CULTURA

A mulher da Independência

A mulher da Independência

Publicado em: 12 de setembro de 2018 às 22:13
Atualizado em: 30 de março de 2021 às 14:06

Personagem relegada, foi Maria Leopoldina, mulher de D.

Pedro I, quem de fato decretou a independência do Brasil

Diego Singolani

Da Reportagem Local

Em boa parte dos livros de história, ou mesmo durante celebrações e atos cívicos, Dom Pedro I é festejado como o grande herói que libertou o Brasil de Portugal em 1822. A realidade, porém, é outra. Se há uma figura que deva receber os louros por seu papel decisivo na conquista da soberania da nação, é Maria Leopoldina, esposa de Dom Pedro I. Foi ela quem assinou o decreto da independência em 2 de setembro daquele ano, cinco dias antes do famoso “grito” do marido às margens do rio Ipiranga.

Culta, articulada e influente na vida política da corte, Maria Leopoldina havia sido nomeada chefe do conselho de Estado e princesa regente interina do Brasil por Dom Pedro I, em agosto de 1822. Na ocasião, o príncipe teve que partir em viagem para a então província de São Paulo, para apaziguar uma revolta, e delegou plenos poderes à sua mulher. Na ausência do príncipe, Leopoldina recebeu a notícia de que Portugal preparava uma investida contra o Brasil com a intenção de mitigar os movimentos que lutavam pela independência.

"O Grito do Ipiranga", retratado pelo pintor Pedro Américo



A princesa não hesitou e, orientada por seu ministro das Relações Exteriores, José Bonifácio, reuniu o conselho de Estado e assinou o decreto separando o Brasil de Portugal. Dias depois, por carta, Dom Pedro I foi informado do acontecimento, ainda em São Paulo. O célebre brado “independência ou morte!”, segundo alguns historiadores, não teria sido proferido exatamente às margens do riacho, mas sim, do alto de uma colina próxima ao Ipiranga, onde a tropa do príncipe aguardava que o mesmo se aliviasse de um súbito mal-estar intestinal.

De acordo com o pesquisador Gilmar Moreira Gonçalves, a arquiduquesa Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda Beatriz de Habsburgo-Lorena — que posteriormente, no Brasil, adotou os nomes de Leopoldina e Maria Leopoldina — tinha gostos, hábitos e uma educação incomuns, mesmo entre os monarcas. Nascida na Áustria, em de 22 de janeiro de 1797, desde pequena Leopoldina foi submetida a um programa intensivo de aulas diárias, adquirindo conhecimentos científicos, políticos, históricos e artísticos, além de aprender idiomas estrangeiros, especialmente o francês. Interessava-se especialmente por botânica e mineralogia.

No final de 1816, começaram as negociações de seu casamento com o príncipe herdeiro do trono português, que chegou ao Brasil em 1808, aos 9 anos de idade. Em maio de 1817, a união aconteceu por procuração, como era de costume. Em dezembro daquele ano, Leopoldina desembarcou no Brasil.

A diferença de formação entre Leopoldina e Pedro era latente. Ela o excedia muito em educação e cultura. Falava francês e italiano, estudava inglês e aprendia português. Ainda pintava retratos e paisagens e tocava piano com perfeição. Tinha grande inclinação pela natureza e pelas ciências naturais. Já Dom Pedro era mau poeta e mau latinista, segundo consta, mas bom escultor e excelente músico. Em nove anos de casamento, Maria Leopoldina engravidou nove vezes, tendo sete filhos e abortando em duas gestações.

Em 1822, Dom Pedro conheceu sua futura amante Domitila de Castro, que depois receberia o título de Marquesa de Santos. À medida que aumentava a paixão do monarca pela cortesã, crescia na mesma proporção seu desprezo pela imperatriz. Leopoldina passou a sofrer as mais insultantes humilhações. Uma delas foi a nomeação de Domitila para a função de primeira dama da imperatriz, o que a obrigou a conviver sob o mesmo teto com sua rival. Deprimida, angustiada e grávida pela nona vez, Leopoldina acabou abortando e morreu, acamada. Sua morte gerou grande comoção na época, especialmente entre pobres e humildes, sobretudo os negros.




Milena Tarzia diz que luta da mulher deve acontecer no campo político



‘Apagamento’ da mulher é

proposital, diz pesquisadora

Para Milena Tarzia, doutoranda em História Antiga pela Unesp e coordenadora do curso de Direito da faculdade Oapec, em Santa Cruz do Rio Pardo, a abordagem sobre o papel feminino na história tem um caráter objetificante e segregador, associado, via de regra, à fertilidade, ao corpo, à maternidade, ao sexo, ao mistério, vaidade, à passividade e ao irracional. “Estudar a história do feminino é estudar a história do olhar masculino sobre a mulher, quase sempre um olhar misógino”, afirma Milena.

A pesquisadora entende que a força cultural deste olhar excluiu as mulheres do protagonismo na história, além de rebaixá-las socialmente e dificultar o exercício de seus direitos. “O Brasil lidera o ranking mundial de violência contra as mulheres, especialmente contra a mulher pobre, negra, com baixa escolarização. Isso significa dizer que, mesmo depois de inúmeras conquistas sufragistas e das garantias de liberdade, continuam a querer calar nossas vozes, a internalizar estigmas, apagando-nos lenta e propositalmente da História”, declarou Milena.

A superação deste cenário, de acordo com a especialista, deve acontecer através da luta no campo político. “É um problema a ser encarado pela resistência, consciência, debate, enfrentamento e revolta”, afirmou.
SANTA CRUZ DO RIO PARDO

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