boas lembranças”, conta.

Ele acredita que criou-se, ao longo dos anos, muita fantasia sobre o imóvel. “Os azulejos dos banheiros e da cozinha, por exemplo, que foram trocados, eram simples”, conta. No entanto, talvez este tipo de material fosse raro em 1939.

O que Plácido sabe, porém, é que a obra foi executada por profissionais da cidade, cujos nomes se perderam ao longo dos anos. Eram artistas, na verdade, já que cada cômodo ganhou desenhos diferentes nas paredes, que de longe parecem papéis de decoração. Além disso, há ornamentos semelhantes a gesso, mas que na verdade foram feitos com cimento. São verdadeiras obras de arte.

O proprietário diz que não será feita a restauração completa do imóvel por enquanto, já que isto custaria muito dinheiro. Mas o telhado foi inteiramente trocado, já que choveu no interior da casa muitos anos, e as portas — a maioria originais — estão sendo recuperadas. Os banheiros foram modernizados, com a retirada de antigas banheiras.

Plácido não tem planos de morar no palacete. “É muito grande para a minha família”, disse. A ideia é alugá-lo novamente, mas não imagina qual seria a melhor opção para seu uso. “Pensei em algum projeto cultural ou uma loja. Também acho que poderia ser usado para um novo restaurante, já que seria um local diferenciado, inclusive com terraço”, avaliou.

 

 

 

 

Estilo arquitetônico deu belas formas ao Palacete Lorenzetti

 


Atração

O marceneiro João Maximiano, que está trabalhando na obra de reforma do palacete, confirma que as portas são originais. “O problema é que os inquilinos não providenciaram reparos e choveu na casa durante muitos anos. Mesmo assim, as portas e batentes praticamente ficaram intactas. Só perdi duas delas, uma da cozinha e outra por vândalos que tentaram invadir a casa quando estava vazia”, explicou. No entanto, todas estão sendo recuperadas.

João disse que as características do palacete impressionam. “Eu convidei até pintores para mostrar as paredes e ninguém imagina como o artista conseguiu pintar tudo manualmente. É mesmo uma obra de arte”, disse. O corrimão da escada que dá acesso ao andar superior também está intacto, assim como as ferragens. O assoalho das salas principais, de madeira, também serão mantidos e restaurados.

João também se encantou, além da arquitetura, com o estilo italiano da separação dos quartos. “O das meninas, por exemplo, só tinha acesso pelo quarto dos pais. Acho que era uma maneira de vigiar as filhas”, arriscou.

 

 

 

 

ESPAÇO — Casa tem amplo porão, onde funcionou uma escola de música

 


* Colaborou Toko Degaspari

 

 

 

 


 

 

 

 




     
  • Publicado na edição impressa de 31/03/2019

    (LEIA MAIS AQUI SOBRE O ATOR HERCÍLIO LORENZETTI)



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