O soldado Edson de Lima Brochado com o uniforme da FEB
Publicado em: 31 de dezembro de 2021 às 00:43
Sérgio Fleury Moraes
Pesquisas de historiadores indicavam que pelo menos dos dois soldados expedicionários homenageados em Santa Cruz do Rio Pardo não seriam da cidade. De fato, não há registros sobre José Bernardino de Camargo, cujo nome consta numa placa em Chavantes que lembra os combatentes na Segunda Guerra Mundial por aquele município.
No entanto, não é o caso de Edson de Lima Brochado, que seria o segundo “estranho” para Santa Cruz do Rio Pardo. Na semana passada, surgiram documentos que comprovam o fato de Edson ter sido convocado quando morava na cidade. Além disso, o sobrinho do herói expedicionário, Flávio Caboclo, enviou ao jornal fotos do tio-avô, algumas em Santa Cruz.
Edson ‘sumiu’ da história porque deixou a cidade logo após o fim da Segunda Guerra. Além disso, o nome do soldado na placa que homenageia os “pracinhas”, instalada em 1968 pelo então prefeito Carlos Queiroz, está errado — consta como Edson “Dias” Brochado. O equívoco prejudicou as investigações históricas.
O jornalista e cinegrafista Flávio Caboclo, que mora atualmente em Santos, é sobrinho-neto de Edson de Lima Brochado por parte de mãe. Defensor da memória dos heróis expedicionários, ele entrou em contato com o jornal e enviou documentos sobre o tio-avô.
Funcionário público durante quase toda a vida, Edson nasceu em Paraguaçu Paulista em dezembro de 1923, na época em que a cidade se chamava Conceição do Monte Alegre. Porém, grande parte da família já estava em Santa Cruz do Rio Pardo. Muitos parentes eram professores da rede pública.
E o jovem também veio para Santa Cruz e se tornou representante do jornal “Diário de São Paulo” na cidade. Ele costumava fazer anúncios nas edições de “A Cidade”, um semanário santa-cruzense dos anos 1940, convidando a população a assinar o jornal de Assis Chateaubriand. Um dos anúncios dizia que o “Diário” era “o único jornal de São Paulo que publica um suplemento feminino dominical em cores”.
Quando tinha apenas 20 anos, Edson Brochado foi convocado para integrar a Força Expedicionária Brasileira que iria lutar contra o nazifascismo nos campos italianos.
O jovem deixou a representação do jornal paulistano sob responsabilidade do irmão Francisco Brochado e em 2 de julho de 1944 embarcou no navio “General Man” rumo à Itália, sob comando dos generais Mascarenhas de Moraes e Zenóbio.
Edson fez parte do 6º Regimento de Infantaria “Ypiranga”, oriundo de Caçapava-SP, que foi o único batalhão que participou integralmente da campanha da FEB na Itália.
Para se ter uma ideia, o regimento desembarcou em terras italianas no dia 16 de julho de 1944, com os soldados indo direto para o campo de operações.
Como expedicionário, Edson participou ativamente das batalhas de Monte Prano, Zocca, Camaiore, Montese, Colechio e da rendição da 148ª Divisão de Infantaria Alemã, em Fornovo di Taro. Ganhou várias medalhas por heroísmo.
Em 18 de julho de 1945, Edson de Lima Brochado desembarcou no Brasil e seguiu de trem até Santa Cruz do Rio Pardo, na companhia dos colegas da cidade que também combateram o nazifascismo.
Parte do grupo foi recebido na estação ferroviária da Sorocabana por autoridades, entre eles o médico Pedro César Sampaio e Renato Marques, na época o gerente do cinema. Foi, então, que uma caminhada cívica pelas ruas simbolizou a “entrega simbólica” dos soldados aos seus pais. Em cada residência, discursos inflamados de Pedro César Sampaio e Renato Marques homenagearam os heróis santa-cruzenses da FEB.
Dois anos depois, Edson de Lima Brochado trocou Santa Cruz pela cidade de Presidente Venceslau, onde em 1953 casou-se com Doracy Laureano — ainda viva, hoje com 93 anos.
O herói expedicionário também morou em outras cidades e morreu prematuramente aos 60 anos, em Itapira-SP, no ano de 1983. No serviço público, foi exator (cobrador de impostos), auxiliar e extranumerário mensalista.
O nome de Edson de Lima Brochado está imortalizado, mesmo com a grafia errada, na placa instalada em 1968 num monumento da praça José Eugênio Ferreira, que ficou conhecida como “Expedicionários”. Além dele, o monumento homenageia os demais soldados de Santa Cruz que fizeram parte das forças brasileiras na Itália: Antônio Vidor, Antônio Inácio da Silva, Biécio de Britto, José Bernardino de Camargo — que seria, na verdade, de Chavantes —, Oswaldo Carqueijeiro, Salatiel Dias e Valdomiro Elizeu do Nascimento.
Inaugurada em 20 de janeiro de 1968 pelo ex-prefeito Carlos Queiroz, no 98º aniversário de Santa Cruz do Rio Pardo, a placa termina com uma frase após os nomes dos heróis expedicionários: “A todos eles, o nosso tributo eterno de amor e gratidão”.
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