CULTURA

A história do casarão e do chefe da Estação da Sorocabana

A história do casarão e do chefe da Estação da Sorocabana

Publicado em: 24 de abril de 2020 às 14:08
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 15:11

Edmundo Gonçalves de Lima foi o

último chefe da estação de trem


Viúva diz que filhos cresceram no

velho casarão e que tem saudades


Foto de Edmundo dentro do casarão



Sérgio Fleury Moraes

Da Reportagem Local

Edmundo Gonçalves de Lima provavelmente escutou um último apito de trem em dezembro de 2017. Tinha 93 anos quando deu seu derradeiro suspiro. Não teve, ainda, uma homenagem à altura de sua trajetória, pois ele foi o último chefe da estação de trem de Santa Cruz do Rio Pardo. Morou durante muitos anos no antigo casarão ao lado do “Museu Ernesto Bertoldi”, que era o imóvel oficial do chefe da estação ferroviária. O prédio, hoje totalmente em ruínas, ainda pode ser recuperado pela atual administração.

A viúva, Ana Lúcia do Carmo Gonçalves de Lima, enfermeira e professora aposentada, ainda se lembra com saudades do velho casarão onde ela e Edmundo criaram sete filhos. Prestes a completar 74 anos, ela conta que o marido tentou, inclusive, comprar o casarão da prefeitura, sem sucesso.

Casa do chefe da estação de trem foi construída em 1908



Edmundo, com quem Ana conviveu durante mais de meio século, era um apaixonado pela ferrovia — e pela política. Ele conheceu muitos políticos famosos, como Jânio Quadros, Paulo Maluf e outros. Foi Edmundo, aliás, quem trouxe de volta a Santa Cruz o ex-deputado Israel Zekcer, nos anos 1980. Durante muitos anos, Zekcer fez parcerias com políticos da cidade e conseguiu muitas verbas para a cidade onde morou na infância.

Edmundo adorava Jânio Quadros. “Ele tinha até um emblema da vassourinha, símbolo das campanhas eleitorais dos anos 1950, uma relíquia que se perdeu nas coisas do meu pai. O Jânio, por sinal, era para ser meu padrinho”, conta Domingos do Carmo, um dos filhos do casal e ex-secretário de Esportes de Santa Cruz do Rio Pardo.

LEMBRANÇAS — Edmundo, já aposentado, revê a casa na década de 2000



Ana conheceu Edmundo em São Paulo. “Foi num dos bailes da vida”, lembra. O casal sempre gostou de dançar. Anos depois, já casados, Edmundo foi trabalhar na ferrovia em Piraju, de onde foi transferido para Santa Cruz. A família, então, se acomodou no velho casarão do chefe da estação.

“Era uma casa muito boa, confortável e arejada. E estava em ótima situação”, conta a enfermeira.

Como a família tinha “passe livre” na ferrovia, Ana costumava viajar para São Paulo com um lote de queijos. “Eu tinha os clientes certos. Vendia na estação Júlio Prestes e depois voltava com o dinheiro”, lembra.

Alegrias e tristezas

O casal criou os sete filhos no velho casarão. Uma filha, Luciana — que já faleceu — nasceu no imóvel pelas mãos de uma parteira, já que não houve tempo para levar Ana ao hospital. Os outros filhos são Adriana Maria, Maria Inês, Edmundo, Presciliana, Domingos e João Paulo.

A enfermeira não esconde uma mágoa dos políticos de Santa Cruz. Nos anos 1990, quando o patrimônio da antiga Sorocabana já havia sido transferido para o município, a família começou a receber pressões para deixar a casa. “Uma vez, o prefeito me apresentou um empresário que disse que o casarão seria ótimo para um funcionário dele”, contou.

Talvez por isso, Ana desistiu de tentar uma vaga de vereadora, incentivada pelo ex-ferroviário. Ela até foi candidata, mas conheceu um outro lado da política: seu nome não era pintado em muros e não havia nem cédulas para distribuir aos eleitores. O partido só privilegiava outros candidatos. “Acabei desistindo”, afirmou.

Família de Edmundo (primeiro à direita) em meados do século XX



Ana lembra que a casa tinha algumas características fascinantes. “Eu adorava o fogão a lenha. Tinha banheiro dentro e fora. Era confortável”, diz.

O quintal, então, nem se fala, com uma área enorme e frondosas paineiras. “Tinha gente que pedia autorização para fazer piquenique debaixo da maior árvore”, lembra Domingos do Carmo.

O casal foi proibido até de reformar o imóvel. Anos depois, resolveu abandonar a casa, ainda em ótimas condições de conservação. O resultado foi desastroso. O casarão passou a ser invadido por andarilhos e, aos poucos, foi se deteriorando. “Eu passo por lá e evito até olhar. Dá muita tristeza”, conta Ana.

Hoje, não é nem uma sombra do que representou para a história da ferrovia em Santa Cruz do Rio Pardo.

Leia mais em

Abandonado, casarão tem estrutura

comprometida e até ossada no porão

* Colaborou Toko Degaspari



  • Publicado na edição impressa de 19/04/2020


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